Como propaganda de TV fez nascer a SJJIF: conheça o trabalho da federação que quer levar o Jiu-Jitsu para os Jogos Olímpicos

Como propaganda de TV fez nascer a SJJIF: conheça o trabalho da federação que quer levar o Jiu-Jitsu para os Jogos Olímpicos

* Muitos praticantes de Jiu-Jitsu se perguntam o motivo da modalidade não fazer parte do quadro olímpico. Em 2012, às vésperas dos Jogos de Londres, na Inglaterra, durante um comercial chamando para o evento, João Silva, atual presidente da SJJIF (Sports Jiu-Jitsu International Federation), passou a se questionar sobre a ausência da arte suave nas Olimpíadas e o que era preciso para ela entrar no radar do COI (Comitê Olímpico Internacional). A partir daí, com ajuda de Samuel Aschidamini e Patrícia Silva, com quem realizava eventos através da federação norte-americana NABJJF desde 2005, decidiu criar a SJJIF.

“Passei a pesquisar o que levava um esporte a se tornar olímpico e o que estava faltando para o Jiu-Jitsu chegar lá. Foi ali que eu descobri que até então, não existia nenhuma federação internacional registrada ou reconhecida pelas entidades esportivas internacionais. Existiam vários organizadores de eventos que se intitulavam como uma federação e vários eventos classificados como Mundial, mas que não eram organizados por órgãos oficiais”, afirmou João.

Desta maneira, ele buscou pontos que não existiam no Jiu-Jitsu, como a união no esporte entre representantes de outras federações que pudessem colaborar para o desenvolvimento da modalidade. Rapidamente, o núcleo da SJJIF, que ainda era pequeno, foi reunindo pessoas pelo mundo como Edison Kagohara, Summer Casebere, Cleiber Maia, Marcello Rosa e Jildson Simoes.

Em 2019, a SJJIF está completando o seu sétimo ano de atuação, mas foi em 2013 que ela realizou o primeiro Campeonato Mundial, evento que, na edição de 2018, teve participantes de mais de 70 nacionalidades. João, faixa-preta quarto grau, fez um balanço de como tem sido a atuação da entidade, que segundo ele já tem o apoio de 50 países entre federações e associações:

“A SJJIF vem se desenvolvendo de uma maneira natural. Fundada como uma federação sem fins lucrativos, todo o dinheiro arrecadado é reinvestido na nossa missão, em projetos, custos de eventos, em prêmios para os nossos atletas e muito mais. Neste período, já conseguimos o reconhecimento de grandes organizações internacionais como a Tafisa, ICSSPE, WMAGC, UNESCO TSG e WPFG, por exemplo”, apontou o presidente.

De fato, a missão para tornar o Jiu-Jitsu olímpico não é tão simples. João apontou alguns itens que ainda atrapalham o avanço da arte suave rumo ao maior evento esportivo do mundo: “Existem várias barreiras, uma delas é a união e o entendimento das pessoas em relação aos benefícios do esporte ser olímpico e o que a SJJIF representa. É importante que as pessoas entendam que a SJJIF não tem um dono e não representa um grupo, ela é a federação oficial do nosso esporte. Muitas pessoas se confundem com nomes de organizadores de eventos e isso cria uma barreira. Eu vou tentar explicar por aqui através de um exemplo fácil. Todo lutador de MMA quer ser campeão do UFC, mas a federação oficial do MMA é a IMMAF, que é reconhecida e tem sua missão olímpica, seu próprio título mundial e hoje conta com o apoio do UFC”, explicou João, que prosseguiu:

“No Jiu-Jitsu, não é diferente. Existem organizadores de eventos que fazem campeonatos há anos e que adquiriram o respeito da comunidade, como o Mundial da IBJJF, ADCC, Abu Dhabi World Pro da UAEJJF. Todos esses eventos contam com competidores de ponta, mas apesar de terem o seu mérito, não são organizados por federações internacionais sem fins lucrativos, por isso não são reconhecidos internacionalmente pelas entidades esportivas”, comentou o presidente, afirmando que os benefícios da modalidade ser olímpica são vários, como a globalização, reconhecimento do púbico, acesso à grande mídia, mais patrocinadores, entre outros.

A outra barreira é por conta de uma federação “concorrente”, a Ju Jitsu International Federation (JJIF), que foi fundada na Europa. O presidente da SJJIF destacou que a JJIF tem uma missão olímpica e tem usado a semelhança entre os nomes “Ju Jitsu” e “Jiu-Jitsu” para adquirir reconhecimento dentro do cenário internacional e do GAISF, Asian Games e World Games.

“A JJIF é hoje a maior barreira para a SJJIF e a maior inimiga do nosso esporte, pois além de promover crianças para a faixa-preta, a JJIF tem o Jiu-Jitsu como uma quarta parte do seu Ju Jitsu, tendo a modalidade como o Ne-Waza. A nossa linhagem, sistema de faixa, história, não existe nada nessa federação. Hoje, eles estão crescendo rapidamente e é importante alertar nossa comunidade. Se a JJIF adquirir o reconhecimento do Comitê Olímpico, o Jiu-Jitsu seria organizado e representado por líderes que não praticam e/ou representam o esporte, tanto no nível internacional como no nível nacional. Isso é algo que afetaria todo o nosso desenvolvimento e eliminaria nosso poder de voto”, alertou João.

Segundo o presidente da SJJIF, a federação tem todas as licenças, reconhecimento internacional, mas falta a conscientização da comunidade do Jiu-Jitsu diante das grandes federações internacionais para fazer parte do programa olímpico.

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Último Mundial da SJJIF promoveu a união entre diferentes classes (Foto divulgação SJJIF)

Profissionalização do esporte

Apesar do grande esforço, atualmente é possível presenciar mais lutadores conseguindo viver do Jiu-Jitsu em relação ao passado, quando era necessário migrar para o MMA em busca de “ganhar dinheiro”. Segundo o presidente da SJJIF, no entanto, o termo profissionalização ainda é uma meta a ser alcançada. Ele destacou que a arte suave precisa mudar alguns paradigmas para atingir o objetivo.

“Eu acredito que o termo profissional é algo que representa o futuro do nosso esporte, porém temos, hoje, algumas coisas que ainda limitam um pouco, como, por exemplo, o Jiu-Jitsu ainda não ser um esporte para o grande público. Não temos acesso à grade mídia e, então, fica limitado o alcance às grandes marcas ou patrocinadores, como acontece com outros esportes”, falou João, destacando também a importância de terminar com o fechamento de chaves entre lutadores e o uso de substâncias ilegais ou proibidas pela WADA (Agência Mundial Antidoping).

A inclusão de todos no Jiu-Jitsu

Assim como parte do trabalho visando os jogos olímpicos, a SJJIF busca sempre a integração de todos dentro do Jiu-Jitsu. A federação proporciona em seus eventos competições exclusivas para o Parajiu-Jitsu, pessoas com deficiência auditiva e também com necessidades especiais.

“Desde o início, a nossa missão foi de ter o reconhecimento em todos os eventos olímpicos, incluindo as Paraolimpíadas, Olimpíadas de Surdos e as Olimpíadas Especiais. Isso tem sido algo que temos priorizado para que os atletas com uma forma de deficiência tenham a oportunidade de fazer parte dos nossos eventos. Sendo assim, todas as nossas regras foram desenvolvidas seguindo os requerimentos de cada evento olímpico para que, da forma correta, se desenvolva e venha a ter a aceitação dentro dos seus respectivos Jogos”, frisou o presidente.

Olimpíadas dos policiais e bombeiros

Se o caminho para os Jogos Olímpicos de Verão ainda está sendo construído aos poucos, neste ano, nas Olimpíadas dos policiais e bombeiros, a SJJIF inseriu o Jiu-Jitsu. O resultado foi um sucesso, sendo a modalidade de lutas com o maior número de atletas inscritos. O evento aconteceu no último mês de agosto, na China, e a arte suave foi confirmada para as próximas duas edições na Holanda (2021) e no Canadá (2023).

“Nós participamos do World Policie and Fire Games (WPFG) e tivemos muito sucesso. Esses jogos são de grande importância para o Jiu-Jitsu. Além dos atletas das forças militares que participam, também permite o trabalho dos professores no treinamento de policiais e bombeiros, não apenas na parte de defesa pessoal, como no lado competitivo”, destacou João.

 

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Próximos passos e diferencial da SJJIF

Agora, a SJJIF está se preparando para mais uma edição do Mundial. O evento de 2019 vai acontecer entre os dias 8 e 10 de novembro, na Califórnia (EUA). As inscrições estão abertas no site da organização e mais de 1000 atletas já se registraram. A competição vai distribuir US$ 74 mil em premiações e mais cinturões para os campeões do absoluto leve e pesado. À TATAME, o presidente contou qual é o diferencial da federação em relação as outras instituições que atuam no Jiu-Jitsu: “A maior diferença é o fato de a SJJIF ser uma federação sem fins lucrativos, clara, limpa, onde a missão e as finanças são abertas e as decisões votadas pelos líderes de todas federações oficiais reconhecidas pela SJJIF. Nós não apenas organizamos eventos competitivos, e sim protegemos os interesses do nosso esporte e comunidade incluindo linhagem, história, cultura, compartilhando e promovendo os atributos e benefícios do nosso esporte pelo mundo”, concluiu.

* Por Yago Rédua