Lapidada pelos irmãos Mendes, campeã de Muay Thai mira glória no Jiu-Jitsu após brilhar no Mundial
Por Diogo Santarém
Campeã mundial de Muay Thai pela WMF, lutadora de MMA e, recentemente, campeã mundial de Jiu-Jitsu pela IBJJF, no último mês de junho, na Califórnia (EUA). Com apenas 21 anos, Iasmim Casser possui um currículo de respeito nas artes marciais. Após brilhar no Muay Thai e se aventurar no MMA, onde soma uma vitória e nenhum revés, a brasileira do Rio Grande do Sul se apaixonou pela arte suave e, hoje, tem no esporte o seu foco.
Seu ponto alto no Jiu-Jitsu até agora aconteceu no Mundial 2019, quando brilhou na faixa-azul entre as mulheres e conquistou o ouro duplo. Na sequência, Iasmim recebeu a faixa roxa dos irmãos Rafael e Guilherme Mendes, dois ícones da arte suave, em momento único na sua carreira, segundo a própria descreveu em entrevista exclusiva à TATAME.
“Eu estava no pódio do absoluto e vi o professor Gui (Mendes) vindo segurando uma faixa. Fiquei observando enquanto ele chegava mais perto, mas na verdade meu cérebro não processou aquela informação. Eu estava tão feliz que congelei e tudo que consegui fazer foi dar umas risadas esquisitas e dizer ‘obrigado’, mas de qualquer forma, palavras não descreveriam aquele momento. A expectativa para a faixa-roxa é repetir tudo que eu fiz na azul, mas melhor. Agora bem mais adaptada ao Jiu-Jitsu, quero estender meus limites e treinar muito mais. Estou muito empolgada com os novos desafios”, afirmou a jovem atleta da Art of Jiu-Jitsu, que ainda falou sobre a sensação de conquistar o ouro duplo.
“Sentimento indescritível. Sensação de missão cumprida acima de tudo, depois de muito trabalho duro. Estou muito feliz pelos títulos e por poder representar a minha equipe. Pra mim isso foi uma forma de dizer ‘obrigada por acreditarem em mim’, e não tem preço”.
Confira outros trechos da entrevista com Iasmim Casser:
-Análise da campanha no Mundial 2019 e diferenciais para as conquistas
Acredito que o que fez a diferença foi, principalmente, ter uma ótima orientação de pessoas que chegaram ao topo e definitivamente sabem o caminho. Treinar ao lado de muitos campeões e atletas brilhantes também faz a sua visão do jogo mudar. Assistir ao que eles fazem e como eles fazem, prestar atenção nos mínimos detalhes. Uma vez o professor Gui (Mendes) falou para a classe algo mais ou menos assim: ‘Se tem gente vindo às 7h da manhã para fazer drills antes do treino de competição, o que você está fazendo na sua cama dormindo enquanto isso? Se você quer ter os mesmos resultados que eles, no mínimo você tem que se esforçar tanto quanto eles’, e isso me marcou bastante. Eu analiso a minha campanha como um período de descoberta e adaptação dentro do Jiu-Jitsu. Antes de me mudar para os EUA, eu nunca tive a oportunidade de poder focar 100% no Jiu-Jitsu, era sempre o Muay Thai e depois o MMA. Quando os irmãos Mendes me deram essa oportunidade há dez meses, era tudo totalmente novo e diferente. Outro país, outras pessoas, outra cultura, outro idioma e acima de tudo, outro esporte. Me senti um peixe fora d’água e duvidava muito de mim. Observava o nível dos atletas treinando ao meu redor e pensava até que não merecia aquela oportunidade. Tinha muito medo de ter feito a decisão errada, dependo de mim, e nesse caso o fracasso representa muito mais do que só uma frustração. No entanto, com o tempo e o suporte do meu professor e equipe, eu fui me adaptando. Veio a primeira competição, ouro duplo. A segunda, ouro duplo, e assim por diante. Comecei a acreditar em mim e foram 17 ouros em dez meses até o Mundial.
-Sensação de ser um dos destaques nas faixas coloridas e finais na preta
É algo surreal, pois se eu paro para pensar, há um ano atrás eu nem imaginaria que algum dia eu seria de fato atleta de Jiu-Jitsu. Todo esse reconhecimento, mesmo que eu fosse apenas faixa-azul, me motiva demais a querer fazer muito melhor nas próximas faixas. Quero fazer desse ensaio para a faixa preta uma jornada de muito aprendizado, e poder proporcionar às pessoas uma empolgante apresentação do conhecimento que à mim é confiado. Como todo Mundial, as finais da faixa-preta são os combates mais empolgantes de assistir. Muita técnica, coração e viradas de luta que me fizeram literalmente perder a voz de tanto que gritei. Minha única decepção foi de não ver uma final no absoluto masculino, mas entendo totalmente a amizade entre Leandro Lo e Marcus Buchecha.
-Objetivos e os irmãos Gui e Rafael Mendes como inspirações no Jiu-Jitsu
Pode parecer que eu estou puxando o saco, mas quem me conhece há bastante tempo sabe que Guilherme e Rafael Mendes sempre foram meus maiores ídolos desde o meu primeiro contato com o Jiu-Jitsu. Acho que nem eles sabem disso, já que eu tento passar batida sem dar uma de tiete (o que eu acredito que deva ser muito irritante), mas até hoje não caiu a ficha que eu treino na AOJ. Eu admiro o sistema que eles criaram para o Jiu-Jitsu e a maneira com que ensinam. A forma técnica e limpa dos movimentos é realmente uma arte. Sem falar das ‘acrobacias’ que sempre deram um nó na minha cabeça (risos). Meu sonho é um dia conseguir fazer as ‘bruxarias’ que eles fazem no tatame.
-Início no Muay Thai, mudança para o MMA e seus planos para o futuro
Eu comecei lutando Muay Thai, e posteriormente decidi que queria lutar MMA profissional, então teria que eventualmente aprender alguma técnica para me defender no chão. Meu primeiro contato com o Jiu-Jitsu foi em meados de 2015. Eu lembro de achar a arte marcial entediante e ter até certo preconceito por ser originalmente da ‘porrada’. Treinava muito de vez em quando, até que, de repente, comecei a desenvolver uma paixão secreta pelo Jiu-Jitsu, mas ainda levariam anos até que eu assumisse isso de verdade, e foi só em 2018, com o incentivo do professor Guto Campos, que eu comecei a libertar esse sonho que estava dentro de mim. Meu plano é aprender plenamente essa arte marcial, construir minha carreira e meu nome nesse esporte sendo campeã mundial em todas as faixas até a faixa preta. Uma vez cumprido esse objetivo, na idade de 24 ou 25 anos, voltar a focar no MMA e ser campeã do mundo. Quero chegar ao topo para ter condições de dar outra perspectiva de vida para minha família e pessoas que assim como eu são cheias de sonhos e vontade de fazer a diferença. Tenho muitos projetos para quando esse dia chegar.