Tayane Porfírio explica razão para ‘aceitar’ punição da USADA e lembra depressão: ‘Perguntei à Deus qual era meu propósito’

Tayane Porfírio explica razão para ‘aceitar’ punição da USADA e lembra depressão: ‘Perguntei à Deus qual era meu propósito’

* Há cerca de um ano, no dia 10 de maio de 2019, Tayane Porfírio anunciava nas redes sociais que estava aceitando uma suspensão de quatro anos imposta pela USADA (Agência de Antidoping dos EUA) após testar positivo em um exame. A faixa-preta de Jiu-Jitsu, na época, revelou que o órgão regulador encontrou Nandrolona em seu organismo – substância que é um esteroide anabolizante injetável.

Os exames foram feitos logo após o ouro duplo no Mundial da IBJJF em 2018. Em entrevista à TATAME através de uma live no Instagram, Tayane contou que desistiu de tentar o recurso após a pena de quatro anos imposta pela USADA por conta do alto custo para arcar com todo o processo.

“Eu conversei com outros advogados que são especialistas no caso (doping), inclusive são dos Estados Unidos. O que acontece é que eu pagaria um valor muito alto, chegaria a 20 mil dólares para tentar provar a minha inocência. Eu não tinha esse dinheiro naquele momento. Poderia tentar em outra ocasião, mas teria que reabrir o processo e teria que pagar advogado, juiz… Todos os custos do meu bolso. A partir do momento em que eu assinei o documento, assinei ciente de que não iria mais correr atrás daquilo. Vou esperar passar essa pena, não era o que eu queria, óbvio, ficar quatro anos afastada, mas eu amadureci muito. Acho que estava muito acomodada no Brasil nas coisas que eu queria. Queria sair do Brasil, mas não tinha coragem. A USADA, depois que fui pega no doping, me fez sair da minha acomodação”, revelou.

“As federações querem cobrar algo, que na minha opinião, ainda não pode ser cobrado. Eu tiro pela USADA com a IBJJF. É inadmissível somente apenas algumas pessoas fazerem o exame antidoping. Se vale pra um, tem que valer para todo mundo. Se não tem dinheiro para investir nisso, então não faz. O UFC faz em todos os atletas contratados. E não deveria ser feito no dia do evento (IBJJF). O correto seria eu estar aqui na minha casa e a USADA bater pra me testar”.

Quando foi indagada sobre a penalidade de quatro anos, Tayane julgou o período “pesado”, mas entende que a USADA agiu de acordo com as leis: “Foi muito rígida, porque pela substância encontrada, meu corpo teria que ser bem diferente. Não vou aprofundar isso, mas não vou dizer que sou inocente, porque muita gente vai dizer que eu estou mentindo, mas quem convive comigo sabe da minha realidade e verdade. Eu fui pega com uma substância muito alta, então eles (USADA) foram de acordo com a quantidade de substância no meu exame. Bem ou mal, eles não foram injustos, só seguiram as regras e as leis. Não tem muito o que eu falar ou brigar. No começo, tentei brigar, mas agora é assumir as consequências e seguir”, comentou.

Problemas pessoais, depressão e superação

Quem olhava Tayane nos campeonatos, felize e sempre disposta a brinca e tirar uma foto, não enxerga as dificuldades que ela já passou com problemas pessoais. No Mundial de 2016, por exemplo, ainda como faixa-marrom, a atleta revelou que, às vésperas do torneio, sua irmã desapareceu e tentou suicídio.

“A competição que significa muito pra mim é o Mundial de 2016, que eu estava de faixa-marrom. Quase ninguém sabe, mas naquele ano, a minha irmã desapareceu duas semanas antes de eu viajar para o Mundial. Foi um momento muito difícil para a minha família, pra mim também, porque tivemos que tentar de tudo para encontrá-la. Eu me frustrei muito, fiquei sem treinar por ter que ir para hospital. Quando eu cheguei no Mundial, tive a notícia que ela havia tentado se matar. Aquele Mundial significa muito pra mim, porque eu perdi o absoluto na decisão dos árbitros, mas eu não coloco a culpa nisso. Penso que foi um obstáculo pra mim, porque eu peguei a faixa preta em seguida”, relembrou a casca-grossa.

Pouco depois, uma hérnia na coluna começou a atrapalhar seus movimentos. Acostumada a treinar e não sofrer com lesões, a faixa-preta passou a sofrer psicologicamente quando se viu travada em uma cama.

“Quando eu descobri que estava com hérnia, aquilo me deixou mal. Mas eu continuei treinando, tentando me esforçar, mas chegou uma hora que eu não conseguia andar mais. Fiquei um mês e meio de cama, sem conseguir levantar e, quando levantava, era com a ajuda de alguém. Para tomar banho, precisava de ajuda. Aquilo foi me frustrando de uma forma, que eu via as pessoas que estavam ao meu lado, mas não queria me abrir com elas”.

Muitos atletas, em diversas modalidades, estão tornando público os seus casos de depressão ou síndromes. Com Tayane não foi diferente. A lutadora de Jiu-Jitsu falou que foi um momento difícil e que não queria se abrir com ninguém por ter receio, encontrando forças para se recuperar através da religião.

“Você acaba achando que o seu lado obscuro, aquilo que você está sentindo, vai passar para alguém também. As pessoas sentem energia e eu sou muito ligado a isso. Eu achava que meus amigos iriam se afastar de mim. Quem é seu amigo de verdade, estará com você independente de qualquer coisa. Foi quando eu descobri que tinha amigos de verdade. Mas eu comecei a me isolar, fiquei cerca de três meses isolada sem ter contato com ninguém. É um sentimento que você tem, tipo: ‘o que estou fazendo da minha vida?’. Começa a passar um filme na sua cabeça, de todas as dificuldades”, contou Tayane, que seguiu:

“Temos que buscar o melhor dentro da gente, se apegar muito a Deus. Fui o tipo de pessoa que quando estava ganhando todo tipo de campeonato, me afastei de Deus. Achava que eu não tinha necessidade daquilo. Quando eu me vi sozinha, deitada em uma cama, sem conseguir levantar, eu perguntava para Deus qual era o meu propósito. Quando eu precisei realmente levantar daquela cama, fui para uma igreja. Cada uma tem a sua religião e não sou contra nenhuma. Temos que nos apegar ao que acreditamos”, concluiu.

Confira abaixo o vídeo da entrevista completa com Tayane Porfírio:


* Por Yago Rédua