Busca por evolução: Tayane Porfírio, Fellipe Andrew e os irmãos Munis comentam como foi mudar de equipe e encarar as críticas

Busca por evolução: Tayane Porfírio, Fellipe Andrew e os irmãos Munis comentam como foi mudar de equipe e encarar as críticas

* Se antigamente a mudança de equipe por parte de um atleta era tratada de maneira totalmente condenável – surgindo, no fim da década de 80, o termo “creonte” -, nos dias atuais, apesar de uma certa resistência de alguns professores e representantes da velha guarda, a ida de um lutador para outra equipe é encarada com mais naturalidade no universo da arte suave. O motivo mais comum? A busca por evolução e melhores oportunidades.

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Para abranger com mais detalhes o tema, que ainda gera bastante polêmica nos bastidores da modalidade, a TATAME conversou com atletas renomados que, nos últimos anos, passaram por esse processo. Fellipe Andrew, Tayane Porfírio e os irmãos Munis (Erich, Alex e Anderson) trocaram de equipes por diferentes motivos, mas uma razão em comum: a procura por evolução técnica, melhores oportunidades, estrutura para treino e um futuro dourado.

Durante o bate-papo, Andrew, Tayane, além de Erich e Alex Munis, falaram abertamente sobre o assunto e, de maneira geral, comentaram os motivos da mudança de equipe, como foi lidar com as críticas e comentários negativos a partir do momento em que a decisão se tornou pública, o que mais evoluíram e absorveram com a troca de academia, e não menos importante, como é a relação com os primeiros professores.

Andrew e Tayane revelam motivos da troca

Campeão absoluto no último Pan-Americano da IBJJF e figura constante nos principais campeonatos mundo afora, Fellipe Andrew tomou uma importante decisão em julho. Treinando desde os 18 anos sob o comando de Rodrigo Cavaca na Zenith, em Santos (SP), o jovem faixa-preta, em conjunto com seu professor, decidiu que era hora de dar um “salto na carreira” e, desta forma, rumou para a Alliance San Diego, nos Estados Unidos. Na visão da dupla, o foco tem que ser total na evolução do lutador.

“Na verdade, foi uma decisão (troca de equipe) tomada não por mim, mas sim pelo meu professor (Rodrigo Cavaca). O motivo foi pela estrutura que eu estava recebendo, ele pensou no melhor pra mim e eu segui o conselho. Agradeço muito a ele pela postura, em sempre pensar no meu melhor como atleta e por toda a ajuda nesses anos. Toda mudança agrega na vida de cada um, e comigo não foi diferente. Eu senti que aprendi muito em vários aspectos no meu dia a dia, não só na questão dos treinos e competições. Só tenho a agradecer a todos os envolvidos nesse processo”, disse Fellipe, que completou sobre algumas críticas que recebeu com a decisão.

“As críticas em relação a esse assunto vão sempre existir, não tem jeito. Mas as críticas só vêm de quem não evoluiu e ficou parado no tempo. Estou e estarei sempre buscando minha evolução como atleta, pensando no meu melhor como atleta de Jiu-Jitsu, na evolução dos meus treinos e na minha melhora no dia a dia”, destacou.

Considerada uma das principais atletas do Jiu-Jitsu feminino na atualidade, Tayane Porfírio precisou encarar um turbilhão de acontecimentos nos últimos anos. A jovem faixa-preta se mudou do Brasil para a Inglaterra, recebeu uma longa suspensão da USADA (Agência Antidoping dos EUA) que a impede de competir nos torneios da IBJJF e deixou a equipe Alliance, treinando atualmente com o multicampeão Roger Gracie em Londres. Mas as mudanças trouxeram maturidade para Tayane, que citou as dificuldades em trocar de “time” e que alterou sua forma de avaliar certas situações.

“Foi bem difícil a troca de equipe, é sempre uma decisão difícil de tomar, envolve professor, a equipe e mudanças. É uma mistura de sentimentos. Mas minha decisão foi por ter saído do Brasil e aqui (Londres, na Inglaterra) não ter Alliance. Mudei bastante minha forma de pensar, sobre o que falar e não falar em devidos lugares, saber me controlar para não rebater críticas. A gente começa a conhecer pessoas com uma mente evoluída, e aqui as pessoas têm uma forma de pensar muito evoluída”, contou a casca-grossa.

Com planos de retornar às competições no ADCC 2021, Tayane também falou sobre como foi a reação do seu professor, Gigi Paiva, que acompanhou a lutadora por anos na Alliance Rio de Janeiro, ao saber da sua decisão de sair do Brasil e, consequentemente, trocar de equipe. Hoje em dia, segundo ela, a relação entre os dois é boa, no entanto, na época, professor e atleta chegaram a ficar alguns meses sem se falar.

“Na época foi difícil, ficamos sem nos falar durante alguns meses e depois consegui que ele entendesse o meu lado. O problema nunca foi a equipe (Alliance), ele entendeu o real motivo por eu sair e entramos em um acordo. Ele é peça fundamental na minha vida profissional, ele sabe o que falar, e o que ele fala pra mim eu não discuto, porque ele me conhece mais do que eu mesma (risos). Hoje em dia não vivo sem ele”, afirmou.

Irmãos Munis unidos visando a evolução

Erich Munis e seus irmãos, Anderson e Alex, foram graduados faixas-preta recentemente e fazem parte da Dream Art, projeto sediado em São Paulo que tem como principal idealizador o faixa-preta Isaque Bahiense, com a missão de profissionalizar atletas promissores dentro da arte suave. Apesar de jovens, os “irmãos Munis” já possuem uma trajetória repleta de grandes conquistas no Jiu-Jitsu. Os três atingiram bons resultados nas faixas coloridas e muito disso se deve ao trabalho desenvolvido por Rodrigo Feijão no Clube Feijão, em Maringá (PR).

Erich e Alex comentaram o complexo processo de transição que passaram até chegarem na Dream Art, destacando que a decisão de deixar Maringá foi tomada em conjunto pelos três irmãos, que visualizaram uma oportunidade de crescimento em suas respectivas carreiras com a ida para São Paulo.

“A mudança foi bem difícil no começo, até porque eu tinha muitos amigos na outra equipe. O principal motivo para tomarmos essa decisão foi a questão da oportunidade. Vimos a chance de crescermos como atletas, de ter mais oportunidades de poder viajar e, assim, construir melhor nossa carreira dentro do Jiu-Jitsu. Isso foi primordial para que pudéssemos tomar essa decisão. Com essa vinda para a Dream Art, eu acho que foi o profissionalismo que mais fez a diferença. Eu e o Anderson já estávamos focados 100% no Jiu-Jitsu lá em Maringá, o Alex ainda não. Aqui ele conseguiu focar 100%, porque ele não precisou mais trabalhar e já tinha terminado a faculdade. Quando viemos para cá, percebemos o quão profissional as pessoas levam o Jiu-Jitsu, realmente como um trabalho, uma profissão, então você precisa ser profissional em todas as áreas e aspectos. Fora que a Dream Art possui um material humano de treino muito grande e diferenciado”, relatou Erich.

“O processo de mudança no início, quando a gente chegou na Dream Art, foi difícil, pela ligação e vínculo que a gente tinha lá em Maringá, então ficou um clima meio estranho por parte de alguns. Mas a gente fez essa escolha pensando no bem de nós três e no futuro também, porque seria uma oportunidade boa de estar numa equipe de alto nível, que abriria muitas portas para a gente em São Paulo. A gente evoluiu em tudo, porque hoje treinamos em uma academia onde tem vários campeões mundiais, muita gente dura, sem contar que passam muitos atletas bons por ali. Na nossa vida também, melhorou muita coisa. Estamos em uma cidade maior, conhecendo pessoas boas, pessoas que procuram nos ajudar, então eu considero uma evolução completa”, citou Alex.

Mudança de equipe: uma barreira quebrada?

Com críticas ou não, o fato é que a mudança de atletas para outras equipes tem se tornado uma prática cada vez mais comum no mundo do Jiu-Jitsu, o que pode ser tratado como uma das partes que envolve a profissionalização do esporte, dependendo do ponto de vista de cada um. O termo “creonte”, embora ainda seja utilizado, vem se adaptando à nova visão dos profissionais, e alguns deles consideram que o tema já é uma “barreira quebrada”, como denominou Alex Munis.

“Na minha opinião, essa barreira já está quebrada. Acho que tem poucas equipes e pessoas que possuem essa mentalidade do atleta crescer numa equipe e morrer ali. Acredito que hoje em dia, pelo fato de terem acontecido muitas coisas no Jiu-Jitsu e o esporte estar se profissionalizando, esse pensamento está quebrando e vai quebrar muito mais. É só pensar nas equipes que não tem condições de estar com atletas e tem uma outra equipe com boas condições, que pode ajudar o atleta… O atleta vai negar sua própria oportunidade de evolução? Não pode. Acredito que as equipes vão crescer nos próximos anos também com isso, vão procurar se profissionalizar cada vez mais para manter seus atletas, então considero que isso vai ajudar o Jiu-Jitsu de uma maneira geral”, opinou o faixa-preta, que tem sua visão compartilhada pelo irmão Erich. “O Jiu-Jitsu está se profissionalizando e evoluindo cada vez mais, e com isso, essa troca de equipes, essa evolução vai ser inevitável, da pessoa procurar uma equipe melhor, uma equipe fazer proposta por outro atleta. Mais portas vão se abrir para outros projetos nascerem, então as pessoas, com o tempo, vão se acostumar com essa situação”.

“Eu acho que as pessoas precisam abrir mais a mente e pensar da seguinte forma: se eu não posso oferecer algo melhor, realmente é torcer para que o atleta conquiste o mundo e aconselhar ele a tomar a melhor decisão. O Jiu-Jitsu é um trabalho, e empresas sempre vão buscar os melhores funcionários. É assim que vejo as equipes, como empresas”, desabafou Tayane, antes de Fellipe Andrew encerrar:

“A minha opinião é que o Jiu-Jitsu está cada vez mais profissional. É loucura um professor querer prender um aluno, tratá-lo apenas como (um número) e não pensar nas suas dificuldades. Se ele vê que em outra equipe o atleta tem mais condições de evoluir, que deixe o atleta seguir em frente”, aconselhou.

* Por Mateus Machado