Artigo: neuroplasticidade e treinamento mental – neurociência e motivação do lutador; leia
Novo artigo fala sobre a neuroplasticidade e o treinamento mental nos esportes de combate; confira na íntegra
Novo artigo fala sobre a neuroplasticidade e o treinamento mental nos esportes de combate (Foto: Dai Bueno/TATAME)
Fabio da Silva Ferreira Vieira
PhD em Ciências do Movimento Humano, Pós-Doc em Neurociências. Email: [email protected]
Introdução
Nos esportes de combate, não é apenas a força física que determina o sucesso de um lutador. A mente desempenha um papel crucial, e entender como a neuroplasticidade e o treinamento mental podem influenciar a motivação e o desempenho pode fazer toda a diferença. Neuroplasticidade é a capacidade do cérebro de se adaptar e mudar ao longo da vida. Isso significa que, com o treinamento adequado, os lutadores podem não só melhorar suas habilidades físicas, mas também otimizar suas capacidades cognitivas e emocionais [1].
A teoria da excitação ótima, frequentemente representada pela curva do “U” invertido, sugere que existe um nível ideal de excitação que maximiza o desempenho. Essa teoria é fundamental para entender como diferentes níveis de motivação e excitação podem impactar o desempenho de um atleta.
Neuroplasticidade: O Poder Da Adaptação Cerebral
A neuroplasticidade é a capacidade do cérebro de se reorganizar, formando novas conexões neurais. Para os lutadores, isso significa que a prática constante e o treinamento mental podem literalmente moldar o cérebro, melhorando a aprendizagem de novas técnicas, a adaptação a situações inesperadas e até a recuperação de lesões [2].
No Jiu-Jitsu, por exemplo, a repetição constante de técnicas e prática de situações de combate simuladas ajudam a criar caminhos neurais que permitam reações mais rápidas e precisas durante uma luta real. No Boxe, a adaptação a diferentes estilos de oponentes através do sparring ajuda o cérebro a criar estratégias e melhorar a resposta sob pressão. Já no Muay Thai, a prática intensiva de combinações de golpes e defesas treina o cérebro para responder de maneira eficiente, melhorando a coordenação e a precisão.
Teoria Da Excitação Ótima: Encontrando O Equilíbrio Perfeito
A teoria da excitação ótima, também conhecida com Lei de Yerkes-Dodson, sugere que existe um nível ideal de excitação que maximiza o desempenho. De acordo com a teoria, muito baixa excitação pode levar à apatia e falta de foco, enquanto muita excitação pode causar ansiedade e tensão excessiva, prejudicando o desempenho. O desafio é encontrar o equilíbrio perfeito onde a excitação estará em um nível que potencializa o foco e a energia, mas sem transbordar para a tensão.
A Lei de Yerkes-Dodosn foi cunhada por Robert Yerkes e John Dodson em 1908. Eles descobriram que o desempenho melhora com a excitação fisiológica ou mental, mas apenas até um certo ponto. Quando os níveis de excitação se tornam muito altos, o desempenho começa a declinar. Essa relação é frequentemente ilustrada como uma curva em forma de “U” invertido [3].
Nos esportes de combate, a aplicação dessa teoria pode ser observada claramente. No MMA, lutadores que encontram o equilíbrio certo de excitação tendem a ter melhor desempenho. Por exemplo, o lutador Anderson “Spider” Silva ficou conhecido por seu controle emocional e foco durante as lutas, o que certamente contribuiu para todo o seu sucesso.
No Judô, a capacidade de manter a calma e o foco em momento de alta pressão, como em competições de alto nível, é crucial. O judoca francês Teddy Riner é um exemplo de como a gestão da excitação pode levar ao sucesso repetido e manutenção da performance.
Motivação: O Motor Do Desempenho
A motivação é o combustível que impulsiona os lutadores nos treinos e nas competições. Ela pode vir de várias fontes: metas claras, feedback positivo, visualização de sucesso e suporte emocional. No entanto, a motivação precisa ser cuidadosamente dosada. Excesso de pressão pode levar ao esgotamento, enquanto a falta de estímulo pode resultar em desinteresse [4].
Em modalidades como o Karatê, a motivação para alcançar novos graus de faixa pode manter os praticantes engajados e dedicados ao treinamento contínuo. No Taekwondo, a visualização de sucesso em campeonatos e o suporte de treinadores e colegas ajudam a manter a motivação alta e o desempenho constante.
Dicas Práticas Para Lutadores E Treinadores
Incorporar técnicas de neuroplasticidade e treinamento mental no dia a dia podem fazer uma grande diferença no desempenho dos lutadores. Aqui estão algumas dicas práticas:
- Estabeleça Metas Claras: Definir objetivos específicos ajuda a manter o foco e a motivação.
Exemplo: Um lutador de MMA pode estabelecer a meta de melhorar suas habilidades de grappling em um período de seis meses.
- Use A Visualização: Imagine cenários de luta bem-sucedidos para preparar a mente.
Exemplo: Um boxeador pode visualizar cada round de uma luta importante, antecipando movimentos e estratégias do oponente.
- Controle A Excitação: Técnicas de respiração e meditação podem ajudar a manter a excitação em níveis ótimos.
Exemplo: Praticantes de Jiu-Jitsu podem usar técnicas de respiração profunda antes de entrar no tatame para reduzir a ansiedade.
- Apoie-se No Feedback: Feedback construtivo pode orientar melhorias e manter a motivação alta.
Exemplo: Treinadores de Muay Thai podem fornecer feedback detalhado após sessões de sparing para ajudar os lutadores a aprimorarem suas técnicas.
- Pratique Mindfulness: Estar presente no momento ajuda a reduzir a ansiedade e melhorar o desempenho.
Exemplo: Judocas podem usar a prática de mindfulness para manter a concentração durante competições intensas.
Implementando essas dicas, lutadores e treinadores podem criar um ambiente de treino que não só melhora o desempenho físico, mas também fortalece a mente, preparando melhor os atletas para os desafios dentro e fora do ringue.
Considerações Finais
A neuroplasticidade e o treinamento mental são ferramentas poderosas para qualquer lutador que deseja maximizar seu potencial. Encontrar o equilíbrio certo de excitação e motivação é essencial para alcançar o melhor desempenho. Incorpore essas práticas em seu treino diário e veja como a ciência pode levar seu desempenho a um novo nível.
Além disso, as neurociências nos esportes de combate são fundamentais não só para os atletas, mas principalmente para os treinadores, preparadores físicos e para toda a equipe de apoio. Compreender os princípios da neuroplasticidade e da excitação ótima pode ajudar a criar estratégias de treinamento mais eficazes, promover uma recuperação mais rápida de lesões e melhorar a resiliência mental dos lutadores.
Para mais informações e dicas sobre como aprimorar sua performance nos esportes de combate, continue acompanhando a Revista Tatame e a Coluna Treinamento Desportivo. E, se tiver dúvidas ou quiser compartilhar suas experiencias, entre em contato. Estamos aqui para ajudar você a alcançar o se máximo potencial!!!
Referências bibliográficas:
- Doidge, N. (2007). The Brain That Changes Itself: Stories of Personal Triumph from the Frontiers of Brain Science. Penguin Books.
- Silva, T.M.R., Pinheiro, C.J.B., Campos, Y.S., Lobão, T.A., Campos, I.S.L., Gouveia, A. (2022). Eficácia de processos sensório-motores e parâmetros morfofuncionais em jovens adultos – sedentários e atletas de taekwondo: um estudo transversal. Revista de Educação Física/Journal of Physical Education, 91(1), 47-55.
- Yerkes, R.M., Dodson, J.D. (1908). The relation of strength of stimulus to rapid of habit-formation. Journal of Comparative Neurology and Pscyhology, 18(5), 459-482.
- Deci, E.L., Ryan, R.M. (2013). Intrinsic motivation and self-determination in human behavior. Springer Science & Business Media.
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Sergio Oliveira: MsC em Educação Física, Professor de Wrestling; Autor dos best sellers “O Ensino das manifestações das lutas”; e “Luta Olimpica”.
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Mateus Machado
Jornalista apaixonado por lutas e Futebol. Trabalhando pela TATAME desde 2015, tive a honra e o privilégio de cobrir grandes eventos de MMA, Jiu-Jitsu e outras artes marciais ao longo dos últimos anos, além de entrevistar alguns dos maiores nomes do mundo das lutas. "Obcecado" por informação, sempre disposto a contar novas histórias e presenciar momentos marcantes.