Empresários citam dificuldades para se investir em Jiu-Jitsu no Brasil, mas destacam apoio à nova geração

Empresários citam dificuldades para se investir em Jiu-Jitsu no Brasil, mas destacam apoio à nova geração

* Não é só com premiação em dinheiro e bons campeonatos que o Jiu-Jitsu se tornará profissional. Além da parte de lutas, fora do tatame existe toda uma estrutura que precisa se desenvolver e trabalhar em prol do esporte. Entre arbitragem, mídia e organização, os empresários também se destacam, dando apoio à arte suave através de diferentes marcas e projetos.

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Fechando a nossa edição #259, que debateu o Jiu-Jitsu profissional, conversamos com Fabiano Marinho, representante da Prime Esportes, Henrique Krause, da Art4Fight, e Geraldo Marra, que atua à frente da Keiko Sports, para saber mais sobre a opinião dos três. Em comum entre eles, um ponto: todos acreditam que a arte suave ainda não atingiu o nível ideal de profissionalismo, porém, está caminhando.

“Na minha opinião, o esporte ainda não é (profissional). Falta muito. Nos últimos cinco anos o Jiu-Jitsu cresceu muito, a cabeça dos professores mudou demais, todo mundo buscando um pouco mais o lado empresarial, de qualidade de ensino, estrutura, e isso reflete no esporte. Acho que um lado puxa o outro, mas tem muito o que mudar ainda, uma questão de ciúmes, falta da rivalidade sadia, o que infelizmente ainda é uma realidade”, opinou Fabiano Marinho em entrevista à TATAME, completando.

“É difícil (investir no Jiu-Jitsu), não é fácil. Quem pensa em rios de dinheiro, se engana, são poucos e que trabalharam muito para chegar em algum lugar, da mesma forma que estamos fazendo. Ao longo dos anos senti muita melhora, o esporte deu uma evoluída gigantesca. Os professores perceberam que se eles não evoluíssem, iam ficar pra trás, mas ainda falta muito. De qualquer forma, acho que no Brasil, nos últimos tempos, o Jiu-Jitsu foi um dos esportes que mais cresceu, e esperamos que continue assim”.

Atuando à frente da Art4Fight – marca que trabalha com quimonos e outros produtos voltados para a luta -, Henrique Krause citou o grande desafio empresarial que é gerir uma empresa deste tipo no Brasil. “A Art4Fight foi criada em 2017 com o intuito de incluir no mercado um novo conceito de ‘fight wear’. Aos poucos fomos buscando espaço, trabalhando bastante na qualidade dos produtos e como consequência conquistando uma parcela do público do Jiu-Jitsu. Para nós investir no esporte é gratificante do ponto de vista da realização pessoal, amamos estar no meio e vender nossa imagem, nome e a maneira que enxergamos o esporte. Já do ponto de vista empresarial, é um grande desafio, com certeza”, projetou.

No caso da Keiko Sports, a situação não é diferente. De acordo com Geraldo Marra, não se trata apenas de uma questão mercadológica da arte suave, mas sim do país como um todo. “Convivi com inflação de 30% ao ano e, já há alguns anos, temos uma situação contrária. O Jiu-Jitsu se profissionalizou, sim, se comparado com o passado. Entretanto, acredito que esse é um processo sem fim, ainda temos bastante para aprender”.

“A dificuldade não é do Jiu-Jitsu, é do Brasil, né. A tributação está muito alta, frete caro, e o pessoal do Jiu-Jitsu geralmente não tem uma situação confortável em termos de dinheiro. Então a dificuldade é do país, e o governo não vai ajudar o esporte como esperam”, falou o experiente Fabiano a respeito.

 

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Geraldo – que já se envolveu em todas as áreas e tem 30 anos de empresa – também cobrou uma maior participação da mídia no esporte, com cobertura dos grandes eventos e divulgação, como no Futebol. A realidade ainda é distante, segundo ele, como um rola com Roger Gracie. “O Brasil sempre foi um grande desafio, as mudanças de cenário são constantes, então investir aqui é como fazer um soltinho com o Roger”.

Apoio para a nova geração 

Outro papel importante das empresas que movimentam o universo do Jiu-Jitsu é o de apoiar atletas, independente da forma. Se nem todas conseguem exercer tal função, muitas trabalham nesse sentido, visando propagar e fortalecer o legado da arte suave mundo afora. Uma das mais tradicionais e renomadas marcas de artigos voltados para o mundo da luta, a Prime resolveu apostar em uma nova vertente. Desde 2016, realiza frequentemente o Prime Esportes Jiu-Jitsu Experience, que a cada evento reúne mais atletas e, ao longo dos últimos dois anos, já promoveu edições de alto nível até fora do Brasil.

“Não é fácil (obter retorno financeiro). Fazemos o que a gente faz porque tem uma indústria por trás onde temos outras frentes. A única vertente da Prime que tem investimento em marketing é a parte esportiva, mas vendemos muitas outras coisas. Tudo isso sustenta uma situação para podermos tocar a Prime Esportes de uma forma mais confortável, se não a coisa seria diferente”, afirmou Fabiano, destacando ainda o investimento em novos talentos, assim como a Keiko Sports, que foca em nomes ainda “desconhecidos”.

“A gente tem como cultura apoiar quem está começando. Então, a gente investe nos jovens talentos. Só no Rio de Janeiro, em parceria com a LBV, Geração UPP, são mais de 30 projetos, mas o principal são os eventos”, contou o responsável pela parte comercial e de marketing da Prime, recebendo coro de Geraldo: “Nosso investimento se dá através dos patrocínios de atletas, eventos e federações, pois dessa maneira a gente acredita que pode ajudar o esporte a se desenvolver mais. Sempre procuramos atletas em formação, que ainda não despontaram. Nosso objetivo é tentar ajudar no início das carreiras, a fase mais difícil”.

Por fim, Henrique falou sobre o trabalho da Art4Fight voltado para mulheres: “Temos umas dez, 12 meninas que são apoiadas pela Art4Fight, ganham quimonos, roupas, e só elas de apoiadas. Mas por que isso? Porque as meninas têm um apelo mais bacana na mídia, nas redes sociais. Elas tiram fotos mais trabalhadas, não fotos feias, que nem a maioria dos homens tira (risos). Elas se maquiam, escolhem uma paisagem bacana e estão sempre usando nosso material, então acabamos investindo só em meninas. Inclusive, acabamos selecionando mais três meninas para o grupo e, devido a alta demanda, teremos ainda mais três vagas. Não temos um perfil específico. Tem criança já supercampeã, tem faixa-branca master, faixa-azul, faixa-roxa, todos os tipos de meninas, de todas idades, para explorar o Jiu-Jitsu em sua totalidade”.

Diferença Brasil x Estados Unidos

Fabiano Marinho, Prime Esportes: “A diferença entre o mercado americano e o brasileiro é surreal. Lá é imensamente maior, uma economia forte, um país com tradição nas artes marciais, e o Jiu-Jitsu começou pequeno, mas hoje aonde você for nos EUA tem uma academia”.

Henrique Krause, Art4Fight: “Sim (existe uma grande diferença). Mas a diferença ao meu ver se dá única e exclusivamente pelo momento econômico dos dois países. Hoje os americanos consomem insanamente o Jiu-Jitsu em todas frentes possíveis e imagináveis”.

Geraldo Marra, Keiko Sports: “Sim (tem uma diferença), porém o mercado do Jiu-Jitsu nos Estados Unidos ainda é formado em boa parte por brasileiros que foram pra lá. Isso acaba levando um pouco do estilo brasileiro também. Porém, a dinâmica dos negócios nos EUA é bastante diferente”.

* Por Diogo Santarém