Após gravidez inesperada e lesões, atleta reconquista vaga na seleção brasileira de base e sonha com as Olimpíadas de 2024

Após gravidez inesperada e lesões, atleta reconquista vaga na seleção brasileira de base e sonha com as Olimpíadas de 2024

* Até onde vai o seu sonho? As dificuldades e privações sempre estarão presentes no dia a dia de um atleta de alto rendimento que visa uma carreira de sucesso, e com Thayná Lemos, isso não é diferente. Mesmo com apenas 18 anos, a carioca já tem histórias de sobra para contar. Lutadora do Instituto Reação, a casca-grossa integra, atualmente, a seleção brasileira de base de Judô, mas para chegar em tal status, precisou superar muitas adversidades.

Thayná iniciou no Judô aos 4 anos, junto com sua irmã gêmea, Thayane, que coincidentemente também integra a seleção brasileira de base. O começo de ambas no esporte foi motivado pelo padrasto, o professor de Judô Leonardo Lima, que contou como foram os primeiros passos das irmãs na modalidade.

“Quando eu conheci a mãe das meninas, a Priscila, elas tinham 1 ano e oito meses de idade. Ela havia se separado do pai delas, o tempo foi passando, eu fui trabalhando e ficamos juntos. Quando elas fizeram 3 anos e meio, eu melhorei minha situação no trabalho e voltei aos treinos. Acabou que eu tive uma oportunidade, na academia onde treinava, de ter uma turma de Judô, e então inseri elas no esporte. Como toda criança, na primeira competição, elas nem entraram para lutar, ficaram agarradas na perna da mãe e choraram o tempo todo (risos). Eu conversei muito com elas e sempre percebi que ambas tinham muito talento e aprendiam muito rápido, apesar da timidez. Elas foram crescendo e conquistando muitos títulos, sempre com um nível muito acima da categoria, até começarem a viajar. A primeira viagem foi em 2012, no Campeonato Brasileiro Regional, e depois daí não parou mais, até chegaram à seleção brasileira de base, onde estão hoje. Fruto de muito trabalho”, relembra, orgulhoso, Leonardo.

No entanto, como citado no início deste texto, dificuldades e surpresas fazem parte da rotina de qualquer atleta. Para Thayná, algumas lesões vieram em momentos de afirmação e crescimento no esporte, e em uma dessas lesões, em 2019, a jovem atleta acabou descobrindo uma gravidez inesperada, já com seis meses de gestação. A lutadora precisou pausar sua carreira e seu filho, Lucca, nasceu saudável, em junho.

“Apesar de gêmeas, elas são muito diferentes, cada uma tem suas características. A Thayná é o tipo de atleta que está pronta para encarar qualquer tipo de desafio. Sempre foi muito determinada, principalmente nas lutas, porque ela tem um estilo muito agressivo e sabe refletir bastante na hora da luta. Durante esse período, descobrimos uma gravidez inesperada dela. Para a gente, foi uma surpresa, porque, apesar de sermos pais, eu e a mãe dela somos muito jovens, a mãe dela tem 37 anos e eu 34. No começo, eu fiquei bastante assustado, até mesmo porque tem muito investimento. A gente sempre investiu bastante, como em qualquer família de atleta no Brasil, nos privamos de muitas coisas para que elas pudessem participar dos eventos nacionais e internacionais, nos endividamos muito, e aí veio esse ‘susto’. Eu fiquei muito impressionado quando ela me disse que não queria desistir, porque eu achava que ela iria abandonar a carreira, mas quando ela me mostrou que estava disposta a retomar tudo, eu dei a maior força”, afirmou.

Thayná não demorou a voltar à sua rotina normal como atleta. Respeitou o período recomendado pelo médico e, assim que recebeu liberação, retornou aos treinos e competições. A volta, como já era de se imaginar, não foi fácil. Mas a pentacampeã carioca, campeã brasileira, sul-americana e pan-americana deu mais uma prova de superação e, recentemente, reconquistou seu lugar na seleção brasileira de base.

“Assim que o filho dela nasceu, ela fez todos os procedimentos, tomou todos os cuidados. Quando deu o tempo certo, o médico liberou e ela começou a fazer as atividades físicas e treinar, até chegar na seletiva nacional, que foi em Fortaleza. Ela sentiu um pouco o ritmo das lutas, mas mostrou muita garra. Na final, ela pegou uma atleta muito boa. Fez uma luta excelente, mas cansou de atacar, a adversária imobilizou ela no solo e, com isso, a Thayná ficou com o vice-campeonato, mas reconquistou sua vaga na seleção brasileira de base. No último final de semana, ela disputou o Torneio de Abertura da FJERJ e conquistou a pontuação para ir ao Campeonato Brasileiro Regional. É uma vida de superação, como todo atleta. Nós fomos crescendo juntos e a gente se motiva bastante. Graças a ela e sua irmã, eu voltei a estudar e me formei em Educação Física, para poder dar um apoio melhor a elas. Nós formamos uma grande parceria”, celebra Leonardo.

Confira a entrevista com Thayná Lemos na íntegra: 

– Início da trajetória no Judô aos 4 anos

Meu início no Judô foi com 4 anos de idade, junto com a minha irmã gêmea. Iniciamos através do meu padrasto, que já praticava a modalidade e sugeriu à minha mãe que colocasse a gente para praticar, e assim fomos crescendo, daí percebermos que através do Judô poderíamos ter grandes conquistas. Atualmente, conhecemos quase todos os estados do Brasil e sete países diferentes. Em relação às dificuldades, as maiores são as lesões pré-competições, os custos para viagens e a falta de apoio do poder público.

– Experiência de lutar ao lado da irmã gêmea

Como sempre estamos juntas nos treinos e competições, compartilhamos experiências e aprendizados e isso é excelente, tanto pra mim quanto pra ela. É sempre bom tê-lá ao meu lado, porque uma ajuda a outra em algo que precise melhorar, e sempre estamos corrigindo nossas falhas. É uma experiência maravilhosa.

– Importância do padrasto no esporte

Para mim é uma das peças fundamentais na minha vida, pois foi através dele que conheci o Judô e hoje sou apaixonada por esse esporte. Posso dizer que meu pai é meu maior incentivador, sempre me motivando e falando que sou capaz de chegar onde sonho. Está sempre comigo, nas vitórias e nas derrotas, vive os meus sonhos comigo, só tenho que agradecer a ele por todas as coisas que já me proporcionou.

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Thayná Lemos com sua irmã, Thayane, e seu pai de criação, Leonardo (Foto arquivo pessoal)

– Gravidez inesperada e volta às competições

Foi uma gravidez inesperada, e quando descobri, já estava com seis meses de gestação. Só descobri sobre a gravidez porque estava disputando uma competição que valia vaga para integrar a seleção brasileira de base e acabei me lesionando na primeira luta, ficando o período de um mês parada. Após o meu filho nascer, acabei descobrindo que ele se tornou minha motivação para reconquistar todos os meus títulos.

– Sonho de disputar Olimpíadas no futuro

Meus planos para esse ano são de conquistar os títulos nacionais e garantir a vaga no Mundial Júnior, estou batalhando diariamente para conquistar essas metas. No Judô, meu grande sonho é integrar a seleção brasileira principal e chegar nas Olimpíadas. Quem sabe eu consiga disputar os Jogos Olímpicos de 2024.

* Por Mateus Machado