Médico neuropediatra exalta trabalho de Felipe Nilo com crianças autistas e artes marciais: ‘Pioneiro’
Dr. Paulo Liberalesso falou sobre o livro “A Importância das Artes Marciais e do Jiu-Jitsu para Pessoas com Autismo", de Felipe Nilo
Dr. Paulo Liberalesso e Felipe Nilo: parceria de longa data (Foto reprodução)
No último dia 19 de setembro, no Rio de Janeiro, aconteceu o lançamento do livro “A Importância das Artes Marciais e do Jiu-Jitsu para Pessoas com Autismo”, escrito por Felipe Nilo, faixa-preta de Jiu-Jitsu e referência na comunidade autista.
Um verdadeiro sucesso, o evento reuniu não só grandes nomes do mundo das lutas, mas também da área médica, entre eles o Dr. Paulo Liberalesso, médico neuropediatra e Diretor Científico do IEPSIS – Instituto de Ensino e Pesquisa em Saúde e Inclusão Social.
Entusiasta do trabalho feito por Felipe Nilo, o doutor citou o ineditismo, além do impacto da atividade física no tratamento de transtornos neuropsiquiátricos graves como a depressão, ansiedade e transtorno do déficit de atenção, concentração e hiperatividade, entre outros.
“Eu conheci o Felipe há alguns anos e, em meio a tantos profissionais que trabalham com crianças autistas em nosso país, o que me chamou a atenção especificamente no trabalho dele foi o ineditismo. Felipe foi pioneiro no uso das artes marciais como uma ferramenta para viabilizar o ensino de diversas habilidades para crianças no transtorno do espectro autista. Em um mundo no qual as pessoas estão cada vez mais imersas em atividades tecnológicas e telas, a prática da atividade física tem se tornado um desafio cada vez maior na infância, adolescência e na vida adulta. E foi exatamente nesse cenário que o Felipe Nilo encontrou uma forma de utilizar sua expertise nas artes marciais para gerar aprendizado nos pequenos”, disse Paulo Liberalesso, listando os benefícios:
“A literatura científica é farta em estudos que demonstram os efeitos benéficos para a saúde de modo geral da prática esportiva regular, desde que adequadamente orientada por um profissional habilitado para tanto. Inicialmente, acreditava-se que a atividade esportiva tivesse impacto somente sobre a saúde física do indivíduo, melhorando aspectos cardiovasculares, pulmonares e osteomusculares. Contudo, atualmente sabemos que é muito mais que isso. A prática regular de exercícios físicos gera impacto positivo sobre o funcionamento do sistema nervoso central por meio da alteração de diversos hormônios e neurotransmissores como a dopamina, noradrenalina, serotonina e de endorfinas. Os melhores protocolos de tratamento de transtornos neuropsiquiátricos graves como a depressão, ansiedade e transtorno do déficit de atenção, concentração e hiperatividade, incluem, obrigatoriamente, práticas esportivas frequentes”.
“Outro aspecto que não podemos esquecer quando falamos de crianças, adolescentes, jovens e adultos no transtorno do espectro autista é a obesidade. Dados atuais apontam que praticamente metade das crianças e adolescentes autistas e/ou com deficiência intelectual apresentam sobrepeso ou obesidade, o que é sempre agravado pelo sedentarismo típico dos dias atuais. Evidentemente, o esporte (associado à dieta nutricionalmente balanceada) tem um impacto físico benéfico aumentando força muscular e massa magra, com consequente redução nos níveis de colesterol, triglicerídeos e glicemia”, complementou.
Por fim, o Dr. Paulo Liberalesso comentou a importância da capacitação para realizar esse tipo de trabalho – onde Felipe Nilo é referência -, além do seu impacto em pacientes e famílias autistas.
“Talvez essa seja uma das nossas maiores dificuldades no Brasil quando falamos de práticas esportivas para crianças e adolescentes no transtorno do espectro autista. Esta população apresenta especificidades muito particulares que podem tornar a prática esportiva bastante desafiadora. Ministrar aula de uma determinada arte marcial para uma criança neurotípica já tem seus desafios, mas quando falamos de ministrar essa mesma aula para uma criança neurodivergente, as coisas podem se tornar muito mais desafiadoras. Primeiramente, porque é preciso que o profissional tenha conhecimentos técnicos que, certamente, devem ir muito além da prática daquela determinada arte marcial. Será preciso conhecer diversas características clínicas que são próprias de um transtorno do neurodesenvolvimento como o autismo, como a presença do transtorno do processamento sensorial, sensibilidade tátil aumentada, alterações sensoriais auditivas, comportamentos ritualizados, estereotipias, comportamentos repetitivos e eventual alteração de tônus muscular”, afirmou o médico, antes de encerrar:
“Não é recomendado (aliás, é fortemente contraindicado) que profissionais de artes marciais ou mesmo de outros esportes, trabalhem com crianças autistas sem o adequado e suficiente preparo para tanto. Isso pode colocar em risco a saúde física, psíquica e emocional destas crianças podendo provocar, inclusive, agravamento do quadro comportamental”.
“A Importância das Artes Marciais e do Jiu-Jitsu para Pessoas com Autismo“, vale citar, já está disponível no site https://loja.literarebooks.com.br/autismo/a-importancia-do-jiu-jitsu-e-das-artes-marciais-para-criancas-e-adultos-com-autismo.