Jiu-Jitsu muda a vida de Bruna Casimiro, que supera abusos e alcoolismo para vencer através do esporte
Faixa-azul Bruna Casimiro marcou presença em seminário de Fernando Tererê, uma das suas inspirações; veja
Bruna Casimiro ao lado do seu professor, Nathan, durante uma conquista (Foto reprodução)
Uma vencedora! Essa é Bruna Casimiro, faixa-azul de Jiu-Jitsu e dona de uma grande história de superação. Aos 42 anos, casada e mãe de três filhas, Bruna – também conhecida como “Baiana Maluca” – encontrou na arte suave a ferramenta necessária para superar abusos, traumas e o alcoolismo.
Atualmente treinando na academia West Fight Club com o professor e faixa-preta Nathan Cardoso, ela marcou presença em seminário realizado pela lenda Fernando Tererê no último mês de novembro, na Academia Castelo D’Ouro, com apoio do Sindilutas. E em entrevista, passou sua história na vida e no Jiu-Jitsu a limpo.
“Quando o Jiu-Jitsu apareceu pra mim eu pesava 120kg e estava vivendo uma depressão severa por causa do alcoolismo. Na época eu mudei de bairro para fugir desse caos, cheguei a quase desistir de parar de beber, mas aí encontrei a arte suave. Eu estava destruída mentalmente e fisicamente, e o Jiu-Jitsu foi e é a minha tábua de salvação. Todos os dias que eu treino ganho uma armadura extra contra o alcoolismo, a depressão e todos os meus medos”, relembrou Bruna Casimiro, que continuou:
“Eu falo com toda a certeza desse mundo: o Jiu-Jitsu é um excelente suporte mental para todas as mulheres que sofreram algum tipo de abuso. É uma marca que fica na nossa alma para sempre, a gente nunca vai esquecer o que acontece, mesmo estando tudo bem na nossa vida… E o Jiu-Jitsu entra nessa parte, quando a escuridão vem querer te dar uma banda, aí eu lembro ‘não, isso não vai acontecer mais comigo’. Hoje eu tenho uma ferramenta para superar essa escuridão e não me sentir indefesa”.
Quando não está treinando ou cuidando da filha mais nova, de 10 anos, Bruna Casimiro trabalha como confeiteira e designer de bolos. Através do Jiu-Jitsu, porém, a faixa-azul, que mora no Jardim Maravilha, Zona Oeste do Rio de Janeiro, voltou a estudar e almeja um futuro melhor para ela e sua família.
“A importância da arte marcial na minha vida é tudo. Eu sou uma mulher que não tive pai nem mãe, fui criada pela vida, e o Jiu-Jitsu abriu sonhos novos pra mim. Eu sempre fui camelô, vendia lanches, então quando eu botei o pé no tatame e conheci pessoas maravilhosas, o esporte me deu outra forma de pensar sobre a vida”, conta Bruna Casimiro, para completar:
“Eu comecei a estudar, estou terminando meu Ensino Fundamental, quero me formar em Educação Física depois, além de ser faixa preta de Jiu-Jitsu e Judô, mas meu amor maior é pela arte suave. E quero que outras mulheres que foram abusadas assim como eu, que têm esses traumas limitantes, que elas consigam ver o que eu consigo no Jiu-Jitsu”.
Campeã dentro e fora dos tatames, Bruna Casimiro completou comemorando a chance de conhecer Fernando Tererê, lenda do BJJ e também dono de uma história de superação, e que assim como ela, saiu das favelas para vencer através do esporte.
“Pra mim, participar do seminário do Tererê teve um valor sentimental. Foi maravilhoso aprender as posições, claro, mas como uma mulher alcoólatra, vi nele uma inspiração, porque é um cara que conseguiu se desligar do vício, sair da escuridão e voltar aos holofotes. Hoje ele está aí, mostrando que a arte marcial cura. E mais: quebrou barreiras para colocar o Jiu-Jitsu nas comunidades, ajudou muita gente através da arte suave e a importância disso só quem mora em comunidade sabe”, encerrou a casca-grossa.
Um dos nomes mais icônicos da história do Jiu-Jitsu, Fernando Tererê é reverenciado tanto por sua habilidade técnica quanto pelo impacto cultural e social que trouxe ao esporte. Conhecido por seu estilo de luta único, Tererê contribuiu significativamente para a popularização do Jiu-Jitsu e ajudou a abrir caminho para muitos atletas das comunidades mais humildes do Brasil. Seu carisma, habilidade e poder se superação inspiraram – e inspiram – gerações.