O que muda nos vistos para atletas e professores de Jiu-Jitsu com as novas regras dos EUA para estudantes?

Conversei com a Daiana Bueno, jornalista e faixa-preta de Jiu-Jitsu, sobre a importância de se preparar com antecedência

O que muda nos vistos para atletas e professores de Jiu-Jitsu com as novas regras dos EUA para estudantes?

Daiana Bueno, fotojornalista e faixa-preta de Jiu-Jitsu, explicou como fez para tirar o visto (Foto: Reprodução)

Nos últimos anos, eu tenho acompanhado de perto um movimento que só cresce: o número de atletas e professores de Jiu-Jitsu indo para os Estados Unidos em busca de novas oportunidades. É impressionante como o Jiu-Jitsu brasileiro ganhou espaço por lá – tem academia abrindo em tudo quanto é canto, eventos quase todo fim de semana, e uma galera querendo aprender com quem realmente entende do assunto – ou seja, nós.

Nesse cenário, o que mais vejo são dois perfis tentando entrar nos Estados Unidos: o atleta que vai competir, que costuma usar vistos como o P-1, voltado para quem tem reconhecimento internacional no esporte, ou o O-1, indicado para profissionais com um histórico mais sólido de conquistas. Já o professor, principalmente aquele com mais experiência, muitas vezes também entra com o O-1 ou até mesmo com o EB-1, um visto mais avançado, que pode levar à residência permanente nos EUA. Mas existe também um outro caminho que muita gente da nossa comunidade usava – o famoso visto de estudante, o F-1. Esse era o jeitinho de estar legalmente no país enquanto a pessoa treinava, competia e, em alguns casos, até dava aula de forma informal, mesmo sem autorização pra isso.

E aí vem a novidade: o governo dos Estados Unidos está mudando as regras do jogo para quem entra com esse visto de estudante. A ideia é limitar o tempo de permanência e controlar melhor quem fica, pra tentar evitar que a pessoa entre como “estudante”, mas vá mesmo é trabalhar ou viver nos EUA por mais tempo do que o permitido. Segundo o Departamento de Segurança Interna (DHS), o objetivo é restringir abusos no uso desse tipo de visto, que se tornou comum entre imigrantes que buscam alternativas para se estabelecer no país — inclusive atletas e professores que tentam ganhar tempo pra montar suas bases por lá.

É claro que há outras questões envolvidas nas mudanças das regras, mas esta é uma questão, que merece de uma analise mais aprofundada, que será objeto deste artigo.

E o que isso tem a ver com o Jiu-Jitsu? Tem tudo. Muita gente da nossa comunidade usava esse visto F-1 como uma forma de estar legalmente nos Estados Unidos, enquanto buscava espaço no cenário do Jiu-Jitsu – seja competindo, treinando nas grandes equipes ou dando aula informalmente. Casos como o de um professor brasileiro, que teve o visto EB-2 negado em 2024 por não conseguir comprovar qualificação profissional nos critérios exigidos pelo governo americano, mostram como o cerco já vinha apertando. Ele preferiu não se identificar, mas sua experiência reflete o que muitos enfrentam: o aumento da rigidez no processo, especialmente para quem não apresenta um histórico sólido ou documentação adequada.

Pra mostrar que o processo já era complicado mesmo antes dessas mudanças, vale lembrar o caso da casca-grossíssima Daiana Bueno, correspondente da Revista Tatame. Ela teve o visto negado duas vezes pelos Estados Unidos – e olha que estamos falando de uma correspondente reconhecida, com atuação firme na cena esportiva e jornalística.

Conversei com a Daiana recentemente, e ela resumiu bem a importância de se preparar com antecedência: “Ter um bom portfólio de comunicação, que mostre quem você é, o que já conquistou e como se posiciona na comunidade, pode fazer toda a diferença na hora de aplicar pro visto”, afirmou a jornalista e faixa-preta de Jiu-Jitsu. Essa dica dela vale ouro – principalmente hoje, quando o cerco tá fechando.

Para os professores mais experientes, com bom histórico em competições e algum reconhecimento de equipes ou federações como a IBJJF, as novas regras não devem mudar muita coisa. O que segue valendo é o convite formal de uma academia, o contrato de trabalho e a documentação que comprove sua relevância profissional. Mas o “pente-fino” nos vistos improvisados exige mais preparo de todo mundo — currículo, plano sólido e um bom portfólio de comunicação viraram obrigação.

O mercado do Jiu-Jitsu, por outro lado, continua em alta. As academias seguem contratando, os campeonatos não param de crescer e a procura por professores qualificados é real. Mas o que muda é o tom: agora, quem quiser viver disso nos EUA vai ter que encarar o processo com profissionalismo e parar de contar com o jeitinho.

A dica que eu deixo pra quem está pensando em seguir esse caminho é: se prepara. Monta um bom e robusto portfólio de comunicação – buscando uma agência, ou um profissional focado pra isso, se lance nos campeonatos, guarda certificados, documente tudo. E, se possível, busque orientação de um advogado especializado em imigração esportiva – isso pode fazer total diferença.

Por fim, as novas regras dos EUA para vistos de estudante acendem um alerta, principalmente pra quem ainda está começando e sonha em construir uma carreira no exterior. Se antes existia a possibilidade em começar como “estudante” e ir tentando se ajeitar, agora o cerco apertou. Mas as portas continuam abertas, ou quase.

O caminho ficou mais difícil? Talvez. Mas também ficou mais claro: profissionalismo, organização e assistência de profissionais durante o processo.

Ir para os Estados Unidos é o grande sonho de todo competidor de Jiu-Jitsu (Foto: TATAME)

Ir para os Estados Unidos é o grande sonho de todo competidor de Jiu-Jitsu (Foto: TATAME)

Outro lado da luta – Por Marcos Castro

Retirado do direito imobiliário, pelo jornalismo marcial. Produtor esforçado, buscando o próximo desafio. Abraçou o Sindilutas, por acreditar na função social das artes marciais.

Privilegiado por ter contribuído com o crescimento da TATAME, tanto atrás de uma mesa, como na cobertura dos eventos do um Brasil multifacetado.

Eterno faixa-marrom de Jiu-Jitsu, que vivenciou a arte suave da década de 1990

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