Do bullying ao protagonismo, brasileiro defende título em evento americano e sonha com o UFC: ‘Meu maior objetivo’

Do bullying ao protagonismo, brasileiro defende título em evento americano e sonha com o UFC: ‘Meu maior objetivo’

* Vinícius de Jesus é mais um daqueles casos de atletas que começam a praticar a arte marcial, inicialmente, sem compromisso e acabam criando apego e paixão pelo esporte. O que de início era uma “ferramenta” para fugir do bullying se tornou hoje a principal fonte de renda do gaúcho, que viu sua vida mudar completamente nos últimos anos, mas que nunca deixou de lado o amor que o levou para a luta.

Desde o início no Jiu-Jitsu e no Boxe, ainda com 12 anos, Vinícius viu a necessidade de amadurecer antes do tempo. Se tornou pai aos 17, saiu do Brasil para morar nos Estados Unidos para se dedicar à luta, largou os afazeres voltados para a Gastronomia – área de atuação que vem de família – e resolveu optar pelo incerto mundo do MMA, onde muitos lutadores almejam e sonham, mas poucos realmente se consagram.

Em poucos anos, um turbilhão de acontecimentos marcou a vida do gaúcho. O começo no MMA, obviamente, foi marcado por dificuldades. O início no Brasil, a ida para os Estados Unidos e a trajetória promissora no Bellator serviram de aprendizado para o lutador, que hoje, aos 29 anos, é campeão meio-médio do CES MMA, evento que serve como “passaporte” para atletas que almejam lutar no Ultimate.

Com o sonho de poder atuar em breve pelo Ultimate, Vinícius de Jesus terá um importante teste no próximo sábado (7), quando defenderá seu título diante de Chris Lozano no CES 58, que será realizado em Connecticut (EUA). Uma nova vitória no evento pode representar o tão desejado contrato com o UFC.

“Hoje sou campeão pelo CES, sob a tutela do UFC Fight Pass, que transmite os eventos. Meu maior objetivo é lutar no UFC, chamar a atenção do Dana White. Se eu entrar lá, só eu e meu time vamos saber o quão sacrificante foi para chegar lá, não vai ser fácil me tirar do UFC”, projetou o casca-grossa brasileiro.

Confira a entrevista completa com Vinícius de Jesus:

– Início nas artes marciais

Minha trajetória nas artes marciais começou basicamente há 16 anos, hoje estou com 29. Foi porque eu sofria muito bullying, sempre fui muito caçado pela ‘gurizada’ por questões de inveja, pois era uma criança muito popular na escola, praticando esportes. Chegou a um ponto que ficou perigoso, onde algumas ‘gangues’ estavam passando a me incomodar, e eu com um instinto de luta já absorvido pelo DNA do meu pai, nunca aceitei esse tipo de covardia, eu sempre reagia, sempre batia em meia dúzia. Mas tomou uma proporção tão grande que meu pai viu, me tirou desse ambiente e me colocou em um local mais saudável, onde pude canalizar minha energia em uma coisa que poderia tirar proveito e que me educasse também. Com 12 anos comecei no Jiu-Jitsu e foi onde dei meus primeiros passos, também treinava Boxe com meu pai. Cresci nesse ambiente e comecei a descobrir que era possível ter uma vida diferente através do esporte.

– Bellator, CES MMA e UFC

Desde o meu início no MMA, a única luta que posso dizer que foi fácil aconteceu na estreia, quando consegui nocautear o cara em 20 segundos (risos). Depois disso, só tive pedreira no meu caminho. No Brasil, a única derrota que eu tive foi bem contestada, por decisão dividida. Desde que vim para os EUA, cresci bastante através do evento Premier Fighting Championship, onde ganhei muita notoriedade. Dali, surgiu a oportunidade de ir para o Bellator, em 2016. Comecei pegando uma pedreira, enfrentando um cara que vinha de passagem pela prisão, que estava querendo se refazer na sociedade e vinha de seis vitórias seguidas, mas não me importei, não me intimidei e finalizei no segundo round. Na segunda luta, peguei outro cara experiente, que vinha numa boa pegada, com 8-1, o Bellator queria promovê-lo e foi frustrante demais. Eu vi claramente dois rounds à meu favor, mas no final das contas, mais uma vez perdi por decisão dividida, onde considerei novamente que venci. Durante esse período, eu tirei dois intervalos de um ano na organização, pois tive dois filhos e precisei me adaptar e adaptar minha família à nova rotina.

Quando voltei, lutei na categoria de cima, aceitei, apesar de não ter sido o melhor pagamento, mas precisava da grana. Lutei com um cara que estava vindo do ‘Contender Series’, de derrota, mas que o Bellator queria promovê-lo por ele ter muitos fãs. Mais uma vez me pegaram para servir de ‘escada’, mas eu não deixei barato. Estava consciente que eu tinha que entrar para destruir, e foi dito e feito. Massacrei ele durante todos os rounds e venci por decisão unânime, quase finalizando no final da luta. Na sequência, me chamaram depois de uns meses para o Bellator 216 contra um cara que não tinha experiência, não tinha o meu nível técnico, que não me interessava. O dinheiro não era nem perto do que eu achava que merecia, mas eu precisava lutar. Fui lá com a missão de nocautear e assim eu fiz, ainda no primeiro round. No momento que saí do cage, o evento CES MMA me chamou para fazer uma luta principal no evento deles, disputando o título mundial, eu negociei e fechamos. Hoje sou campeão pelo CES, sob a tutela do UFC Fight Pass, que transmite os eventos. Meu maior objetivo é lutar no UFC, chamar a atenção do Dana White. Se eu entrar lá, só eu e meu time vamos saber o quão sacrificante foi para chegar lá, não vai ser fácil me tirar.

– Defesa de cinturão do CES

A expectativa para defender meu título está grande. Estamos bem focados de que vamos sair com a vitória, não temos nada mais em mente do que uma boa vitória, chamando a atenção do UFC, do Dana White, ou até mesmo uma chance no ‘Contender Series’. Mas o nosso objetivo é a entrada no UFC, não há nenhum plano que não seja esse. É o nosso plano para a reta final do ano ou início de 2020 e vou atrás com tudo.

– Objetivo de lutar no UFC

É um objetivo. É a maior liga, onde se tem maior visibilidade, onde o dinheiro realmente rola e onde as coisas acontecem, e lá estão os melhores lutadores do mundo. É lá que a minha trajetória tem que passar. Eu abriria mão de qualquer outra organização caso eu consiga fechar um bom contrato com o Ultimate.

– Ida para os Estados Unidos

No processo pela busca dos sonhos, a gente abre mão de muitas coisas e não é de hoje, não é da minha vinda para os EUA, que eu venho abrindo mão. Venho dando prioridade sempre para as coisas que fariam diferença na minha vida pessoal e profissional. Vir para outro país causa uma mudança cultural, é um ‘choque’, até porque eu nunca tinha viajado para outro país. Passei muitas dificuldades de adaptação nos Estados Unidos, no começo eu não sabia me comunicar, mas com perseverança, trabalho duro e vontade, a gente vai superando as dificuldades. Foi assim para mim na luta e na vida. Estou preparado para qualquer outro desafio que a vida possa me impor. Estou vivendo um grande momento agora e visando colher muitos frutos até o final desse ano, para começar 2020 em um nível completamente diferente.

* Por Mateus Machado