Ex-atleta é contra retorno aos treinos de esportistas olímpicos durante a pandemia e alerta: ‘Ficam mais expostos à doença’
O Brasil é um dos países mais afetados do mundo pela pandemia do novo coronavírus, com quase 20 mil mortes e 300 mil casos confirmados. Porém, em alguns estados onde a situação é menos crítica, decretos estaduais e municipais começam a permitir o retorno de alguns setores, como as academias de artes marciais. Na contramão desse caminho, o ex-atleta olímpico César Castro acredita que o retorno antecipado aos treinos pode expor atletas de equipes olímpicas à Covid-19.
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Segundo César, atualmente técnico e professor de Educação Física do Colégio Presbiteriano Mackenzie Brasília, os treinos em alta intensidade aumentam o ritmo corporal. Em consequência, acabam reduzindo a imunidade dos atletas, que estarão em contato com outras pessoas, ainda não testadas para a Covid-19. Além disso, destacou o maior risco de lesões e o aumento das chances dos competidores irem ao hospital.
“Como ex-atleta de alto rendimento, sei que atingimos limites muito distantes, chegamos perto do overtraining, o que nos deixa exaustos, com imunidade baixa e mais propensos à Covid-19. Imagina ainda sofrer um acidente e precisar ir a um hospital. Ter uma torção, precisar de uma cirurgia… Eles ficam mais expostos à doença. É preciso cuidado redobrado e muita atenção. Avaliar melhor essa decisão”, disse César.
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No começo deste mês, um decreto editado pelo prefeito de Porto Alegre, Nelson Marchezan Júnior, autorizou a reabertura dos clubes sociais “para o condicionamento físico dos respectivos atletas profissionais contratados, observado distanciamento mínimo de 2 metros entre os mesmos, sendo vedado, em qualquer caso, contato físico ou aglomerações”. A determinação foi, posteriormente, reforçada por outro decreto publicado pelo governador do estado, Eduardo Leite. O texto orienta que quaisquer atividades que ocorram nas entidades devem ser realizadas apenas com 25% do pessoal, em regime de revezamento.
Na capital gaúcha, atletas da seleção brasileira de Judô, que fazem parte da equipe Sogipa, a exemplo dos medalhistas olímpicos Mayra Aguiar, Ketlelyn Quadros e Felipe Kitadai, além de nomes como Maria Portela e Daniel Cargnin, voltaram aos treinamentos. A decisão aconteceu antes mesmo de a própria Confederação Brasileira de Judô (CBJ) definir protocolos sanitários: “Eu acredito que seria melhor esperar pelas definições protocolares e por uma visão mais clara de todo o problema que estamos vivendo. Ainda existem questões que precisam ser discutidas para segurança dos atletas”, ponderou o ex-atleta de Saltos Ornamentais
Em meio a isso tudo, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) ainda não construiu ou divulgou nenhuma estratégia de ações para a retomada dos treinamentos. Somado a isso, os atletas que estão retornando, no sul do país, não foram testados a respeito de uma possível infecção do coronavírus, entre outros cuidados.
“Muita coisa poderia estar sendo feita, antes do retorno aos treinos técnicos que vão expor os atletas. E não só protocolarmente. Os esportistas podem dar mais atenção à parte física e cuidar mais da alimentação, deixando de lado a parte técnica, nesse momento, sem grandes prejuízos para a preparação. Eu trabalharia nessa linha. O momento é de calma, ser um pouco mais conservador. E quando tudo se acalmar, quando tivermos protocolos nos clubes, no COI, nas Federações e Confederações, aí damos esse passo à frente. Voltar aos treinos agora pode significar em mais malefícios do que benefícios”, concluiu.