Lutadora acusa Jackson Sousa de assédio sexual na Inglaterra, e CheckMat anuncia suspensão

Lutadora acusa Jackson Sousa de assédio sexual na Inglaterra, e CheckMat anuncia suspensão

Jackson Sousa foi inocentado e comentou sobre as acusações recebidas (Foto Vitor Freitas / TATAME)

Nota da redação: a TATAME reitera que abuso e assédio sexual, além de crimes, estão em total desacordo com os valores das artes marciais e, desta maneira, se solidariza com as vítimas. Se você ou alguém que você conhece foi abusado sexualmente, peça ajuda às autoridades legais. Além disso, para mais informações, conheça o trabalho realizado pela CDMJJ (Comissão de Direito das Mulheres no Jiu-Jitsu), uma ONG sem fins lucrativos que promove a observância e defesa dos direitos das mulheres na arte suave.

A comunidade do Jiu-Jitsu vive uma situação de crise e busca por dias melhores – e mais respeitosos, claro – após a exposição de casos de assédio sexual em importantes equipes do cenário mundial da modalidade. Nas últimas semanas, o faixa-preta Jackson Sousa, dono de um currículo vitorioso dentro da arte suave, foi acusado por diversas mulheres – incluindo a também atleta Samantha Cook – de assédio sexual.

A faixa-preta britânica, que treinava com o brasileiro na CheckMat da Inglaterra, usou as redes sociais para expor a situação de assédio após toda a repercussão dos casos envolvendo a Fight Sports. Cook relatou a maneira como Jackson agia com ela. Assim que tornou pública as denúncias, outras mulheres se manifestaram e também compartilharam histórias semelhantes com o lutador no convívio dos tatames.

“Sei que não estou sozinha quando digo que fui assediada sexualmente por Jackson Sousa. Quando eu não cedi ao que ele queria, ele se tornou agressivo e tentou me expulsar da academia, dizendo que eu não era bem-vinda. Eu me sentia impotente e não podia contar a ninguém o que tinha vivido. Mudei de academia e, alguns meses depois, Jackson também se mudou para a mesma (academia), onde continuou a fazer atos sutis para me fazer sentir isolada, como não apertar minha mão e me ignorar”, publicou Cook, que seguiu:

“Eu confidenciei a um amigo em comum que teve uma ‘conversa’ com Jackson sobre seu comportamento em relação a mim, então, descobri que ele havia contado às pessoas que eu tinha ‘dormido’ com ele e, provavelmente, estava apenas amarga… Foi só depois de compartilhar minha experiência com outras pessoas, que descobri que ele se comportava dessa maneira e muito pior com tantas outras mulheres. Amigos e mulheres que eu nunca conheci, que também se sentiam impotentes. Eu reconheço que minha experiência não é comparável aos eventos recentes da FS (Fight Sports), porém o fato de que seu comportamento afetou tantas mulheres e as fez se sentirem inseguras e impotentes, não é aceitável. Jackson é um predador sexual, que assediou várias mulheres em todo o mundo. Já é suficiente”, desabafou a atleta.

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Samantha tem destaque no cenário internacional (Foto @ralfhjigger)

Com as denúncias, empresas que patrocinavam o brasileiro optaram por retirar o apoio, como a Shoyoroll. Já The Grapple Club anunciou que iria suspender todos os conteúdos do atleta da plataforma de cursos.

À luz da recente manifestação da comunidade feminina do Jiu-Jitsu envolvendo comportamento sexualmente predatório e abusivo de atletas proeminentes do sexo masculino, a Shoyoroll tomou a decisão de encerrar formalmente todo o patrocínio e afiliação com Jackson Sousa”, publicou a empresa Shoyoroll em parte do comunicado enviado à imprensa.

Líder da CheckMat, Leo Vieira também se pronunciou sobre o caso e anunciou que Jackson está suspenso por tempo indeterminado do time. O faixa-preta afirmou que situações deste gênero são consideradas como “tolerância zero” no código interno da academia. Confira abaixo o comunicado do faixa-preta na íntegra:

 


“Em primeiro lugar, queremos agradecer a Samantha Cook por sua bravura em trazer à luz uma questão sombria, compartilhando a sua história. Dado que o Jiu-Jitsu tem sido tradicionalmente uma indústria dominada por homens, você deu a muitas mulheres, não apenas na comunidade do Jiu Jitsu, mas ao redor do mundo, a força e a confiança para falar e ser ouvida. As acusações contra Jackson Sousa mostram um padrão generalizado de abuso e manipulação, e a CheckMat está entristecida e horrorizada com seu comportamento relatado. Ele foi suspenso da CheckMat e uma investigação completa está em andamento.

A CheckMat tem uma política de tolerância zero para qualquer forma de assédio, discriminação, intimidação, violência, abuso sexual ou má conduta sexual em qualquer um de nossos locais afiliados. Entendemos que devemos capacitar os indivíduos a falar com a confiança de saber que o que eles dizem será ouvido. A comunicação é vital para mudanças significativas, e estamos tomando as medidas necessárias para garantir que os envolvidos tenham uma maneira segura de comunicar quaisquer incidentes de abuso.

A CheckMat está atualmente revisando os protocolos existentes com profissionais para garantir que o melhor processo esteja em vigor para que os indivíduos se sintam seguros ao relatar incidentes de qualquer tipo de abuso ou assédio e também garantir um processo justo para todas as partes envolvidas. A CheckMat está comprometida com um esforço abrangente de longo prazo para equipar cada afiliado da equipe com as ferramentas de que precisam para combater esse comportamento e investigar, tomando as medidas adequadas de maneira rápida e eficaz.

A CheckMat HQ aconselhará os afiliados sobre o protocolo em vigor para relatórios e investigações seguras de quaisquer alegações de abuso ou assédio. Os afiliados precisarão, então, consultar profissionais jurídicos em seus estados e países de origem quanto às melhores práticas, levando em consideração as leis e regulamentações locais. Finalmente, os afiliados deverão relatar o protocolo acordado para a CheckMat HQ para aprovação. Na CheckMat, temos orgulho de ter muitos dos maiores competidores de Jiu-Jitsu masculino e feminino do mundo, e sabemos que sem um ambiente seguro, alunos e atletas não terão sucesso e atingirão seus objetivos. Desde o seu início, a CheckMat tem sido uma equipe de Jiu-Jitsu enraizada em seus fortes valores de inclusão, apoio e respeito por todos os indivíduos, independentemente de raça, cor, religião, gênero, expressão de gênero, idade, nacionalidade, deficiência ou orientação sexual. A CheckMat seguirá em frente para promover esses princípios com orgulho e paixão”.

Jackson se pronuncia

A Revista TATAME entrou em contato com Jackson Sousa, mas não obteve nenhum retorno. No entanto, ao site Jiu Jitsu Times, o lutador enviou um breve comunicado confirmado a suspensão da CheckMat e que se afastará de qualquer atividade ligada a modalidade para “refletir sobre seus comportamentos anteriores”.

“Uma investigação independente foi iniciada para examinar as alegações contra mim. Espero cooperar totalmente com as investigações. Enquanto a investigação estiver em andamento, serei suspenso da CheckMat HQ e também irei me retirar de todas as outras lutas, seminários e atividades do Jiu-Jitsu. Vou usar esse tempo para refletir sobre meu comportamento anterior e me concentrar na minha família”, afirmou.