Muzio vê nível ‘altíssimo’ da arbitragem no Jiu-Jitsu e opina sobre o lado profissional do esporte: ‘Ainda não é o desejado’

Muzio vê nível ‘altíssimo’ da arbitragem no Jiu-Jitsu e opina sobre o lado profissional do esporte: ‘Ainda não é o desejado’

* Com anos de experiência vividas para o Jiu-Jitsu, Muzio de Angelis tem muitas histórias para contar sobre seu lado competidor, líder de academia e, obviamente, do seu trabalho desenvolvido como árbitro ao longo dos últimos anos nos principais torneios da arte suave espalhados pelo mundo. Referência no tema arbitragem, o faixa preta vem acompanhando de perto o crescimento do esporte em diversas áreas e, desta forma, tem a propriedade necessária para entrar no tema da profissionalização da modalidade e dar a sua opinião a respeito do assunto.

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Em conversa com a TATAME, Muzio não poupou elogios à evolução apresentada no Jiu-Jitsu, seja no crescimento do número de praticantes, melhor condição para os atletas, implementação de novas regras e outros fatores, porém, apesar disso, afirmou que o nível ainda não é o desejado para considerar que o esporte é, atualmente, profissional em todos os sentidos.

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“O nível profissional subiu muito, mas ainda não é o desejado. Em relação aos árbitros, o recurso de vídeo já está sendo usado em alguns lugares e isso ajuda bastante. Mas o árbitro é muito exigido e nem todas as federações compreendem isso. Precisamos de um lugar para poder descansar durante os intervalos, rádios em todas as áreas de luta para melhorar a comunicação, isso seria uma coisa fantástica. Por último, eu acho que as federações deveriam chamar mais árbitros para melhorar o rodízio. Atualmente, em todos os lugares, são dois árbitros por área”, analisou o experiente árbitro.

Com o advento da tecnologia, que foi benéfica para a arbitragem e o Jiu-Jitsu como um todo, muito se questiona e também se cobra a respeito do nível dos árbitros na arte suave. Na avaliação de Muzio, o nível apresentado pelos profissionais é “altíssimo”, falando também sobre a questão da valorização aos agentes da área dentro da modalidade.

“O nível da arbitragem atualmente está altíssimo, principalmente aqui no Rio de Janeiro. Eu lido numa boa (com as críticas), tento errar o mínimo possível, mas somos humanos e por isso fica impossível acertar sempre. Nosso patamar subiu muito. A FJJ-Rio, por exemplo, faz dois cursos de regras por ano. Na CBJJ, tem curso nas principais capitais do Brasil. E para os árbitros, foi criado o RTP (Referee Trainning Program), que visa treinar e alinhar os árbitros em todo o território nacional. Acredito que o árbitro consegue ter uma renda satisfatória, sim, dependendo de quantos eventos ele trabalha por mês”.

Confira outros trechos da entrevista com Muzio de Angelis:

– Desenvolvimento e profissionalização do Jiu-Jitsu

O desenvolvimento e a profissionalização do Jiu-Jitsu estão em um nível altíssimo. Claro que pode melhorar muita coisa ainda, mas quando a gente poderia imaginar que um atleta receberia um prêmio de 100 mil dólares? E podemos citar também o BJJ Stars, evento nacional que pagou 100 mil reais ao Nicholas Meregali. Se continuar assim, nossos atletas vão parar de migrar para o MMA, como vem acontecendo muito nos últimos anos, e investir no Jiu-Jitsu mesmo.

– Hoje em dia é possível que um atleta viva do Jiu-Jitsu através de premiações e patrocínios?

Eu acho que ainda não se pode viver dessas premiações que vêm sendo dadas em torneios de Jiu-Jitsu, pois os eventos são esporádicos e nem sempre eles são campeões, a roda gira e a gente sabe. Mas estamos indo na direção certa, ao meu ver, e a projeção é muito boa para os próximos anos.

– Como lida com a mudança das regras e o que mais considera que mudou nos últimos anos?

Eu encarei numa boa, pois as mudanças ocorrem para subir o nível do Jiu-Jitsu de competição, procuro entender dessa forma. Sem dúvida nenhuma, o que mais mudou foi a parte das faltas e punições por falta de combatividade. Eu considero todas as mudanças muito importantes, fica até difícil eu citar as mais importantes, mas eu gosto muito da proibição de crianças e faixas branca que não podem pular na guarda. Diminuiu bastante o número de lesões.

– Como avalia o nível da arbitragem? Como lida com críticas de atletas, professores e torcida?

O nível da arbitragem atualmente está altíssimo, principalmente aqui no Rio de Janeiro. Eu lido numa boa (com as críticas), tento errar o mínimo possível, mas somos humanos e por isso fica impossível acertar sempre. O importante é chegar em casa, colocar a cabeça no travesseiro e saber que você fez o seu trabalho de forma limpa e honesta.

– Como é o processo para arbitrar nas principais federações e qual tipo de certificado é necessário?

O aluno precisa ser faixa marrom ou preta e tirar uma nota excelente no Curso. Tem que errar o mínimo possível e depois solicitar um estágio. Na FJJ-Rio, são necessários três campeonatos como estagiário para entrar no quadro de arbitragem. Minha dica para quem deseja seguir a profissão como árbitro é estudar e tirar todas as dúvidas com os árbitros mais antigos, considero isso muito importante para a evolução do profissional.

– Quanto, em média, as principais Federações pagam a um árbitro? Quais são as que pagam mais?

No Rio de Janeiro, os árbitros criaram um Estatuto com várias normas. O salário, em média, é de R$ 330,00 para 12 horas de trabalho (almoço e lanche estão incluídos). Se for fora da cidade, tem um acréscimo e se passar das 12 horas, tem hora extra. Não existe nenhuma que pague mais, todas pagam os mesmos valores.

* Por Mateus Machado