Arte suave para mulheres: o papel dos homens no crescimento do Jiu-Jitsu feminino; confira e deixe sua opinião

Arte suave para mulheres: o papel dos homens no crescimento do Jiu-Jitsu feminino; confira e deixe sua opinião

* Convivendo com tantas mulheres no universo do Jiu-Jitsu, vejo como ainda existem tantos homens que insistem em achar que a luta não é para nós. Esses dias vi o seguinte comentário de um cara em um vídeo do canal “Jiu-Jitsu In Frames” sobre machismo no Jiu-Jitsu: “reparei na delicadeza do seu pescoço sob a firmeza de um estrangulamento masculino e não imaginei coisa boa”.

Comentários como esse, além de atrapalhar, só atrasam ainda mais o desenvolvimento do Jiu-Jitsu feminino e do nosso esporte como um todo. Parece que muitos homens ainda não aceitam que as mulheres também podem ser boas e duras de Jiu-Jitsu e preferem dizer que somos fracas e frágeis.

Então, o que eu quero enfatizar aqui é o seguinte: o crescimento do Jiu-Jitsu feminino também depende dos homens! Não é uma questão das mulheres, e sim de TODOS. Se tantas pessoas falam que o Jiu-Jitsu é para todos, por que não seria responsabilidade de todo mundo fazer o Jiu-Jitsu feminino crescer? Quanto mais mulheres no tatame, mais pessoas ao total. A lógica é o esporte crescer como um todo.

Conversei com o professor Henrique Camilo sobre esse assunto e ele tem muito a dizer a todos os homens e todas as pessoas que querem ver o nosso jiu-jitsu crescendo.

Camilo treina desde 2000 e, como muitas pessoas, se encantou pelo Jiu-Jitsu e não parou mais. Hoje ele dá aulas em uma academia junto com outra professora, a faixa preta Sibele Lima. Os dois eram da mesma equipe e se conhecem há 20 anos. Quando recebeu uma proposta para dar aula, Camilo chamou Sibele para ir junto. No começo, a ideia era uma turma feminina. Mas não tinham tantas meninas assim, então os dois passaram a dividir os horários das turmas mistas.

“Desde então, graças a Deus, tudo tem dado certo e crescemos e amadurecemos muito. Juntos formamos quatro faixas preta, dois deles possuem seu próprio centro de treinamento, construímos o nosso projeto de defesa pessoal para mulheres, realizamos eventos juntos e, o principal, temos um corpo de alunos leais que acompanha nosso trabalho por onde vamos”, conta Camilo. Apesar de divergirem algumas vezes, Camilo diz que o principal objetivo é: “construir uma relação de respeito e empatia mútua, acredito que esses sentimentos foram sendo naturalmente transmitidos para os nossos alunos.”

Camilo entende que o papel dos homens no crescimento do Jiu-Jitsu feminino passa, em primeiro lugar, por atitudes de respeito. “Esse movimento acaba gerando boas ações fora dos tatames também e faz com que a mulher se sinta confortável para voltar no próximo treino.” Ele também conta que busca sempre trazer informações para suas alunas, compartilhando conteúdos sobre Jiu-Jitsu feminino. “Desejo que elas estejam cientes que, se algo acontecer, elas contem com meu apoio para procurar ajuda.”

Não é fácil desconstruir situações que estão enraizadas na gente, como é o caso do machismo. Mas o principal é estar aberto para o diálogo e a mudança. E não sair atacando ou falando sobre o que não se sabe, como muitos fazem. E principalmente os professores, precisam deixar claro que não toleram o desrespeito. “Já vivenciei alunos incentivando a rivalidade, ou até comentário em forma de ‘piada’: ‘Tá lutando feito mulherzinha?’ Quando isso acontece, dialogamos sobre a importância de não tecer essas falas no treino.”

Camilo diz que ele mesmo já fez esse exercício de repensar suas atitudes. “Dois alunos estavam lutando, aquela luta parada. Então cheguei próximo deles e sem pensar, soltei aquela pérola: ‘As meninas ao lado estão lutando melhor que vocês.’ Assim que eu falei, as alunas imediatamente manifestaram a insatisfação da minha atitude. Ao final do treino, pedi desculpas a todas pelo episódio. Uma situação como essa me fez repensar em como ser um professor melhor para elas.”

Como, então, fazer da sua academia um ambiente acolhedor para todos e todas? Simples: respeitando as particularidades de cada um e não reproduzindo atitudes e comportamentos machistas e preconceituosos que ainda vemos tanto por aí. Camilo conta que ele e Sibele sempre conversam e avaliam os treinos e situações de cada aluno(a). “Acredito que os valores preservados pelos professores são de suma relevância para praticar Jiu-Jitsu num ambiente acolhedor e confiável.”

E o professor diz aprender muito durante esse tempo todo dando aula, respeitando o jeito de cada um. “Devo muito a Sibele por isso, ela é o coração do CT. E hoje, tento tirar o melhor de todos e todas, para que cada um se sinta representado.”

Não podemos mais permitir qualquer tipo de comportamento ou atitude que afaste as mulheres do tatame. E aos que falam que isso tudo é “mimimi”, eu digo: aprendam, escutem, saiam de cima do palco e olhem com mais respeito a todas as praticantes de Jiu-Jitsu. Precisamos refletir sobre porque tantas mulheres param no meio do caminho e fazer diferente, como disse muito bem professor Camilo:

“Esse ano, o Clube Sandro Melo comemora seus vinte anos de existência, e, dentro do universo de sessenta e seis faixas preta, apenas três são mulheres. Destas, apenas uma está em atividade. Se pararmos para analisar, isso diz muito sobre o acesso e a permanência das mulheres no tatame. Em nosso CT, temos muitas graduadas, e em breve, teremos muito orgulho em formar nossas faixas preta. Que elas sejam inspiração para as meninas que estão chegando perseverem.”

Portanto, esse é um dever de todos nós. Principalmente dos professores. O crescimento do Jiu-Jitsu feminino é também o crescimento do Jiu-Jitsu como um todo. E já passou da hora de julgarmos menos, atacarmos menos e acolher mais e ter mais empatia, não acham? Vamos juntas e juntos!

Deixo o final para as palavras do professor Henrique Camilo:

“Aproveitando o espaço, gostaria de registrar um agradecimento especial à professora Sibele Lima, pela parceria e por todos os ensinamentos transferidos dentro e fora do tatame. Para minhas alunas, elas são minha inspiração. São estudantes, trabalhadoras, mães… Sei o quanto cada uma se esforça para estar presente. Aprendo sempre algo novo quando estou ao lado delas, independente de graduação. Elas são incríveis, obrigado por tudo!”

* Por Carolina Lopes