Arte suave para mulheres: a importância das atletas – e homens – em conhecer e debater o ciclo menstrual no Jiu-Jitsu

Arte suave para mulheres: a importância das atletas – e homens – em conhecer e debater o ciclo menstrual no Jiu-Jitsu

* Ainda nos dias de hoje, muitas pessoas tratam a menstruação como um tabu. Ainda existe preconceito e desconhecimento sobre nosso ciclo menstrual. Esse processo é natural, faz parte da gente, do nosso corpo. E todo esse tabu e falta de naturalidade ao falar sobre isso geram problemas às mulheres, seja fisicamente ou psicologicamente. É preciso desconstruir o medo e a vergonha de falar sobre menstruação, urgente!

Mas o que vamos falar aqui hoje é em relação à menstruação e treinos. O episódio 34 do podcast Jiu-Jitsu In Frames, da Mayara Munhos, trouxe a Dra. Tathiana Parmigiano (ex-atleta, ginecologista e atuante no COB – Comitê Olímpico Brasileiro), e a professora e faixa-preta de Jiu-Jitsu Luciana Neder para falar um pouco mais sobre ciclo menstrual e suas fases, como lidar com elas, hormônios e muito mais.

A primeira coisa que precisamos ter em mente é: não são só as mulheres que precisam entender sobre ciclo menstrual. Os homens também, principalmente os que trabalham com mulheres. No nosso caso do Jiu-Jitsu, os donos de academia, professores e treinadores. Quem não está preparado para receber mulheres (e todo tipo de público) em sua academia, está fechando as portas para a expansão do esporte. Está mais do que na hora de entendermos que, sim, o Jiu-Jitsu deve ser para todos.

No podcast, Lu Neder comentou que os professores precisam ganhar essa confiança da aluna para que ela se sinta à vontade para conversar sobre isso. Nos workshops de Jiu-Jitsu feminino que dá, ela sempre ressalta: “O mais importante do treino feminino é a conversa”. Sobre o ciclo menstrual e essa conversa entre professores e alunas, ela disse: “É importante também que o treinador saiba dessa ‘agenda’, para que ele organize o treino de forma a aproveitar todas as fases do ciclo menstrual da mulher.”

A Dra. Tathi também reforçou que é muito importante “que cada vez mais homens, principalmente os que queiram trabalhar com mulheres atletas, entendam do ciclo e não caiam no tabu de não falar. É uma coisa totalmente inerente à gente”. Ela também citou que quanto mais as pessoas (treinadores, professores) entenderem sobre isso, melhor vão prescrever seus treinos e entender o resultado deles, destacando ainda a importância da própria mulher se conhecer ao longo do ciclo menstrual e suas fases.

Nós, mulheres, temos que conhecer cada pedaço do nosso corpo e como nos sentimos em cada fase do ciclo menstrual. Além do autoconhecimento, ajuda muito na relação com os treinos e competições. Saber em que fase você estará mais disposta, se sentindo forte ou em que momento estará com menos energia.

“É muito importante que a mulher saiba mapear seus dias de treino, de maior energia, menor energia, para poder fazer uma preparação equilibrada e driblar os efeitos da queda de rendimento durante o treino. Isso vem muito também do conhecimento da sua fisiologia. Não só fazer acompanhamento com uma ginecologista, mas você se conhecer também”, contou Lu Neder no podcast. Ela ainda comentou que cada mulher precisa entender seu objetivo em relação aos treinos e competições para “saber aproveitar essas fases, mas com orientação médica, porque pode influenciar fatores na sua vida, fisiologia e organismo”.

Em relação à sua experiência com atletas, a Dra Tathi comentou que “por volta de 80% das meninas preferem alguma fase do ciclo para competir, se sentem mais fortes em alguma fase desse ciclo. A maioria é pós-menstrual, mas não podemos generalizar”. Ela ressaltou que não existe uma resposta única, que se deve perguntar isso às mulheres para “planejar o ciclo em relação às principais competições para que ela esteja naquela fase. Psiquicamente isso é muito bom, pois ela sente que a menstruação e o ciclo em si não vai ser um fator que vai jogar contra”.

Uma dica para monitorar e conhecer melhor nosso organismo é acompanhá-lo bem de perto, por meio de alguns aplicativos que ajudam nisso. Vou deixar aqui algumas dicas e cada uma escolhe a que preferir.

Cada mulher lida de uma forma com a menstruação, mas é fundamental que tenhamos esse conhecimento sobre nosso corpo e os ciclos que ocorrem nele. Não só mulheres, mas também homens precisam ter o mínimo de conhecimento para que não seja mais um tabu e potencializar seu trabalho como professores.

Ana Carolina Vieira e Luanna Alzuguir já comentaram em uma entrevista ao vivo ao BJJ Girls Mag que sua academia, a AVIV, é totalmente preparada para acolher mulheres nesse sentido e em vários outros. Isso muda completamente a forma como a praticante ou atleta de Jiu-Jitsu se sente no ambiente de treino.

Como eu disse antes, o Jiu-Jitsu é para todos. Incluir mulheres (e todas as pessoas) nos tatames, nas resenhas pós-treino, nos grupos. Não adianta ter aulas femininas em uma academia que tem panelinha de homens ou existam comportamentos machistas e as mulheres não se sentem incluídas. O Jiu-Jitsu é para todos e isso precisa ser feito na prática! Só assim nossa modalidade vai continuar crescendo.

* Por Carolina Lopes