Gabriel Sousa relembra dificuldades no início da carreira e afirma: ‘O Jiu-Jitsu mudou completamente a minha vida’
* Campeão do ranking 2018/2019 da AJP Tour, Gabriel Sousa se tornou nos últimos anos um dos principais atletas das categorias mais leves do Jiu-Jitsu. Entretanto, o começo do atleta – que hoje viaja o mundo para competir – na arte suave não foi nada fácil. Em entrevista à TATAME através de uma live no Instagram, o faixa-preta da ZR Team relembrou como fez para conseguir os seus primeiros patrocínios.
Natural do Ceará, Gabriel disse que a família pagava sua alimentação, mas que nunca teve condições de arcar com as inscrições dos torneios e passagens para competir em outros estados. Então, além de vender rifas, o hoje faixa-preta decidiu fazer um currículo e sair por Fortaleza pedindo patrocinadores.
“Eu não tinha como me vender para os patrocinadores na faixa laranja. Aí, eu criei um currículo dos meus títulos, como se fosse para ir atrás de um emprego, fiz a mão mesmo com a minha idade, celular. Ia de bicicleta pelo centro de Fortaleza e pedia de porta em porta nas lojas. Muita das lojas eu recebi ‘não’, mas duas ou três me deram ‘sim’. Eles começaram a me apoiar. Perguntaram o que eu realmente precisava. Eu não queria nada além que me ajudasse com inscrições ou passagens. (…) Sempre achava um jeito de me mexer, não esperava nada cair do céu”, relembrou o atleta, atualmente aos 23 anos de idade.
A decisão de Gabriel de viver apenas do Jiu-Jitsu e se dedicar para virar um atleta profissional veio após terminar o Ensino Médio. O lutador relatou que, naquela fase, sofria uma pressão da mãe para arrumar um emprego e entrar na faculdade, mas essa pressão o estimulou a pegar mais pesado durante os treinamentos para evoluir dentro da arte suave. O resultado veio com o primeiro título Brasileiro da CBJJ ainda na faixa colorida. Naquele momento, a família passou a olhar de forma diferente para o esporte.
“Eles ficaram com um pé atrás, porque os pais não querem que o filho seja atleta. Se meu pai fosse faixa-preta de Jiu-Jitsu, seria mais fácil dele aceitar que eu vivesse do Jiu-Jitsu. Toda família quer ver o seu filho formado em Medicina, Odontologia, ou seja lá qual for a universidade”.
“Quando eu ganhei (o título Brasileiro) e expliquei (a importância), eles (família) se acalmaram um pouco. Eles meio que pensaram: ‘vamos ver onde é que ele consegue chegar’. Aí eu fui para os Estados Unidos, então, eles viram que o Jiu-Jitsu estava me dando retorno de alguma forma, mesmo não sendo financeiro. Os patrocinadores estavam chegando, minha dedicação e esforço estavam sendo recompensados. Aí, um ano e meio depois, me mudei para os Estados Unidos. Lá o Jiu-Jitsu virou minha fonte de renda. Consegui trabalhar, aprendi inglês. Não que hoje seja mil maravilhas, mas não tem comparação com o que eu vivia. O Jiu-Jitsu mudou completamente a minha vida e vem mudando muito rápido”, afirmou o casca-grossa.
Pandemia na Itália e susto nos EUA
Após o novo coronavírus deixar a China e ingressar em outros países, a Itália se tornou o epicentro da pandemia na Europa. No fim de fevereiro, quando começavam a aparecer os primeiros casos em solo italiano, aconteceu o National Pro da AJP Tour. Gabriel esteve no evento e até pensou em desistir.
Chegando na capital italiana, o faixa-preta contou que as ruas estavam vazias, mas as pessoas não usavam máscaras. Além disso, um taxista ficou irritado com o fato do brasileiro usar álcool em gel: “Ele estava vivendo a vida como se nada tivesse acontecendo. Ele ficou bem chateado, falando que como éramos estrangeiros e saímos do nosso país para andarmos daquele jeito na Itália, falando que não tinha nada lá”, falou Gabriel, que achou a situação um exagero, mas se assustou quando chegou nos Estados Unidos.
“Quando vivemos a situação lá na Itália, ficamos mais tranquilos. Achamos que estavam colocando bem mais medo do que ele realmente é, da potência que ele tem. Os casos estavam ainda no Norte do país e não em Roma. Ficamos tranquilos e viajamos para a Inglaterra, lá eles mediram a minha temperatura. Até chegarmos em Londres, estávamos tranquilos. Quando fui de Londres para a Califórnia, ainda estava bem de boa, porque o Pan não tinha sido adiado ainda. Mas aí, quando eu cheguei nos Estados Unidos, o presidente, Donald Trump, estava falando no ‘lockdown’. Comecei a ver o tamanho da coisa e fiquei desesperado”, concluiu Gabriel, que imediatamente retornou ao Brasil antes das fronteiras serem fechadas.
Confira abaixo o vídeo da entrevista completa com Gabriel Sousa:
* Por Yago Rédua