Fábio Gurgel recebe a faixa coral e escreve artigo sobre momento: ‘Farei meu o melhor para honrá-la’
Fábio Gurgel é o mais novo nome do Jiu-Jitsu que entra para o seleto grupo de faixas-coral. Em seu site, o “General”, um dos principais líderes da Alliance, explicou o sentimento que está vivendo, suas emoções e um pouco do caminho percorrido até receber a sonhada faixa aos 50 anos. No artigo, Gurgel contou que decidiu viver do Jiu-Jitsu com quando tinha apenas 15 anos. Desde então, fez parte da construção da história e da evolução da modalidade no Brasil e no exterior. Em um trecho, o agora, de fato, mestre, descreveu este momento.
“Embora eu esteja chegando aqui com a menor idade possível isso de fato não importa muito. Eu, na verdade, sinto um enorme orgulho de ter chegado até aqui, sabia que tudo que eu precisava fazer era me manter vivo e esse dia com toda certeza chegaria, pois parar o Jiu-Jitsu nunca foi uma opção desde que eu tinha 15 anos de idade, quando decidi que isso seria o que eu faria da minha vida. A faixa coral é um símbolo, representa a entrada no universo dos mestres do esporte, pessoas que vieram antes de nós, a quem devemos sempre respeito e gratidão pelo caminho ensinado. Hoje entro honrosamente nesse seleto grupo com a consciência de que uma nova estrada de aprendizado se abre a minha frente, farei como sempre meu melhor para merecê-la e honrá-la”, escreveu o experiente professor.
Confira abaixo o texto na íntegra:
As pessoas têm me perguntado como me sinto recebendo a faixa coral. E tentar responder essa pergunta será objetivo deste texto. Primeiramente, como em todos os graus que ganhei na (faixa) preta a constatação que estou ficando mais velho se faz presente. Uma vez que os graus nessa fase são baseados no tempo de faixa e não exatamente por mérito.
Embora eu esteja chegando aqui com a menor idade possível isso de fato não importa muito. Eu, na verdade, sinto um enorme orgulho de ter chegado até aqui, sabia que tudo que eu precisava fazer era me manter vivo e esse dia com toda certeza chegaria, pois parar o Jiu-Jitsu nunca foi uma opção desde que eu tinha 15 anos de idade, quando decidi que isso seria o que eu faria da minha vida. A faixa coral é um símbolo, representa a entrada no universo dos mestres do esporte, pessoas que vieram antes de nós, a quem devemos sempre respeito e gratidão pelo caminho ensinado. Hoje entro honrosamente nesse seleto grupo com a consciência de que uma nova estrada de aprendizado se abre a minha frente, farei como sempre meu melhor para merecê-la e honrá-la.
Hoje em dia, as tradições, mesmo nas artes marciais, são comumente colocadas de lado, muitas vezes olhamos o Jiu-Jitsu como apenas um esporte e onde a medalha é o principal objetivo, isso nos leva para um caminho perigoso onde podemos ver em pouco tempo o Jiu-Jitsu sendo totalmente desfigurado como arte marcial.
Sou e sempre serei um defensor da evolução técnica e tenho convicção que o Jiu-Jitsu praticado hoje é o melhor que já existiu. No entanto, honra, ética e valores morais nunca deveriam sair de moda, pois são os pilares de um artista marcial e não podemos permitir que isso seja de qualquer forma colocado em risco, seja qual for o preço a se pagar.
Voltando ao início…
Quando comecei no Jiu-Jitsu aos 13 anos, o meu sonho era um dia me tornar um faixa preta, a jornada parecia extremamente longa e, por isso, não havia certeza se eu conseguiria. Mas, aos 19 anos, cheguei lá. Me senti o cara mais incrível do mundo e com certeza aquele era o maior feito de minha vida até então.
A faixa preta veio para me ensinar tantas coisas. Em 31 anos dentro dela, tenho a certeza de ter vivido praticamente tudo que era possível viver. Dos campeonatos defendendo a academia do (Romero) Jacaré aos mundiais no Tijuca (Tênis Clube, no Rio), aos ringues de Vale-Tudo, tendo a honra de representar o Jiu-Jitsu e me dedicar ao máximo como atleta, mas paralelamente a isso cuidar de meus alunos, fazendo o que hoje alguns entendem não ser possível, fundar a Alliance em 1993 e ajudar meu mestre e toda a nossa família a nos tornarmos a equipe mais vencedora da história do esporte.
Ter vivido tantas alegrias e vitórias fez essa longa jornada ser sem dúvida minha melhor escolha, porém foram as derrotas, desentendimentos, frustrações e lagrimas que realmente me tornaram um cara de sucesso. É, a luta é assim mesmo!
Tive muita sorte, primeiro de ter encontrado o Jacaré, professor extremamente presente que me permitiu fazer parte do sonho dele, me mostrou o Jiu-Jitsu na sua essência me ensinou sem limites, vibrou com cada vitória e estava lá em todas as derrotas, me ensinou a arte de ensinar e colocar os alunos acima de tudo. Me deu a oportunidade de colocar minha ideias, de errar tantas vezes e seguir contando com sua confiança e suporte. Nos tornando sócios quando eu tinha apenas 21 anos de idade, seguimos sócios até hoje.
Tive muita sorte.
Tive a honra de ser o primeiro faixa preta graduado por ele em 23/10/1989, há exatos 31 anos. Tenho a felicidade de tê-lo presente em minha vida sem interrupções até hoje e ter com ele o maior laço de amizade que consigo imaginar.
Depois, tive a sorte de ter alunos maravilhosos em meu caminho, costumo dizer que meus alunos foram meus maiores professores de vida, como aprendi e aprendo com vocês todos os dias. Quantas batalhas juntos onde estivemos uns pelos outros, seria impossível nomear a todos e cada momento que vivi com cada um de vocês, embora eu tenha vontade de dizer cada nome e homenagear cada um por terem me escolhido, por terem se juntado a meu sonho, por confiarem e principalmente por carregarem a mensagem para muito além de onde meus braços poderiam chegar.
Vocês, meus alunos amados, sabem quem são. Vocês são aqueles que discordaram e ficaram a meu lado para me mostrar o caminho, que discordaram e muitas vezes, mesmo não conseguindo argumentos para me convencer, ficaram confiando. Vocês transformaram o filme da minha história em um highlight de tirar o fôlego.
Por último, minha reverência aos meus adversários, todos que enfrentei que ganhei e que perdi mas que me ensinaram a beleza da luta, me obrigaram a me disciplinar, a buscar a utópica perfeição, a respeitar e a não desistir.
Tive muita sorte.