Coluna Treinamento Desportivo: conheça mais sobre o método russo ‘ISOTON’, suas particularidades e benefícios ao lutador

Coluna Treinamento Desportivo: conheça mais sobre o método russo ‘ISOTON’, suas particularidades e benefícios ao lutador

Neste artigo, convidamos Cleyton Teixeira, especialista em Fisiologia do Exercício para escrever juntamente com nossos colunistas sobre o “Método Russo de Treinamento – ISOTON”. 

O sistema de treinamento estático-dinâmico ISOTON foi desenvolvido pelo cientista russo Victor Nikolaevich Seluyanov (1946 – 2017) e encontra-se disponível no Brasil nos livros, em conjunto com seu aluno e colunista da TATAME – Dr. Stéfane Dias. Esse método tem a finalidade de aumentar o número de miofibrilas nas fibras musculares oxidativas FMO (Hipertrofia).

Sabemos que os métodos tradicionais de treinamento para hipertrofia muscular são eficazes para as fibras musculares intermediárias e glicolíticas, com efeito reduzido de hipertrofia nas FMO (4). Outro ponto importante sobre os métodos tradicionais de treinamento para hipertrofia é a utilização de cargas elevadas, que normalmente gera lesão na fibra muscular para que ocorra a hipertrofia, e por conta disso, os efeitos catabólicos podem superar os efeitos anabólicos, fazendo com que os praticantes que utilizam somente esses métodos alcancem um platô de hipertrofia muito rapidamente. 

No sistema de treinamento ISOTON não existe a necessidade de danificar propositalmente as fibras musculares para gerar hipertrofia, e os estímulos são precisamente controlados para estimular a hiperplasia miofibrilar; alguns fatores como a porcentagem de carga utilizada, tempo de execução do exercício, angulação dos movimentos, intervalos de descanso longos para criar um ambiente favorável a hipertrofia e o controle da velocidade de execução do exercício, são primordiais para que todos os processos bioquímicos nos órgãos e sistemas ocorram dentro do proposto pelo sistema ISOTON. 

O método para hipertrofia das fibras musculares oxidativas por meio da hiperplasia das miofibrilas consiste em executar o exercício sem o relaxamento dos músculos ativos. Com a execução dos movimentos em amplitude reduzida e nos ângulos de maior tensão (método estático-dinâmico), nesse caso, as fibras musculares tensionadas comprimem os capilares, provocando a oclusão (parada sanguínea). A perturbação da circulação sanguínea leva a hipóxia das fibras musculares, ou seja, intensifica-se a glicólise anaeróbia nas fibras oxidativas, acumulando-se nelas lactato e íons de hidrogênio. Essas condições são criadas com o trabalho contra força da gravidade, tração com elásticos, pesos livres ou máquinas de musculação (1).

Abaixo, o veterano ex-UFC Gleison Tibau e o faixa-preta e treinador de BJJ da American Top Team, Ailton Barbosa, demonstram a técnica do ISOTON. Reparem que os movimentos são realizados em amplitude reduzida, com o propósito de manter o músculo em tensão constante (sem relaxamento muscular). 

Iso pic 1 A Shoulder

A) Posição inicial

Iso pic 1 B Shoulder

B) Posição final

Iso pic 2 A Lunges

A) Posição inicial

Iso pic 2 B Lunges

B) Posição final

Para facilitar o aprendizado, mostraremos um exemplo nos moldes do sistema ISOTON (3):

  • Intensidade de 30% a 60% da repetição máxima (RM);
  • Duração do exercício: 30 a 60 segundos de contração em cada supersérie (até a rejeição provocada pela dor muscular);
  • Número de superséries: 3 a 6;
  • Intervalos entre as séries de superséries: 5 a 10 minutos (o descanso deve ser ativo); 
  • Número de séries: 6 a 12;
  • Quantidade de treinos diários: 1, 2 ou mais;
  • Quantidade de treinos semanais: o exercício repete-se após 3 a 5 dias.

A intensidade do exercício deve ser escolhida de tal forma que sejam recrutadas somente as fibras musculares oxidativas. A duração do exercício não deve ultrapassar os 60 segundos, caso contrário, a acumulação de íons de hidrogênio pode ultrapassar a concentração ótima indispensável para a ativação da síntese de proteínas. Para o aumento do tempo da permanência da creatina livre e dos íons de hidrogênio nas fibras musculares oxidativas, é indispensável executar o exercício em espécie de séries de repetições, ou melhor: a primeira série não deve ser executada até a rejeição (aproximadamente 30 segundos), depois, segue-se o intervalo de descanso de 30 segundos. Dessa forma, repete-se mais 3 a 5 vezes as séries, depois, efetua-se um longo descanso de 5 a 10 minutos ou exercita outros grupos musculares (1). 

A vantagem de tal exercício (no fisiculturismo é chamado de “supersérie”) é que a creatina livre e o hidrogênio estejam presentes nas fibras musculares oxidativas no decorrer dos exercícios bem como nos intervalos de descanso. Consequentemente, o tempo total de ação dos fatores (creatina livre, íons de hidrogênio) que induzem a formação de RNAm aumenta significativamente em comparação com as opções de treinamento descritas anteriormente. Um aumento na concentração de íons hidrogênio nas FMO não pode causar catabolismo significativo, uma vez que existem muitas mitocôndrias e elas os absorvem muito rapidamente. Porém, quando treinamos com altas cargas e com intervalo de recuperação reduzido as FMG por apresentarem poucas mitocôndrias, fazem com que os íons de hidrogênio permanecem lá por um longo tempo e causando uma danificação mais forte (catabolismo) das organelas celulares (2).

Os fatores que estimulam a hiperplasia das miofibrilas nas fibras musculares são (4):

  • Aminoácidos (de origem animal 2g/kg a 2,5g/kg/dia)
  • Hormônios (GH, Testosterona), como resultado do estresse físico
  • Creatina livre: ativa o metabolismo na célula
  • Íons de hidrogênio: uma concentração ótima faz a labilização das membranas celulares (dilatação dos poros das membranas, o que por sua vez, facilita a penetração de hormônios anabólicos nas células.

Observação: o sistema de treinamento estático-dinâmico ISOTON deve ser usado como um complemento do treinamento para hipertrofia muscular, visto que o programa também deve enfatizar o treino com cargas elevadas que servem de estímulo para hipertrofia das fibras intermediarias e glicolíticas e será demonstrado em um próximo artigo.

Autor correspondente:

-Professor – Cleyton Teixeira de Brito
Graduado em Educação Física (Licenciatura Plena) Universidade Vale do Acaraú;
Especialista em Musculação e Treinamento de Força (Fanor);
Especialista em Fisiologia do Exercício (Universidade Estadual do Ceará);
Curso de aperfeiçoamento em Adaptologia Desportiva (Certificação pelo ProSportLab Russia);
Treinador em Fisiculturismo e Fitness desde 2005.

E-mail: [email protected]
Instagram: @cleytontreinador

Referencias:

1- Seluyanov V.N., Dias S.B., Andrade S.F – Musculação: Nova Concepção Russa de Treinamento. Curitiba: Juruá, 2008. Pag 76 – 78

2- Seluyanov V.N., Dias S.B., Lopes L.A., ISOTON Uma Nova Teoria e Metodologia Para o Fitness. Curitiba: Juruá, 2017. Pag 50 – 53

3- Dias S.B., Oliveira E.B., Junior A.G., Teoria e prática do treinamento para MMA. São Paulo: Editora Phorte, 2017.Pag 47 -48. 

4- Seluyanov V.N., Hiperplasia de miofibrilas em fibras oxidativas http://prosportlab.com/works/strength-training/ch7

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Diego Lacerda: Mestre em Treinamento Desportivo – Rússia / E-mail: [email protected]/ Instagram: https://www.instagram.com/diegolacerdatkd/

Pavel Pashkin: Mestre em Treinamento Desportivo e Treinador Profissional de Sambo – Rússia / E-mail: [email protected]/ Instagram: https://www.instagram.com/pashkinpavel