Diego Lima acredita que pandemia pode fazer lutadores ‘desistirem do sonho’ e conta a situação na Chute Boxe em São Paulo
* A pandemia provocada pelo novo coronavírus (Covid-19) é uma realidade no Brasil e no mundo, e setores das mais diversas áreas estão precisando se adequar, entre eles o esportivo. No MMA, os eventos – em sua maioria – foram suspensos e as academias estão de portas fechadas. O impacto é grande, tanto esportivamente, quanto financeiramente, e afeta academias/equipes, organizações, atletas e professores/treinadores.
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Líder da Chute Boxe em São Paulo, Diego Lima falou em entrevista exclusiva à TATAME sobre os principais problemas causados pelo período de quarentena imposto como forma de conter o avanço da Covid-19. Segundo ele, além do lado financeiro – talvez o principal -, muitos atletas da equipe viram seus sonhos serem frustrados com lutas canceladas e a dificuldade de continuarem ativos durante a pandemia.
“Tivemos em torno de 15 lutas canceladas, muitos eventos caíram, e isso é triste porque a molecada estava treinando duro, fazendo dieta, focada, então dá uma desanimada, mas ao mesmo tempo, por mais que os atletas fiquem chateados, é algo que foge do nosso controle, que precisamos enfrentar. Tenho certeza que assim que acabar esse caos os eventos vão voltar, e todos estarão prontos para sair na mão. O momento agora não é de desespero, e sim respirar fundo, cuidar da saúde e familiares”, disse Diego, completando:
“O impacto financeiro com os cancelamentos é muito grande. No mundo inteiro acho que os lutadores serão afetados. A maioria ganha muito pouco na tentativa de realizar o sonho de ser lutador, e esse período pode fazer com que muitos desistam, caso não aguentem esse impacto financeiro. Já é difícil pagar as contas lutando, dando aulas, imagina com tudo parado então. Infelizmente, acho que perderemos muitos talentos, e isso me entristece muito, pois ter que abrir mão desse sonho pela parte financeiro é complicado”.
Por outro lado, se os lutadores vão sofrer bastante na opinião de Diego, os grandes eventos nem tanto, e ele acredita em um retorno em alto ritmo das principais organizações de MMA: “Acho que os eventos se prejudicam um pouco, eles também precisam girar (o dinheiro), mas UFC, Bellator, ONE Championship e BRAVE CF, por exemplo, entre outras franquias, não terão nenhum grande problema. Acredito que eles vão voltar mais fortes ainda. Porém, essa é uma fase onde todos estão perdendo dinheiro”, opinou.
A respeito das medidas de contenção adotadas na sua filial da Chute Boxe, Diego Lima ressaltou que vem fazendo tudo ao seu alcance para que, quando as coisas voltarem ao normal, o trabalho seja afetado o menos possível. Além de reduzir ao máximo os custos operacionais da academia, o treinador e gestor afirmou que vem renegociando prazos e outros tipos de pagamento, e contado com o apoio dos alunos.
“A maior preocupação é realmente pagar as contas, aluguel, funcionários, água, luz, essas coisas. Cortar gastos aqui é muito difícil, porque nossos gastos já são reduzidos. As contas não param e algumas tem que ser pagas, então o que tenho feito é conversar, dividir um valor, pedir uma carência maior, ir buscando alternativas para que todas as contas sejam pagas, mas que isso não nos prejudique também. A maioria dos alunos está arcando com seus compromissos, e isso me deixa muito feliz. São 19 anos na academia, 15 como professor e quatro como dono, tudo foi conquistado, nada me foi dado, e meus alunos sabem disso, da minha história, do meu esforço diário para conquistar o que eu tenho e também valorizar eles. Muitos me perguntam se está tudo bem, ligam preocupados com a sua casa, porque aqui é a segunda casa de praticamente todos, para alguns até a primeira casa (risos) pelo tempo que ficam aqui”, celebrou Diego.
Confira o restante da entrevista com Diego Lima:
– Como a paralisação das atividades vem afetando a Chute Boxe?
Estamos fechados, acabei enviando professores e treinadores pra casa, e infelizmente não temos compromissos marcados. Todos foram adiados, mas sem nenhuma previsão para acontecer. É complicado, porque a gente não sabe o dia que volta, o que está acontecendo exatamente, então é muito difícil a gente se preparar para algo que não sabemos quando tem fim. Eu acredito em Deus e estou confiando dele. Na minha vida tudo foi assim, correndo atrás, arregaçando as mangas, e dessa vez não vai ser diferente. Os alunos têm ajudado muito também, somos uma família, e devido a isso as coisas estão caminhando.
– Passou alguma recomendação para os atletas da equipe?
Nós fazemos camp pra luta o ano inteiro, 365 dias. Inclusive o Charles do Bronx, que lutou no UFC Brasília, tirou uma semana de férias e depois retornou para ajudar o pessoal que ajudou na preparação dele. Como é a primeira vez que não temos lutas marcadas, ninguém é obrigado a treinar, então minha sugestão foi realmente todos tirarem férias. Cada um está fazendo o que bem entender, mas como todos são atletas, sentem falta e estão treinando por conta própria, mas a ideia é realmente a galera tirar férias.
– Como os atletas que vivem no alojamento estão se virando?
A nossa equipe é muito unida, somos verdadeiramente uma família. Para treinar com a gente não tem peneira de resultado, é de acordo com o caráter e a dignidade do atleta, saber se relacionar bem, respeito ao próximo, aí ele tem as portas abertas aqui, a parte técnica cabe a gente aprimorar. Temos um grupo de toda a equipe onde a gente conversa bastante, e tem uma casa daqui perto da academia onde moram muitos atletas, um alojamento. Como já estão juntos, eles têm se ocupado treinando entre eles, jogando videogame, dividindo os problemas e virando mais ainda uma família. Juntos vamos sair dessa.
* Por Diogo Santarém