Atleta ‘abre mão’ de carreira no MMA e se destaca no ensino de artes marciais para crianças com autismo: ‘Me sinto realizado’

Atleta ‘abre mão’ de carreira no MMA e se destaca no ensino de artes marciais para crianças com autismo: ‘Me sinto realizado’

* Professor de lutas que batalha dia após dia pelo autismo, Felipe Nilo sempre teve as artes marciais como principal paixão e modelo de vida. Sua prática com o Jiu-Jitsu e o Judô se estendeu para o MMA, onde contabilizou um cartel invicto de dez vitórias. Com uma carreira de sucesso nas artes marciais mistas, o lutador, que já ministrava aulas, passou a se dedicar ainda mais à rotina como professor e abriu mão de uma trajetória que, até então, vinha de maneira promissora no MMA.

Tudo mudou a partir do momento em que Felipe, em uma de suas aulas, teve dificuldades em lecionar para uma criança autista. A partir daí, o faixa-preta concentrou esforços em saber mais sobre o caso, estudá-lo e, hoje em dia, aos 30 anos, realiza um exemplar trabalho com crianças especiais com foco no autismo.

“Eu fui atleta profissional de alto rendimento, tinha inúmeros contratos assinados e passei a dar aulas também. Quando eu comecei a dar aula, me deparei com uma criança autista e não consegui desenvolver muito bem o meu trabalho, e naquele dia eu falo que fui picado pelo bichinho do autismo, e passei a me dedicar, me especializar e estudar para poder desenvolver algo que pudesse incluir essas crianças e fazê-las se superarem através das lutas. Esse projeto existe desde 2015, mas eu já dou aula há mais de 15 anos, desde quando era adolescente. Com esse projeto, conseguimos obter diversos resultados positivos e auxiliar nas terapias que nossos alunos fazem. Hoje, eu ministro palestras e cursos por todo o Brasil falando do trabalho, temos atendimentos em São Paulo, Vitória, tenho meu espaço próprio, 100% adaptado para nossas crianças e jovens com autismo, me sinto muito feliz pelo trabalho que venho conseguindo realizar”, disse Felipe, que falou sobre as conquistas que obteve com a realização do seu trabalho.

“Hoje nossos atendimentos são realizados através de muitos estudos com foco no autismo, mas atendemos inúmeras síndromes. Através das lutas, conseguimos fazer com que as crianças obtenham muitos resultados. Tem casos de crianças que eram agressivas e que o nível de agressividade diminuiu muito quando começou a prática da luta aprendendo a controlar suas frustrações, casos de crianças que não falavam e, através do Jiu-Jitsu e do Judô, passaram a desenvolver uma questão verbal melhor, claro que com auxílio de outros terapeutas, casos de crianças que não conseguiam demonstrar sentimentos pelos pais, e conseguiram demonstrar após o início nas artes marciais. Então, eu uso a luta como uma ferramenta”.


Já é de grande conhecimento os inúmeros benefícios que a prática de artes marciais pode proporcionar para o indivíduo. Com seu trabalho especializado e consolidado, Felipe explicou como funciona o método das suas aulas, ressaltando que elas são exclusivas para cada tipo de caso e de aluno.

“O esporte é uma ferramenta muito importante para as crianças com autismo. Através do esporte, a gente vê os resultados. Eu fui o pioneiro no Brasil a desenvolver esse trabalho com lutas 100% voltado para crianças especiais. Após muito tempo desenvolvi uma metodologia exclusiva, com apoio de grandes neurologistas, psicólogos referências no assunto, conseguimos fazer com que essa metodologia fosse, realmente, funcional para as crianças. São aulas exclusivas que cada criança tem, a criança passa por uma avaliação, e através de cada avaliação, a gente desenvolve uma aula. Por exemplo, a criança que precisa melhorar a questão do foco, ela vai ter uma aula direcionada para isso, assim como a criança que precisa melhorar a coordenação”, afirmou o professor, que por fim, relembrou sua trajetória nas artes marciais.

“Eu sou graduado pelo mestre Ricardo De La Riva no Jiu-Jitsu, enquanto no Judô sou graduado pelo Jomar Carneiro. Fui atleta profissional de MMA. Eu tinha bons contratos e falo que não abri mão do meu sonho, o meu sonho apenas se transformou em outro no meio do caminho. Eu vi que através das lutas, eu poderia fazer muito mais por essas famílias que têm filhos especiais do que se eu estivesse no maior octógono do mundo. Hoje, sou o profissional mais feliz do mundo fazendo o que eu faço, ajudando inúmeras famílias por todo o Brasil e mundo, podendo orientar e aconselhar. Hoje o meu objetivo é fazer a inclusão, poder ver resultados e melhorias em nossas crianças especiais. Assim como o esporte me ajudou muito, hoje eu quero poder retribuir isso, fazendo com cada criança e jovem se supere e se transforme a cada dia”, encerrou.

* Por Mateus Machado