Nos Estados Unidos, Zé Mario Sperry adota ‘estratégia de guerra’ contra o coronavírus e revela projeto com a AJP; veja

Nos Estados Unidos, Zé Mario Sperry adota ‘estratégia de guerra’ contra o coronavírus e revela projeto com a AJP; veja

Uma das grandes referências na história do Jiu-Jitsu e do MMA brasileiro, Zé Mario Sperry não é uma pessoa fácil de ser intimidada. E não é por menos. Aos 53 anos, o veterano, que ainda esbanja um físico de atleta, com seus 1,85m e 100kg de músculos, já esteve frente a frente com os mais temidos lutadores de Jiu-Jitsu e Vale-Tudo de sua época.

No entanto, quando o assunto é o novo coronavírus, a preocupação do ex-pupilo de Carlson Gracie fica evidente. Há quatro anos nos Estados Unidos, onde é dono de uma academia de Jiu-Jitsu em Miami, Flórida, Zé Mário tem acompanhado de perto o poder devastador do vírus no país mais afetado pela pandemia até o momento. Em entrevista ao jornalista Bruno Ramôa, ele falou sobre a sua rotina diante da crise, o futuro dos campeonatos e ainda revelou um convite para comandar o projeto da AJP (Abu Dhabi Jiu-Jitsu Pro) nos EUA.

Confira abaixo a entrevista na íntegra:

– Como está sendo sua rotina e da comunidade do Jiu-Jitsu em geral nos EUA diante do coronavírus? 

Está muito complicado, tudo parado, comércio fechado. Já vão fazer três semanas que não abro a minha academia, é realmente muito difícil. Mas essa é uma situação única, é o que tem que ser feito. Costumo falar que não é o mais forte ou o mais rápido que vence, e sim o que melhor se adapta. E é isso que precisamos fazer nesse momento, nos adaptar. Por isso, tenho acordado cedo, me exercitado em casa ou em lugares abertos fora dos horários de pico, mantido uma rotina saudável, comendo bem. É isso que tento passar para meus amigos, para as pessoas próximas de mim, meus alunos. Estão todos muito preocupados, estressados, então é mais do que necessário manter esses cuidados.

– Assim como a maioria dos esportes, os campeonatos de Jiu-Jitsu foram cancelados e as academias fechadas por tempo indeterminado. Para tentar contornar isso, alguns professores têm ministrado aulas online. O que você acha dessa prática, que já foi muito criticada no passado? 

Eu sou adepto do provérbio que diz o seguinte: ‘se você não pode fazer o que tem que ser feito, você tem que fazer o que pode ser feito’. A aula online é o que pode ser feito no momento, então eu não sou apenas favorável, como sou adepto. Tenho dado meus treinos pela internet normalmente, é uma forma de manter os alunos conectados, interessados no Jiu-Jitsu de uma maneira simples.

– Que impactos você acredita que o novo coronavírus pode trazer futuramente para a comunidade do Jiu-Jitsu, como organizações, federações, equipes, no negócio como um todo?

Vai passar por uma fase amarga, mas eu acho que essa onda vai passar. Vamos aprender com o que aconteceu, dar valor ao que tínhamos, retomar antigos costumes como sociedade, um maior cuidado com o próximo, uma valorização das coisas essenciais de fato. Acho que vamos aprender muito como sociedade e seres humanos. Os negócios estão passando por momentos difíceis, mas sou otimista que o cenário irá melhorar e sairemos dessa com um saldo positivo. Inclusive, te adianto em primeira mão que eu e Elias Eberhardt (organizador geral da AJP Brasil) fomos convidados para tocar o projeto da AJP aqui nos EUA.

– Você pode dar mais detalhes desse projeto da AJP nos Estados Unidos?

Já estamos desenhando o projeto, vamos desenvolver aqui um trabalho com a mesma qualidade com que é feito no Brasil, que é tocado pelo Elias. A ideia é importar toda essa expertise que temos com os eventos feitos aí (Brasil) e trazer para cá. Se der certo, podemos fazer o primeiro evento já em outubro desse ano.

– Você acredita que já seja possível estipular prazos para voltar aos treinos e às competições? 

Eu acredito que lá para setembro, outubro, já deve começar a voltar com algumas restrições. Talvez no início medidas preventivas devam ser tomadas como campeonatos sem público, menos pessoas trabalhando na organização, menos áreas de luta, um controle de higienização rígido, menos pessoas no tatame e por aí vai. Mas essa é minha humilde opinião, nada vai ser feito sem o respaldo das autoridades médicas.

– Fugindo um pouco da pauta, você deixou claro que mantém uma rotina saudável de alimentação e treinos diariamente. Ainda tem consigo aquele fogo de competir ou é só uma questão de saúde? 

Eu estou velho, mas não estou morto (risos). Tenho 53 anos e acordo todo dia cedo, me preparo fisicamente, treino, faço o que tem que ser feito. Seria um prazer sentir novamente o gosto de competição, aquela adrenalina boa. Vamos ver se não pinta uma superluta contra outro vovô (risos), pronto sempre estou.

– Deixe um recado final para todos os praticantes e também amantes do Jiu-Jitsu no Brasil:

O momento é difícil, mas nós vamos superar. O ideal nessa hora é ter uma estratégia de guerra, igual eu fazia antes das minhas lutas. Pega um papel e cria uma programação dos seus dias. Horário de dormir, de acordar, de comer, de se exercitar, das tarefas domésticas, de ficar com a família, tudo. Porque a tendência nessas situações é relaxar, dormir tarde, não fazer nada e isso vai virando um ciclo vicioso que pode gerar outros problemas. E vamos superar isso juntos, tenho certeza.