Com luta marcada, Ariane Lipski conta detalhes de mudança para os EUA e chegada à American Top Team: ‘Evolução tem sido enorme’

Com luta marcada, Ariane Lipski conta detalhes de mudança para os EUA e chegada à American Top Team: ‘Evolução tem sido enorme’

Ariane Lipski vem embalada por duas vitórias no UFC (Foto reprodução Instagram)

* Atleta do plantel do UFC desde 2019, Ariane Lipski vinha de duas vitórias consecutivas, mas em sua última apresentação, em novembro do ano passado, acabou sendo derrotada por Antonina Shevchenko via nocaute no segundo round, conhecendo seu terceiro revés em cinco lutas dentro da organização. O resultado negativo trouxe lições e mudanças para a carreira da brasileira, que logo após o combate, passou a morar nos Estados Unidos – acompanhada do seu marido e principal treinador, Renato Silva -, onde vem treinando na renomada American Top Team, considerada por muitos a melhor equipe de MMA da atualidade.

Com luta marcada diante de Montana de la Rosa para o dia 5 de junho, a peso-mosca garantiu que, aos poucos, vem evoluindo seu jogo. Oriunda da luta em pé, Ariane focou bastante no Jiu-Jitsu ao longo dos últimos anos e agora pretende dar ênfase maior ao Wrestling, algo que vem praticando de forma constante desde a ida para a ATT. Em entrevista à TATAME, a curitibana falou mais sobre os aprendizados que está adquirindo na equipe americana.

“O pessoal é profissional e tem muitas meninas para treinar, era exatamente isso que estávamos procurando, porque no Brasil eu não tinha muitas parceiras de treino, então era difícil encontrar meus erros, principalmente na parte de Wrestling. A diferença é o material humano, principalmente na ATT, que tem atletas do mundo todo, de vários eventos, treinando juntos. São vários estilos de luta, então você evolui e corrige seus erros durante os treinos, porque é colocado em situações diferentes a todo momento. Isso te deixa preparado para tudo”, destacou a atleta de 27 anos.

Veja a entrevista completa com Ariane Lipski:

– Bastidores da mudança para os Estados Unidos

A oportunidade veio na última luta. Resolvemos ficar aqui desde o meu último combate e, depois do resultado, conversamos e já tínhamos pensado, o Renato e eu, em vir para os EUA, sempre tivemos essa vontade, para melhorar o Wrestling. No ano que entrei no UFC, tentamos duas vezes, mas não deu certo, não era a hora. Depois da minha luta com a Antonina, fiquei uma semana em Las Vegas, porque tinha me machucado e precisava ficar em repouso, daí nossos empresários na Flórida ligaram para conhecer a gente pessoalmente e fomos para Miami. Nessa conversa, eles falaram que queriam que a gente ficasse aqui e nós reforçamos que também tínhamos essa vontade. O plano era voltar para o Brasil, pegar nossas coisas e voltar, mas por conta da Covid-19, as coisas estão complicadas em relação a entrada nos EUA, só conseguimos essa luta em novembro porque o UFC teve liberação.

Essa mudança foi um momento bem importante, com decisões sérias a tomar e, por sorte, fomos conhecer a American Top Team. Foi a primeira academia que pensamos estando nos EUA. Nesse dia, um amigo de infância do Renato, que mora ao lado da ATT, mandou mensagem e fomos visitá-lo. Contamos a situação que estávamos passando e ele nos ofereceu abrigo até arrumarmos um lugar fixo para ficar. Ficamos um tempo lá, e eu ainda não podia treinar, então foi o tempo que eu precisava para encontrar um apartamento, fazer a mudança e organizar tudo para começar tudo em janeiro e passar a treinar na American Top Team.

– Boa adaptação aos treinos na American Top Team

A gente foi muito bem recebido, o pessoal é muito profissional e tem muitas meninas para treinar, era exatamente isso que estávamos procurando, porque no Brasil eu não tinha muitas parceiras de treino, então era difícil encontrar meus erros, principalmente na parte de Wrestling. Eu só conseguia ver esses erros na luta, porque nos treinos eu estava bem. Aqui, na ATT, não. Por ter muitas parceiras de treino, eu erro, elas me colocam em situação difícil e no dia seguinte eu já consigo estudar, o Renato me mostra o que estou errando, então minha evolução está sendo muito rápida graças a isso e aos treinadores. O Steve Mocco (renomado treinador de Wrestling) está sendo muito importante também nesse processo. A adaptação está sendo muito boa. Tem muito brasileiro na academia, o clima é excelente, muito parecido com o Brasil. A comida é excelente, tem muito mercado brasileiro (risos), então a gente consegue manter uma rotina parecida nesse sentido. Continuo fazendo parte da Rashtai, academia do Renato Silva, meu treinador, mas por enquanto vamos ficar na American Top Team, com direcionamento do Renato, que está sempre me acompanhando.

 

– Principal diferença dos treinos no Brasil e nos EUA

A diferença é o material humano, principalmente na ATT, que tem atletas do mundo todo, de vários eventos, treinando juntos. São vários estilos diferentes, então você evolui e corrige seus erros durante os treinos, porque você é colocado em situações diferentes a todo momento. Isso te deixa preparado para tudo. O Wrestling aqui é muito bom e, no Brasil, tem essa carência. O Brasil tem um Jiu-Jitsu bom, striker idem, mas o Wrestling é diferente. A rotina no Brasil também muda. Lá temos família, amigos… Aqui também temos amigos, mas é tudo muito diferente. Percebi que estamos só trabalhando mesmo, ainda mais depois do último resultado. Estamos nos dedicando ainda mais, o tempo todo, não apenas no período dentro da academia. Me sinto cada vez mais focada e isso está fazendo muita diferença. Durante esse período, a atleta que mais tive contato foi a Maryna Moroz (atleta peso-mosca do UFC). Desde que cheguei, tenho várias parceiras de treino. No início, treinei muito com a Valerie Loureda (atleta do Bellator) e outras atletas, mas agora treino mais com a Maryna, pois somos da mesma categoria e temos luta marcada no mesmo dia, então ela virou uma parceira fixa.

– Lições da derrota para a Antonina Shevchenko

Não demorei muito para analisar minha última luta. Nunca é bom perder, mas aprendi muito. A experiência da luta é completa e, de todas as derrotas, essa foi a que melhor soube lidar. Fiquei triste, foi difícil, porque me machuquei e fui para o hospital. Foi um momento de muita reflexão, perguntando os motivos daquilo estar acontecendo. A avaliação que tenho da última luta é que faltou Wrestling. Eu estava muito bem em pé, treinei muito Jiu-Jitsu, mas de uma maneira mais ofensiva que defensiva. A Antonina fez uma estratégia muito boa, me pegou de surpresa tentando me colocar para o chão. Eu tentei colocar para baixo no começo, e esse foi meu maior erro, porque essa não foi a estratégia, mas foi uma opção. Eu estava bem, minha mão estava entrando, mas fui forçar a queda, insisti em posições erradas e meus braços cansaram. Comecei a cometer vários erros e ela passou a acertar em cima dos meus erros. Méritos dela, mas vejo que a luta poderia ser diferente se eu não insistisse tanto na queda. Foi bom para eu ver mais detalhes da luta e ver a importância do Wrestling, e é isso que estou fazendo aqui na American Top Team. Estou aprendendo a entender esse jogo para poder usar meu Jiu-Jitsu e sinto que pude evoluir muito através dessa derrota. Tudo acontece por uma razão. Foi um passo atrás para poder dar dois adiante.

– Análise do combate contra Montana de la Rosa

Ela é uma boa grappler e acredito que o meu objetivo é mostrar o quanto cresci ao longo das últimas lutas. Tenho trabalhado muito, mas tudo é questão de tempo. Ainda erro por algumas razões, mas é um processo e tenho que refinar as posições. Quero mostrar que tenho feito isso, estudado e treinado muito. O meu treinador Renato Silva é muito técnico e tático, então o meu estilo atleta de ser eu aprendi com ele. É treinar com foco e objetivo, isso que ele me ensinou. A evolução tem sido enorme e é isso que quero mostrar na luta. Agressividade e técnica em todas as áreas. A melhor maneira de mostrar isso é contra uma boa grappler. Ela é um ótimo nome e tem tudo para ser uma boa luta. Nós sabemos o estilo de luta uma da outra e vai vencer quem tiver feito melhor a lição de casa. Eu já estava há 10 semanas treinando antes do início do camp e ainda vou entrar nas oito semanas principais de treino para a luta. Estou muito confiante de que vou conseguir mostrar em tudo que venho evoluindo e vou conseguir essa vitória.

* Por Mateus Machado