Depois de superar suicídio do pai e depressão com a ajuda do Jiu-Jitsu, faixa-preta vira líder de academia

Depois de superar suicídio do pai e depressão com a ajuda do Jiu-Jitsu, faixa-preta vira líder de academia

Mais do que uma modalidade de competição, o Jiu-Jitsu é um estilo de vida. Estilo esse baseado na milenar filosofia oriental, adaptada no início do século XX pelos irmãos brasileiros Carlos e Hélio Gracie, que foi passando por algumas transformações ao longo das décadas, mas sempre focada na disciplina e respeito.

Fundada na cidade de São Paulo, em 2019, pelo faixa-preta Jurandir Conceição, a academia Templo Jiu-Jitsu Culture é um exemplo de escola de Jiu-Jitsu que vai além dos ensinamentos técnicos da modalidade. Embora reconheça a importância da competição para a evolução técnica e pessoal de seus alunos, o fundador destaca a linha doutrinadora da equipe. “Nossa missão é formar mais do que faixas-preta, é formar seres humanos de caráter. Na Templo, ajudamos os alunos a se tornarem melhores profissionais, melhores maridos, melhores esposas. Cobramos atitudes importantes, porém escassas na sociedade, como respeito, disciplina, gratidão. Somos muito rigorosos com a questão da pontualidade, por exemplo”.

A preocupação de Jurandir Conceição com os aspectos sociais e a utilização do Jiu-Jitsu como linha condutora vêm de um enredo complexo que a vida lhe pregou desde cedo. A começar pela sua entrada na arte suave, que deu-se por conta do bullying que sofria na infância, conforme ele explicou:

“Eu era muito magro e alto, convivia com pessoas mais velhas, então sofria muito bullying, às vezes apanhava. Para me defender, primeiro eu tentei no Boxe, mas não resolveu, porque, se me acertassem um soco, eu sairia no prejuízo, de qualquer forma. Depois conheci o Jiu-Jitsu e percebi que era uma arte diferente, que eu poderia me defender mesmo sendo mais fraco, apenas neutralizando o agressor”, relatou.

Mas foi no início da sua trajetória no tatame, aos 15 anos de idade, que ele sofreu a pior pancada da vida até agora: o suicídio do pai. A partir do trágico episódio, o Jiu-Jitsu se tornou protagonista em sua rotina.

“Foi um grande trauma. Eu tinha 15 anos, dois irmãos mais novos, então comecei a ficar triste, deprimido, mas aí foquei no Jiu-Jitsu. Os treinos passaram a ser minha válvula de escape. Ficava na academia quase 24 horas, só saía para estudar. Passou a ser a minha terapia. Foi muito difícil, porque eu vi a cena, então a maneira que encontrei de, pelo menos tentar esquecer, era treinando incessantemente”, narrou o faixa-preta.

O Jiu-Jitsu foi tão importante no controle de suas emoções pela perda do pai, que somente anos depois, quando, devido a uma lesão, ficou impossibilitado de lutar, ele realmente sentiu o baque dos traumas.

“Comecei a disputar campeonatos, a vencer, e isso me motivava cada vez mais. Fui campeão paulista, brasileiro, fui graduado e cheguei ao posto de instrutor do meu mestre na época, o Roberto Godói. Só que veio outro golpe: quando cheguei na faixa-marrom, precisei operar o ombro e fiquei muito tempo sem treinar. Bateu a abstinência e, ali, eu vivi o luto de verdade. Entrei numa crise de depressão muito forte”, lembrou.

Dono de uma forte crença espiritual, Jurandir, membro da igreja messiânica, se recusou a “dar os três tapinhas”. Em vez de desistir do sonho de viver do Jiu-Jitsu, ele “raspou” a adversidade e se adaptou a uma nova realidade. Sem poder competir, o lutador voltou sua atenção para perpetuar as lições que aprendeu.

“Encontrei uma nova forma de viver do Jiu-Jitsu. Foi interessante, porque em pouco menos de dois anos, eu formei uma turma grande, de 150 alunos. Fui convidado pelo Godói para montar minha primeira academia, associado a ele, e, juntos, chegamos a 500 alunos. Há dois anos fundei a minha própria academia. Hoje, meu propósito é canalizar tudo o que eu vivi para que sirva de motivação para outras pessoas. Nosso propósito é ajudar os alunos a encontrarem um equilíbrio interior, equilíbrio do corpo e da mente também”, exalta.

Hoje, sua academia possui seis filiais espalhadas por São Paulo e um total de cerca de 800 alunos. Engajada no bem-estar, a Templo forma campeões, cidadãos e ainda quebra paradigmas. Exemplo disso é a aula “no flag” (sem bandeira) de toda sexta-feira. “É um treino para faixas-preta de várias academias, sem ego, sem rivalidade, somente para trocar conhecimento, para somar. Assim como os sapatos são deixados de lado na hora de subir ao tatame, nós também pregamos para que façam o mesmo com o ego. Deixem do lado de fora e venham viver o que realmente é o Jiu-Jitsu”, explicou o casca-grossa.

A Templo ainda se orgulha de ser uma academia estruturada para receber praticantes de Parajiu-Jitsu: “Adaptamos toda a academia para portadores de necessidades especiais. Mas nossas turmas são uniformes, não tem diferenciação, mas com toda a estrutura e professores preparados às necessidades”.

Para conhecer a Templo, acesse o site: https://evo-totem.w12app.com.br/templodojojiujitsu/1/site.