Flávio Canto pede por ‘reforma agressiva’ no COB e aponta: ‘É um grande legado olímpico’; veja

Flávio Canto pede por ‘reforma agressiva’ no COB e aponta: ‘É um grande legado olímpico’; veja

Por Yago Rédua

O Comitê Olímpico Brasileiro vive um momento bastante conturbado com a prisão do, agora, ex-presidente Carlos Arthur Nuzman acusado de corrupção. O COB foi suspenso do Comitê Olímpico Internacional e os atletas tentam aproveitar o momento para “fazer uma reforma” no órgão, em especial, na questão do voto e balanço financeiro, por exemplo. Flávio Canto, medalhista olímpico e ex-atleta de Judô, conversou com exclusividade à TATAME e criticou a estrutura organizacional montada pelos dirigentes e apontou a aprovação do artigo 18-A da Lei Pelé como a primeira conquista para mudar esse quadro.

“Quando a gente fala sobre esporte, não é só do momento atual do esporte. Se formos personalizar o que acontece, ficamos em um lugar sem muita transformação, do mesmo modo quando falamos da política brasileira que precisa de uma reforma. Porque vão mudar as pessoas, as peças, mas a política e o sistema continua operante e é muito falho. Esse é o momento para aproveitar e fazer uma reforma agressiva e saudável na forma de governar das confederações, federações, na estrutura do esporte como um todo. Isso envolve mais transparência nos critérios de demonstração de balanço, eleição de presidente, participação efetiva de atletas, acabar com esse monopólio de que quem está no poder, cria uma estrutura para se manter. Então, isso já acontece pelo artigo 18-A da Lei Pelé, que foi uma conquista do grupo de atletas que eu também faço parte. O presidente de federação ou confederação não pode receber dinheiro público, não pode ficar se reelegendo indefinidamente. Só pode ter uma reeleição, então, você matou essa função que acontece em vários órgãos, que perde a função democrática ao invés de um rodízio e uma alternância de poder. Acho que estamos vivendo um momento chave e um grande legado olímpico”, projetou Flávio.

O ex-judoca ainda comentou sobre o movimento “Atletas pelo Brasil” que busca um espaço maior e representatividade dentro do Comitê Olímpico Brasileiro. Flávio Canto criticou a postura de dirigentes, como Nuzman, de se perpetuar no poder e acumular cargos importantes e projetou os impactos que as mudanças no COB irão causar em confederações e federações.

Confira abaixo a entrevista na íntegra com Flávio Canto:
– Movimento de atletas

Tem alguns movimentos como o “Atletas pelo Brasil”, que eu faço parte, e vamos ter uma conversa com o Paulo Wanderlei, que hoje está presidindo o Comitê Olímpico, para falar com ele e fazer uma participação mais ativa nessa transformação que eles estão promovendo agora no estatuto do Comitê Olímpico, que vai acabar tendo efeito cascata para federações e confederações. O Thiago Camilo, muito amigo meu, é hoje o representante dos atletas no Comitê Olímpico. Ele também está brigando para mudar tudo isso. Tem muita gente junto, com boa intenção, muito atleta bacana, pessoas que viveram, de fato, para o esporte e querem mudar o esporte e não se aproveitar, como acontece muitas vezes. Todos estão se fortalecendo para fazer um movimento que não tenha saída, sem escapatória. Quem não for a favor do esporte, vem junto ou vai embora.

– Alternância de Poder

A alternância de poder dos nossos dirigentes é um dos passivos da nossa legislação esportiva, o presidente ficar eternamente no cargo. É criado um sistema que tem uma estrutura que não funciona. O (Carlos Arthur) Nuzman neste último ciclo presidiu não só o Comitê Olímpico, como também a Rio 2016. Por mais extraordinário que alguém seja, não faz sentido, na minha opinião, ficar a frente de duas instituições tão importantes e complexas no mesmo momento. Então, acho que o poder durante muito tempo não é saudável, acho importante ter essa alternância de poder, que já foi conquistada pelo artigo 18-A da Lei Pele, o que é muito importante. De fato, para mim é um atraso para o esporte nacional, especialmente como é hoje. Uma coisa é o presidente ficar sendo reeleito, em um sistema absolutamente transparente, democrático e justo. Isso é uma coisa. Mas, o que acontece hoje é que quem entra e toca o sistema, cria uma maneira de se reeleger, que não tem um sistema eleitoral justo e transparente. Isso é muito ruim.

– Confederação Brasileira de Judô

A Confederação Brasileira de Judô fez uma eleição agora que o Paulo Wanderlei foi para o Comitê Olímpico, que entrou um novo presidente e não houve a participação de nenhum dos atletas, por exemplo. Tinha um atleta que representava um voto lá na eleição, que é um cara que eu adoro, o Luciano, mas os atletas todos, não (tinham voto). Eu soube depois quem ia ser o presidente. Um cara como eu, Thiago Camilo, Aurélio Miguel, Rogério Sampaio e todos os outros que fizeram a história do esporte não terem uma participação na disputa para presidente na Confederação e entra uma pessoa de uma hora para outra? Não estou falando mal dele (presidente novo), porque eu nem o conheço direito para falar, posso nem fazer nenhum juízo de valor, mas é um sistema que não está certo.

– Suspensão do COB

A suspensão do COB teve esse caráter burocrático. Existe uma mudança acontecendo agressiva no estatuto do Comitê Olímpico, modernizando o estatuto. Ainda não posso dizer que eu aprovo, mas o que tenho conversado com as pessoas do COB, eu acho que tende a ser muito melhor do que o anterior. Quem sabe, fique legal. A suspensão do COB é passageira, mas foi importante para dar esse choque de gestão que era preciso. Estamos vivendo um momento que tem que haver uma mudança.