Xande projeta despedida como adulto no Mundial de 2021 e vê regra confusa no Jiu-Jitsu atual: ‘Perdeu combatividade’

* Dono de sete títulos mundiais na faixa-preta e mais duas medalhas de ouro do ADCC, Xande Ribeiro tem seu nome cravado como um dos maiores da história da arte suave. Aos 39 anos e ainda em atividade, o manauara não pretende abandonar as competições tão cedo. Em entrevista à TATAME através de uma live no Instagram, o casca-grossa revelou que deseja fazer uma despedida da classe adulta em 2021, lutando Mundial da IBJJF e ADCC, e seguir participando de competições na categoria master, além de superlutas.
“Na verdade, a gente não aposenta do Jiu-Jitsu, viramos master. Já lutei de master, sou master 2 e quase chegando no 3 (risos). Eu tenho o objetivo de lutar o Mundial do ano que vem (2021), fazer uma despedida. Estarei com 40 anos, sendo 20 como faixa-preta. Eu queria ter lutado o ADCC do ano passado, só que fiz uma cirurgia e acabou que não consegui. Meu plano era lutar o ADCC 2019 e o Mundial 2020 para me aposentar deste momento da minha carreira. Porém, quero seguir lutando na categoria master, superlutas. Enquanto eu tiver saúde, tenho a possibilidade de fazer luta boa pra galera”, disse.
Com quase 20 anos na faixa preta, Xande viu de perto a evolução técnica do Jiu-Jitsu dentro dos tatames. Conhecido por sua inteligência e capacidade de ler lutas, o professor comentou sobre as regras de hoje.
“A regra estagnou. É uma regra confusa, é muito ‘mimizinho’… Óbvio que tem que agradar o consumidor, mas estamos falando de arte marcial. O Jiu-Jitsu perdeu um pouco da combatividade. Quem treina Jiu-Jitsu há muito tempo, sabe que existiam nos critérios de desempate, combatividade e vantagem. Existe uma diferença entre você ter uma vantagem e você ter sido mais combativo. A guarda, por exemplo, virou uma barbearia de exército (só raspagem, segundo próprio Xande), não tem uma finalização. Por isso admiro o jogo do (Nicholas) Meregali. Ele quer seu pescoço, seu braço, é triângulo… Ele fica ali insanamente, o que é do cara***. E você vê caras ali que preferem enrolar, botar meia guarda, botar a lapela e ficar segurando a posição, quando na verdade não existe combatividade nenhuma. Existe a tentativa de uma vantagem”.
Profissionalização do Jiu-Jitsu
O lado profissional do Jiu-Jitsu pode ser visto por diferentes lados, como academias, atletas, eventos e árbitros, por exemplo. Xande tem a experiência de ser lutador e gerir, ao lado do irmão Saulo, a Ribeiro Jiu-Jitsu. O manauara opinou sobre o assunto e fez críticas a quem não se prepara para abrir uma academia.
“Existe o profissionalismo esportivo e de gerenciamento. No caso das academias, existe um profissionalismo, mas eu acho que podia melhorar muito. Os valores que as artes mais têm, eles não estão sendo ensinados. São muitos caras que ganham campeonatos, que sabem fazer uma raspagem e acham que podem ser professor. Isso acaba prejudicando o profissional que é um pedagogo, quem tem uma metodologia de ensino. Tem fazer que uma separação neste sentido”, opinou o casca-grossa, que seguiu:
“Estou vendo muitas academias no Brasil que não tem CNPJ, não tem vínculo empregatício. Gente que quis abrir uma academia para ganhar dinheiro e acaba se prejudicando. Professor que quer ter uma turma de criança para ganhar dinheiro e acaba prejudicando a criança ao não ensinar os valores corretos. Então, tem que ter uma preparação”.
“A indústria, eventos de Jiu-Jitsu, ainda não sustenta economicamente no plano de negócio. Ainda está muito encostado na boa vontade de um empresário com dinheiro. (…) Toda semana abre uma empresa de quimono, acaba que prejudica as maiores empresas, que muitas vezes não têm uma capacidade real de sustentar um atleta. Pra mim, o Jiu-Jitsu só será profissional quando um atleta de médio porte, que não seja dependente do resultado de um campeonato, conseguir parar um aluguel, poder comprar comida de qualidade, ter um carro para chegar na academia. Os eventos não são autossustentáveis”, concluiu.
Confira abaixo o vídeo da entrevista completa com Xande Ribeiro:
* Por Yago Rédua