Renato Moicano lamenta saída do ranking peso-pena, mas celebra bela estreia nos leves: ‘Preparado para fazer história’
* Renato Moicano viveu uma mistura de emoções no UFC Brasília, realizado no último dia 14 de março. Em sua estreia lutando pela categoria peso-leve, o brasileiro deu show e finalizou seu adversário, Damir Hadzovic, em apenas 44 segundos, após aplicar um mata-leão. O sentimento de satisfação só não foi completo porque o lutador, atuando pela primeira vez no Ultimate em Brasília, sua cidade natal, não pôde contar com apoio dos torcedores locais e nem de sua família, tendo em vista que o evento foi realizado com portões fechados em razão da pandemia do novo coronavírus.
Após sair vencedor e se recuperar das duas derrotas que havia sofrido em sequência, Moicano tem história para contar. Desde seu desempenho no duelo contra Hadzovic, o momento curioso protagonizado com seu oponente após o fim da luta, o sentimento de lutar sem qualquer tipo de torcida e de que maneira pretende manter sua forma no atual período de quarentena em razão do vírus, o atleta atendeu a TATAME e, em longa entrevista, falou sobre como foi seu retorno aos Estados Unidos, país onde mora e que também vem adotando sérias medidas para evitar a disseminação do coronavírus.
“Eu cheguei na terça passada do Brasil. No dia seguinte, fui tentar treinar na American Top Team e não deixaram, porque a academia está funcionando de forma que só os profissionais que tem luta utilizam. Então, ficarei em casa também nessa próxima semana, talvez nas duas próximas, e só depois vou pensar em treinos, mas no momento estou procurando ficar em casa e sair apenas para fazer compras, coisas mais urgentes. Não quero me contaminar e muito menos espalhar esse tipo de vírus. Todo cuidado é pouco nesse momento”, alertou o brasileiro.
Confira a entrevista completa com Renato Moicano:
– Como você avalia sua estreia na divisão peso-leve?
Em relação à minha estreia no peso-leve, foi tudo como o esperado. Eu estava treinando para finalizar ele, querendo usar o chão nessa luta, porque eu sabia que era a parte de maior deficiência do meu adversário, apesar dele nunca ter sido finalizado até então. Ele tinha cinco derrotas no MMA, nenhuma por finalização, mas é um cara que, apesar de defender bem, deixava os lutadores chegarem na posição, vi várias lutas dele que aconteceram isso, então eu treinei de forma específica para encaixar aquela posição e finalizar.
– Está nos seus planos permanecer na divisão peso-leve após essa luta?
Eu espero ter outras lutas no peso-leve, mas eu não acho que possa ficar numa categoria só, posso lutar nas duas, dependendo da luta que for oferecida. Mas eu vi que eles me tiraram do ranking peso-pena, onde eu estava em sétimo, e isso me deu menos vontade de lutar na divisão, porque eu ralei muito para entrar no ranking, cheguei nessa colocação e fui fazer apenas uma luta fora e me tiraram, então minha categoria, provavelmente, vai ser a peso-leve mesmo.
– Como foi aquele diálogo engraçado com seu adversário após o fim da luta?
Foi uma situação engraçada. Na verdade, eu fiz errado, me emocionei pra caramba por ter finalizado a luta tão rápido, não era uma coisa que eu esperava, e eu fiquei gritando com ele, dizendo que queria mais luta. Ele falou certo, dizendo: ‘Se queria mais luta, não deveria ter finalizado’. Tive que tirar o chapéu para ele nessa hora (risos). Na luta, estamos sempre buscando finalizar, então fizemos o correto e não me interessa uma revanche contra ele. Espero lutar contra um adversário ranqueado da próxima vez, porque esse foi um dos motivos da minha chateação.
Um dos melhores diálogos que já vimos no Octógono ? #UFCBrasilia pic.twitter.com/TpKdZ4dgfI
— UFC Brasil (@UFCBrasil) March 14, 2020
– Como foi a notícia de que o evento seria realizado sem torcida, logo em sua terra natal?
Esse foi um dos fatos que não foram tão bons em relação à minha estreia nos leves. Seria a primeira vez que eu lutaria em Brasília, e eu estava esperando muito o apoio da torcida, a galera colocando aquela pressão no meu adversário, eu queria sentir aquela energia depois da luta. Acho que isso me prejudicou até mesmo em relação a ganhar o bônus. Eu finalizei em 40 segundos e não ganhei o bônus. Com certeza, se a galera de Brasília estivesse toda presente, gritando e apoiando, seria diferente.
– Como você procurou se prevenir e como você acha que os atletas devem se posicionar?
A gente foi pego de surpresa, porque até quarta-feira, eu sabia do coronavírus, mas não sabia que era essa coisa toda. Quando o governador de Brasília decretou o estado de emergência, foi aí que eu vi que o negócio era sério mesmo, até então eu estava normal. Mas segui minha vida normalmente, fiz minha luta da mesma forma, tomando as devidas precauções. Um dos principais pontos que devem ser falados é que não é porque a pessoa é pública que ela é obrigada a falar sobre determinados temas, ainda mais sobre o que elas não conhecem, porque se vê muita pessoa falando besteira. Eu sei o que é falado na mídia, sei da gravidade, mas realmente não sei a fundo. O que posso falar é que as pessoas devem ficar em casa e seguir as recomendações das autoridades. A gente tem que se informar e, acima de tudo, onde se informar, porque hoje em dia tem muita informação falsa.
– Como você pretende se manter em forma nesse período de quarentena?
Eu cheguei na terça passada do Brasil. No dia seguinte, fui tentar treinar na American Top Team e não deixaram, porque a academia está funcionando de forma que só os profissionais que tem luta utilizam. Então, ficarei em casa também nessa próxima semana, talvez nas duas próximas, e só depois vou pensar em treinos, mas no momento estou procurando ficar em casa e sair apenas para fazer compras, coisas mais urgentes. Não quero me contaminar e muito menos espalhar esse tipo de vírus. Todo cuidado é pouco nesse momento.
– Prejuízo de academias, atletas e professores com a pandemia do coronavírus
Eu acho que no final das contas eu tive muita sorte, porque o ponto crítico da epidemia surgiu exatamente no momento do UFC Brasília, então ainda demos sorte de lutar no evento, fiz uma graninha com isso e vou deixar guardado, então posso tirar um tempo para não precisar treinar e nem lutar, estou com uma ‘gordurinha’ para passar mais um tempo sem lutar. Mas é lógico que a situação das outras pessoas não é essa, eu tenho visto nos EUA muita gente preocupada, principalmente professores de artes marciais, que possuem gastos com a academia, mas não vão ter os alunos, porque o governo mandou fechar tudo. Não sei como vai ficar a situação, mas o pessoal está muito preocupado.
– Por que você acha que não recebeu o bônus de performance no UFC Brasília?
Eu realmente não faço ideia do motivo de não ter recebido o bônus. Eu cheguei a pensar que foi porque eu tive uma atitude um pouco antidesportiva depois da luta, mas realmente eu não sei… Eu acredito que deveria ter recebido, porque finalizei um cara que nunca tinha sido finalizado, em 40 segundos, na categoria de cima e sem ter tomado nenhum soco. Era um dinheiro que fez falta, que viria em boa hora, mas é isso. Fiz por merecer, mas não levei. De qualquer forma, tanto o Durinho quanto o Charles mereceram o prêmio.
– Saída do ranking peso-pena do Ultimate
Eu fiquei muito chateado pela saída do ranking peso-pena, porque eu estava numa boa colocação e fiz muitas lutas duras para chegar lá. Perdi algumas lutas, mas perdi para atletas muito bem ranqueados, como José Aldo, o Zumbi Coreano e o Brian Ortega. Eu sei que é de praxe subir de categoria, sair da divisão, mas espero que isso não afete meu nome dentro do UFC. Sempre quero lutar com os melhores e estou preparado para fazer história nessa nova divisão.
– Desafio feito a Paul Felder
Sobre essa luta contra o Paul Felder, surgiu justamente por eu pensar que a gente estaria no mesmo lugar no ranking, e eu queria lutar contra atletas ranqueados, é uma luta que faz sentido. Mas não sei se vai rolar a luta. De qualquer forma, se não for lutar com ele, eu quero lutar contra caras ranqueados. Quero estar entre os melhores e lutar contra os melhores. Sei que sou um dos melhores do mundo e quero provar isso.
* Por Mateus Machado