Em busca de reconhecimento, classe master ajuda a ‘bancar’ os grandes eventos, mas ainda é carente de premiações; saiba mais
* Além das grandes estrelas e do “lado B” da arte suave, a categoria master vive uma realidade ainda distante das grandes premiações. Maior evento da classe, o Mundial Master da IBJJF (International Brazilian Jiu-Jitsu Federation) acontece anualmente na famosa Las Vegas (EUA). Em 2019 o torneio contou com a presença de 5.419 lutadores, sendo que o valor médio para inscrição, contando os três lotes, foi de US$ 130,00.
Desta forma, a IBJJF arrecadou cerca de US$ 707 mil (ou R$ 2,8 milhões) – apenas em inscrições. Entretanto, diferente do Mundial e do Brasileiro da CBJJ, onde a federação passou a pagar os campeões no adulto faixa-preta nesta temporada, o Mundial Master segue sem nenhuma premiação para os primeiros colocados.
- LEIA A REVISTA COMPLETA, AQUI
Sempre com um alto número de atletas inscritos nos campeonatos, a classe master busca reconhecimento. Bernardo Popolo, atual sexto colocado no ranking da Confederação Brasileira de Jiu-Jitsu (CBJJ), afirmou que a realidade dos lutadores masters é “bem difícil” e, geralmente sem contar com muitos apoios ou patrocínios, é preciso ter outras fontes de renda para custear os gastos com competições, treinos, etc.
“Dou aulas de Jiu-Jitsu, mas também tenho um outro tipo de renda. É difícil viver só do Jiu-Jitsu, porque não recebemos apoios. Fazemos por amor mesmo. É um esporte que dá muita satisfação na parte pessoal, mas é muito por amor mesmo. Os lutadores masters que têm ajuda financeira são poucos”, opinou o faixa-preta.
Outro faixa-preta que costuma disputar as principais competições nacionais e internacionais é Marcelo Dourado. O casca-grossa – ex-campeão do BBB – alertou para a questão da classe master colocar um alto número de atletas nos eventos, mas não ser recompensada com premiação em dinheiro, como é no adulto.
“Eu vejo os eventos crescerem, cada vez mais gente nas competições, um interesse maior de todos. Até mesmo na cobertura de veículos especializados. O Mundial Master teve transmissão em todas as áreas para o mundo todo. Isso é algo muito positivo. O que falta é ter o retorno financeiro. A realidade é que quem sustenta os campeonatos profissionais são as categorias de base e os masters, que têm mais inscritos, e eles não recebem dinheiro”, afirmou Dourado, que é faixa-preta de Jiu-Jitsu, Judô e Luta Livre.
Como viajar para lutar?
Morador do estado de Santa Catarina, Bernardo Popolo viaja os principais estados brasileiros para competir Opens da IBJJF/CBJJ e também para lutar o Abu Dhabi Grand Slam do Rio de Janeiro. O deslocamento e o valor das inscrições são arrecadados pelo próprio atleta, que precisa, às vezes, dar o “jeitinho brasileiro”.
“Eu tenho alguns apoios, mas a parte de inscrição eu não tenho. Acabo pagando do meu bolso, as passagens e hotéis também tiro do meu próprio bolso. É muito difícil essa questão financeira. Para viajar, eu tiro as passagens no cartão, dou aquele jeitinho brasileiro, me endivido, mas vou fazer o que eu amo”, comentou:
“Eu dou aula, mas não são em todos os lugares que sou remunerado. Em dois projetos sou voluntário. Um no morro do Mocotó e outro em uma igreja. Eu também tenho outra fonte de renda, que são apartamentos que alugo, me ajuda bastante, principalmente com as inscrições. É uma guerra constante”, disse Bernardo.
- Kaynan desponta no cenário em 2019 e, além de títulos, acumula premiações que ultrapassam R$ 500 mil
- Ainda distante: com mais de R$ 100 em prêmios, Bia Basílio cita ‘trabalho árduo’ e aponta: ‘Sou exceção’
- Serralheiro vive o ‘lado B’ do Jiu-Jitsu profissional e relata como faz para competir: ‘Eu tiro do meu bolso’
Quais eventos pagam?
Com o crescimento da categoria, alguns eventos já estão procurando valorizar a classe master como um todo, seja em organizações de lutas casadas ou em campeonatos. O Fight 2 Win, por exemplo, promove disputas profissionais entre atletas com e sem quimono, pagando premiação e distribuindo cinturão aos campeões nos Estados Unidos. No Brasil, o BJJ Stars realizou um GP master com oito atletas em sua primeira edição e promoveu superlutas na segunda, sempre com bolsas para os participantes.
Em campeonatos, o Circuito Rio Mineirinho, da Federação de Jiu-Jitsu Desportivo do Rio de Janeiro (FJJD-Rio), premia o campeão do ranking com uma passagem para World Pro, em Abu Dhabi, que é organizado pela AJP (antiga UAEJJF). Além disso, nesta temporada, criou o ranking extra, que garantiu o vencedor no Mundial Master de 2020. Já em São Paulo, a FPJJ (Federação Paulista de Jiu-Jitsu) distribuiu passagens para o Pan da IBJJF e ainda realizou o Master Pro, pagando R$ 2 mil aos campeões. Outros eventos pelo Brasil, como o Prime Experience Jiu-Jitsu, por exemplo, também buscam remunerar a categoria.
A AJP premia em dinheiro os três primeiros colocados em seus principais eventos, como o World Pro e as etapas do Abu Dhabi Grand Slam que rodam o mundo – seis atualmente. Os valores nos Grands Slams podem variar de US$ 1,5 mil até US$ 2,5 mil, de acordo com o número de atletas inscritos.
Campeão no master 1 do Grand Slam do Rio, o experiente Alan Finfou destacou essa valorização para a categoria: “O Jiu-Jitsu está crescendo demais. Essas competições que a AJP está organizando, com certeza vêm abrindo portas para diversos atletas. Hoje, temos a oportunidade de lutar por US$ 2.500 (classe master). Sabemos que não têm muito muito dinheiro no esporte, mas isso já é um pontapé muito grande para profissionalizar. Vemos atletas que vêm de todas as partes do Brasil para tentar a sorte no Grand Slam. Eu comecei a lutar em 1996 e tenho a oportunidade de lutar até hoje”, destacou Alan Finfou.
O que esperar do futuro?
O mercado da classe master vem mostrando cada vez mais força nas principais competições de Jiu-Jitsu dentro do Brasil e também no exterior. Marcelo Dourado acredita a tendência é a classe seguir em evolução e destacou o empenho dos atletas em todas as categorias na busca pela profissionalização do esporte.
“Eu vejo que está crescendo muito o mercado de competição na classe master. A galera se interessa muito por competir no master, quando já tem uma certa estabilidade financeira, estão trabalhando ou então quase se aposentando. Isso permite que eles voltem aos treinos. A galera que faz preparação física e treina forte. De uma certa forma, essa galera é profissional. Eles fazem de forma muito séria. Eu vejo em todas as categorias cada vez mais o comprometimento de tentar competir. Eu vejo o Jiu-Jitsu muito parecido com o Rugby, que os árbitros se profissionalizaram primeiro que os atletas. Tem árbitro que consegue estar todos os fins de semana trabalhando e acho que eles conseguem pagar os boletos, fazendo o que gostam”.
* Por Yago Rédua