Defesa pessoal para mulheres: como se prevenir de violências físicas e sexuais? Leia o artigo e opine
Por Mônica de Paula Silva
Ao iniciar a modalidade Jiu-Jitsu, o meu objetivo era – e é – melhorar meu corpo, minha mente e meu cérebro, além de saber o quanto essa modalidade nos traz benefícios. O meu professor Marcos Vinicius Souza de Oliveira (Vinicius Bahia) me direcionou a pensar em defesa pessoal e logo veio na minha cabeça agressões físicas e estupros.
Vou ser sincera, não tinha pensado na possibilidade de me defender de uma briga corporal, seja com quem for, ou até mesmo de um estupro. Muitas pessoas hoje buscam a modalidade para melhorar autoestima, resistência física, aumentar a concentração, atenção, turbinar a memória, diminuir problemas cardiorrespiratórios, diminuir o estresse, melhorar o sono e outros, mas não em se defender de uma agressão física ou sexual, pelo menos eu e muitas mulheres não pensamos em sair pelas ruas temerosas achando que, a qualquer momento, podemos ser atacadas ou ter uma bola de cristal em casa para adivinhar que o futuro marido ou namorado possa nos agredir. Estamos neste mundo para vivenciar qualquer situação. Como não temos controle de nada, por que não pensar em prevenção? Como os samurais que a finalidade foi criar um método de defesa desarmada.
Nota: em 2017, foram registrados cerca de 4 mil casos de lesão corporal em mulheres vítimas de violência doméstica nos três primeiros meses daquele ano. Este número saltou para 7.097 casos do mesmo crime em 2019. Diante destes números, pode-se afirmar que cerca de 88 mulheres foram agredidas por dia por seus maridos, namorados e ex-companheiros. Estamos diante de uma tenebrosa realidade onde, por hora, aproximadamente quatro mulheres se tornam vítimas da violência em São Paulo. (Fonte: Portal notícia online VEJA/SP)
Começamos a aula com alongamentos e, logo em seguida, o professor Vinicius iniciou me explicando as técnicas de golpes de alavancas, torções e pressões para derrubar e dominar um oponente, dando exemplos de como seria me defender de um estuprador. Naquele momento comecei a usar minha imaginação: o que eu faria se estivesse sendo estuprada? Como conseguiria sair daquela situação dolorosa e angustiante? Ser agredida com socos e pontapés pelo próprio marido? Eu senti um medo tremendo só de imaginar isso comigo.
Voltei a prestar atenção nas orientações do professor e finalizamos a primeira aula. Ao entrar no carro, pensativa, lembrei-me de um estudo de caso compartilhado pela psicóloga em uma reunião de equipe multidisciplinar há cinco meses na clínica aonde eu atendo.
K, 23 anos, estuprada aos 17 anos pelo amigo da família
“Eu fiquei com muito medo, eu me debati, lutei, gritei e mesmo assim fui estuprada por horas. Doía-me tudo, o corpo, o útero, o coração. Senti-me suja e nojenta e tinha medo que outros homens me tocassem. Nos primeiros meses não comia, não dormia e por várias vezes pensei em morrer. Mesmo hoje, oito anos depois, fazendo terapia, praticando esportes, eu me sinto mal em falar sobre o assunto. Aquela cena perturbadora e angustiante volta à minha cabeça”.
M, 28 anos, esfaqueada pelo marido
“Na semana passada, meu marido me deu um soco na cabeça e ontem puxou a faca e veio pra cima de mim. Eu corri para a rua, comecei a gritar ajuda, só que ninguém veio. Eu subi na laje e lá tem como os vizinhos verem. Ele não subiu, ficou em casa com o meu filho. Acredito que o meu filho é agitado e nervoso na escola por presenciar essas brigas”.
Nota: a cada dois segundos, uma mulher é vítima de violência física ou verbal no Brasil. A cada 1.4 segundo, uma mulher é vítima de assédio. Os dados são do Instituto Maria da Penha e usam como base a pesquisa Datafolha encomendada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública realizada em fevereiro de 2017, em 130 municípios.
Essas moças sofreram horrores, cada uma em sua realidade, mas as cicatrizes estão na alma, sentidas de formas diferentes. Sabemos que não temos garantia de nada, porém, aprender defesa pessoal, em destaque o Jiu-Jitsu, pode nos ajudar a evitar o pior.
Os prejuízos são inúmeros às vítimas de abusos sexuais e físicas. Podem sofrer de transtorno de estresse pós-traumático, depressão, ansiedade, transtornos alimentares, distúrbios sexuais e do humor, uso ou abuso de álcool e drogas e problemas com relacionamentos interpessoais. A relação com a própria imagem, a autoestima e as relações afetivas também são afetadas negativamente, o que limita a qualidade de vida. Especialistas garantem que esses sintomas podem ser duradouros e estender-se por muitos anos na vida dessas mulheres.
Já no cérebro, os prejuízos são irreversíveis. À medida que aprendemos novas informações, nós estamos constantemente gerando novos neurônios no hipocampo, uma região do cérebro associado ao aprendizado, memória e emoção. Os pesquisadores da Universidade da Califórnia, em Berkeley, descobriram que o cérebro, em estado de estresse crônico, gera mais células produtoras de mielina e menos neurônios que um cérebro típico, resultando em excesso de mielina (uma camada isolante com revestimento protetor ao redor dos neurônios) no hipocampo.
Há muitas coisas que podem ser feitas para se evitar as agressões físicas e o estupro. Neste caso, se colocar no lugar da vítima é essencial, fazer uma aula experimental de Jiu-Jitsu com o professor que tenha um olhar sensível em relação ao assunto é fundamental para todas as mulheres que queiram se prevenir desse abismo de dores.
Mônica de Paula Silva
Escritora e Neuropsicopedagoga
Quem sou eu? Mônica de Paula Silva, também conhecida como Monica Lambiasi, é graduada em Pedagogia desde 2004. Concursada pela Prefeitura de Embu Guaçu – SP atua há 13 anos como psicopedagoga clínica, área na qual é pós-graduada desde 2006. Em 2008 concluiu pós-graduação em Didática Superior, e em 2009 concluiu pós-graduação em Educação Especial e Educação Inclusiva. Já em 2017 concluiu pós-graduação em neuropsicopedagoga, e atualmente estuda psicanálise e neurociência.
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