Artigo: qual é a idade ideal para uma criança começar a praticar artes marciais?
* Existem vários questionamentos em relação à idade certa para as crianças iniciarem suas atividades físicas, em especial nas artes marciais. A pediatra Aline Friedrichs de Souza relata que a hora de começar coincide com a saída da criança da maternidade. Claro que as atividades propostas para bebês são simples e leves, é basicamente o incentivo à movimentação e a interação com o meio, conclui a especialista. Sendo assim, o porquê não pesarmos em adaptações para crianças acima de três anos nas aulas de artes marciais?
Os artigos serão apresentados da seguinte maneira – (A) Desenvolvimento infantil e os conceitos fundamentais, onde será dada uma breve introdução sobre o desenvolvimento psicossexual e intelectual da criança de 0 a 6 anos. (B) Importância da família nas academias de artes marciais, e (C) o vínculo entre professores e crianças acima de três anos nas academias de artes marciais.
Sobre a compreensão da criança e como a psicologia do desenvolvimento pretende explicar essas mudanças importantes no decorrer do tempo, os estudos sobre criança é recente em termos de história da humanidade. As crianças eram tratadas como pequenos adultos e recebiam cuidados especiais apenas em idade precoce. A partir dos três e quatro anos, participavam das mesmas atividades que os adultos, inclusive orgias, enforcamentos públicos, trabalhavam nos campos e vendiam seus produtos nos mercados, além de serem alvos de todos os tipos de atrocidades pelos adultos.
A partir do século XVIII, a igreja afasta a criança de assuntos ligados ao sexo, apresentando as inadequações que estas vivências traziam à formação do caráter e da moral dos indivíduos. No início do século XX, observamos uma preocupação mais ampla e mais sistemática com o estudo da criança, que começaram a modificar-se a partir do estudo científico.
Para a compreensão do processo, iniciaremos uma breve explicação das fases de desenvolvimento propostas por Freud (Pai da psicanálise) e Jean Piaget, que se preocupou com vários aspectos do conhecimento, dando ênfase principal ao estudo da natureza do desenvolvimento de todo conhecimento, em todas as disciplinas e em toda história da humanidade, como também e principalmente no desenvolvimento intelectual da criança.
Iniciaremos por Freud, fase oral Período 0 a 1 ano aproximadamente – Ao nascer, o bebê perde a relação simbiótica pré-natal que possuía com a mãe, e a satisfação plena da vida intra-uterino. Com o corte do cordão, a separação é irreversível, e a criança deve iniciar sua adaptação ao meio, ao nascimento, a estrutura sensorial mais desenvolvida é a boca. É pela boca que se mobilizará na luta pela preservação do equilíbrio homeostático. É pela boca que fará sua primeira e mais importante descoberta afetiva: o seio. O seio é o primeiro objeto de ligação infantil. É o depositário de seus primeiros amores e ódios.
A criança incorpora o leite e o seio, e sente ter a mãe dentro de si. O vínculo inicial pode ser estabelecido. Tudo o que a criança pega é levada à boca: é comendo que ela conhece o mundo e as identificações são estabelecidas.
Fase Anal: Período de 2 a 4 anos aproximadamente. No segundo e terceiro anos de vida, dar-se a maturação do controle muscular na criança, isto é, dar-se a organização psicomotora de base. É o período em que se inicia o andar, o falar e em que se estabelece o controle de esfíncteres.
Fase Fálica: Período de 4 a 6 anos aproximadamente. Nesta etapa do desenvolvimento, a atenção da criança volta-se para a região genital. Inicialmente a criança imagina que tanto os meninos quanto as meninas possuem um pênis. Ao serem defrontadas com as diferenças anatômicas entre os sexos, as crianças criam as chamadas “teorias sexuais infantis”, imaginando que as meninas não têm pênis porque este órgão lhe foi arrancado (complexo de castração). É neste momento que a menina tem medo de perder o seu pênis. Este período surge também o complexo de Édipo, no qual o menino passa a apresentar uma atração pela mãe e a se rivalizar com o pai e na menina ocorre o inverso.
Fase de Latência: Período de 6 a 11 anos aproximadamente. Este período tem por característica principal um deslocamento da libido da sexualidade para atividades socialmente aceitas, ou seja, a criança passa a gastar sua energia em atividades sociais e escolares.
Passemos então para compreensão do conceito de Jean Piaget, que são essenciais para a compreensão da criança de 0 a 6 anos, nosso objeto de estudo neste artigo.
Para Jean Piaget, o indivíduo herda uma série de estruturas biológicas (sensoriais e neurológicas) que predispõem ao surgimento de certas estruturas mentais. Portanto, a inteligência não herdamos. Herdamos um organismo que vai amadurecer em contato com o meio ambiente.
As fases de desenvolvimento da teoria piagetiana apontadas por Rappaport (1981) e Rios (2007).:
Período Sensório-motor: 0 a 2 anos
Período Pré-operatório: 2 a 7 anos
Período das Operações concretas: 7 a 11 anos
Período das Operações formais: 12 anos em diante
Período Sensório – Motor; (recém-nascido e o lactente – 0 a 2 anos). De acordo com Cunha (2002), a característica central do primeiro período de desenvolvimento, denominado sensório-motor, é a inexistência de representações e ou imagens mentais dos objetos que entornam a criança. Nesse período o conhecimento se processa a partir de impressões que chegam ao organismo, via órgãos dos sentidos (por isso a denominação de sensório da sensação e motora do movimento motor).
Período Sensório – Motor e os elementos da Afetividade. Conforme Bock et AL (1993), os avanços intelectuais que vão se organizando na construção de conhecimentos, alcança a dimensão do afeto uma vez que o bebê passa das emoções primárias ( os primeiros medos, quando, por exemplo, ele se enrijece ao ouvir um barulho muito forte) para uma escolha afetiva de objetos ( no final do período), quando já manifesta preferências por brinquedos. Objetos, pessoas, etc. (Bock ET AL, 1993, pg. 84)
Período pré-operatório (ou a primeira infância 2 a 7 anos) Período da Representação, da linguagem e da socialização. Conforme evidencia Cunha (2002), o aspecto mais destacado desta fase do desenvolvimento é a capacidade de representação, ou a transformação de esquemas de ações em esquemas representativos. A partir do dito por Cunha, no decorrer deste período, a linguagem vai deixando de ser representativa para assumir configurações socialmente convencionais.
Em Bock ET AL (1993), em função do notável relevo da linguagem, o desenvolvimento do pensamento ganha celeridade sendo por isso que esta é a conhecida fase dos famosos “porquês”. Segundo Rappaport (1981), neste período do desenvolvimento, o egocentrismo se caracteriza por uma visão do real que tem por referência o próprio eu, ou seja, a criança nessa fase não concebe uma situação no mundo sem que não faça parte, desse modo, ela confunde-se com objetos e pessoas atribuindo- lhes seus próprios pensamentos.
Assim, a criança pode dar explicações animistas, frente a acontecimentos por ela vividos, ou seja, a criança irá atribuir características humanas para animais, plantas e objetos, por exemplo, “dizer que a boneca vai dormir porque está com sono ou que a panela está sentada no fogão”. (RAPPAPORT, 1981, p69)
Período Pré Operatório e os elementos da Afetividade: Conforme indicam Rappaport (1981), Ries (2007), e Bock ET AL (1993), neste período do desenvolvimento, os elementos da afetividade, destacam-se pelos sentimentos interindividuais, sobretudo aqueles sentimentos que a criança desenvolve por pessoas que julga superiores.
Especialistas atentam para as vantagens de provocar pequenos estímulos nos bebês desde cedo, sendo assim as crianças a partir de três anos devem conhecer as artes marciais no intuito de brincadeiras, valorizando o lado lúdico dos exercícios, estimulando a habilidades motoras e a diversão, o que não pode é colocar crianças a partir de três anos em torneios, elas ainda não estão em condições de maturidade para participarem de competições e a frustração de perder, basta observar uma criança desta idade em um aniversario infantil, no parque de diversões ou até mesmo na própria escola infantil, quando perdem seus objetos pessoais para o amiguinho.
Porém, é essencial que os professores de artes marciais busquem conhecimentos suficientes em relação ao desenvolvimento infantil, é de grande responsabilidade o professor capacitar-se sobre o assunto para atender da melhor forma esses lindos pequenos.
Referências
- Rappaport, Clara Regina. Psicologia do desenvolvimento/ Clara Regina Rappaport, Wagner da Rocha Fiori, Claudia Davis. São Paulo: EPU, 1981 – Bibliografia. Conteúdo: v. 1 – Teorias do desenvolvimento.
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Quem sou eu? Mônica de Paula Silva, também conhecida como Monica Lambiasi, é graduada em Pedagogia desde 2004. Concursada pela Prefeitura de Embu Guaçu – SP, atua há 13 anos como psicopedagoga clínica, área na qual é pós-graduada desde 2006. Em 2008 concluiu pós-graduação em Didática Superior, e em 2009 concluiu pós-graduação em Educação Especial e Educação Inclusiva. Já em 2017 concluiu pós-graduação em neuropsicopedagoga, e atualmente estuda psicanálise e neurociência. Também é escritora.
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* Por Mônica de Paula Silva