Agressividade e impulsividade nos atletas: qual o limite entre o saudável e o disfuncional?

Agressividade e impulsividade nos atletas: qual o limite entre o saudável e o disfuncional?

*No esporte de competição, o confronto físico entre atletas durante uma disputa envolve pessoas dos mais diversos níveis sociais, com os diferentes níveis de aprendizagem, contextos culturais diferentes, etc. Cada um tem uma história, com famílias e com realidades diferentes, das mais humildes até as mais ricas. Diante deste contexto, com tantas diferenças e diante de um meio cultural tão heterogêneo, não poderia deixar de serem também diversificadas as formas ou tipos de reações agressivas no meio desportivo.

Muitas vezes, podemos utilizar o termo agressivo, para ressaltar, a disposição de um atleta (física e psíquica), para alcançar seus objetivos, mesmo quando tudo parece perdido. Aqui temos uma forma de comportamento agressivo em sua forma positiva. No entanto, também podemos classificar a agressividade como negativa, isso acontece quando um atleta investe sua energia e sua carga emocional para atingir seus objetivos, mesmo que tenha que cometer faltas no adversário para atingir suas metas.

Os psicólogos definem a agressão como sendo um comportamento direcionado para machucar o outro, que não está interessado nessa ação. Segundo werimberg & gouid 1999, em sua teoria da frustração destaca as seguintes fases; FRUSTRAÇÃO = FRACASSO AO BLOQUEIO DE METAS – a) Aumento do nível de ativação = a dor e raiva,  – b) Sinais apreendidos socialmente sinalizam a adequação da agressividade.

Assim, se um atleta perde uma competição em que seu rendimento foi fraco, (frustração) em seguida esse sentimento se transforma num aumento de ativação de raiva e dor. Então, a partir desse ponto a raiva e a dor podem ser transformadas em agressão se o atleta tiver absolvido (introjetado) em seu processo de aprendizagem, que é apropriado ser agressivo em certas situações. O fato de observarmos, os motivos pelos quais o atleta passou a agir de forma agressiva, veremos que o seu comportamento depende de fatores relacionados com a situação frustrante, dor raiva e processos de aprendizagem (desde a infância), até a idade atual. Em outras palavras, seu comportamento agressivo depende: de fatores sociais, culturais, pessoais e ambientais.

Freud (1920), enfatiza o comportamento agressivo, como uma função biológica, no sentido da preservação da espécie e do espaço vital, da seleção natural dos mais fortes na formação da hierarquia.

Galber (1987) define: A conduta é denominada de agressiva quando uma pessoa desrespeita as normas sociais e as regras esportivas e agride outra pessoa no sentido de provocar nessa um prejuízo ou dano corporal ou psíquico.

Nós, especialistas, o que vemos dentro da psicologia esportiva, quando os atletas têm esses comportamentos recorrentes de brigas e agressões, na maioria das vezes, eles têm uma característica de personalidade que se chama impulsividade. A impulsividade é um impulso ou tendência a agir, na qual o comportamento apresenta pouco ou nenhum pensamento de reflexão prévia, que leva a comportamentos de risco ou onde o sujeito se arrepende depois. Então, a impulsividade é uma característica muito presente em alguns atletas e que pode se tornar reincidente, caso não seja tratada de maneira adequada. Atletas que repetem este tipo de comportamento apresentam uma tendência à autodestruição e muitas vezes até uma auto-sabotagem das suas próprias carreiras.

Podemos exemplificar alguns tipos de agressividade, a saber: agressividade pelo comportamento hostil, o atleta que apresenta este tipo de comportamento tem por fim intencional prejudicar ou lesionar outra pessoa diretamente. Neste caso, o atleta realiza uma conduta agressiva, como instrumento para alcançar suas metas; existe também a agressividade por uma agressão afetiva, aqui o atleta reage diante de situações de grande carga emocional (estresse emocional). Nesse estágio os processos de controle cognitivos e conscientes, são bloqueados e o individuo reage de forma agressiva, (impulsiva) sem pensar nas consequências prejudiciais do seu comportamento; o atleta também pode apresentar a agressividade por auto agressão que acontece por conta de sensações de culpa e de frustração onde o atleta dirige o comportamento agressivo contra si mesmo, pretendendo lesionar-se o prejudicar-se. E para finalizar temos a agressividade por deslocamento onde o atleta passa a chutar coisas, jogar objetos para o ar,dar pancadas em portas podendo machucar-se gravemente.

Estas características de personalidade (agressividade e impulsividade) precisam ser trabalhadas, o atleta precisa cuidar isso, precisa ter um autoconhecimento. Nós falamos que, em alta performance, o autoconhecimento é fundamental, porque o atleta pode perceber quando está passando do limite, o quanto aquela ansiedade vai prejudicá-lo, se a adrenalina pode estar tomando uma proporção a ponto dele ter uma atitude prejudicial a si mesmo ou a terceiros. É importante o atleta se olhar, se perceber e ir em busca do seu autoconhecimento. Se o atleta não tem autoconhecimento, ele vai seguir repetindo comportamentos disfuncionais.

Muitas vezes o atleta usa o esporte para canalizar uma agressividade que vem lá de trás, da infância, neste caso o esporte entra como um canalizador saudável dessa agressividade, a pessoa consegue ter uma vida equilibrada e funcional. Mas às vezes, só o esporte não é suficiente. Em alguns casos, o atleta precisa recorrer a um psicólogo, fazer uma psicoterapia, ter um Coach Esportivo ou fazer outras atividades para equilibrar o seu nível de energia mental, como Yoga, Meditação, entre outras coisas. Sabemos que os atletas que têm mais dificuldade com essa questão da impulsividade e da agressividade vão precisar ter a mente mais blindada ainda, porque vão ouvir provocações da torcida ou da equipe do adversário, vão ouvir vaias, entre outras coisas que podem desestabilizá-lo emocionalmente. Entretanto, quando o atleta já tem um nível elevado de autoconhecimento e amadurecimento tem mais chances de ter sua mente blindada e lidar bem com tais variáveis, conseguindo focar só na luta, na competição, e ignorar tudo o que está a sua volta. Isso diminui o risco dele ter um comportamento impulsivo e agressivo, por exemplo.

Qualquer comportamento agressivo ou impulsivo que gera um prejuízo ao atleta ou a terceiros ou que se torne recorrente precisa ser cuidado para evitarmos maiores danos. Deste modo, poderemos ter a segurança que a agressividade e a impulsividade no esporte irão manter-se sempre num nível saudável de respeito e competitividade entre os atletas.

E você, atleta, já passou ou acompanhou algo semelhante? Em algum momento chegou perto de perder o controle? Conte-me sua experiência me enviando um e-mail através de ([email protected]) ou um direct no meu Instagram (@renatacarvalho_ coach).

* Renata Carvalho é Psicóloga clínica, e esportiva, Coach Esportiva de alta performance, Consultora da Academia CT Brasil e da CMT.