Assédio nos tatames: Mazzelli cobra maior participação de ‘pessoas importantes’ e vê luta das mulheres como ‘ato de coragem’

Assédio nos tatames: Mazzelli cobra maior participação de ‘pessoas importantes’ e vê luta das mulheres como ‘ato de coragem’

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*O universo das academias de artes marciais foi construído a partir da centralização da figura masculina, mas as mulheres estão ganhando cada vez mais espaço e construindo uma história de suor e conquistas com decorrer do tempo. Um fato recorrente e que tem ganhado mais visibilidade é sobre o assédio nos tatames. A pergunta que fica é: como evitar?

Tricampeã mundial de Jiu-Jitsu e dona de um currículo vitorioso, Fernanda Mazzelli, que também ocupa o cargo de vereadora em Guarapari, no Espírito Santo, conversou com a TATAME sobre a importância da “força” que as mulheres estão ganhando. A atleta ainda afirmou que “pessoas importantes” dentro da arte suave também precisam levantar a bandeira contra o assédio.

“Eu vejo que as mulheres estão ganhando cada vez mais força em relação às atitudes, a questão do respeito, os direitos das mulheres e vai rompendo essa barreira do silêncio, mas temos muito ainda pra quebrar. Vimos recentemente um caso no Jiu-Jitsu (de assédio). Eu vi poucas pessoas comentando sobre isso, a não ser as pessoas que tomaram algum lado. Não quero dizer que a, b ou c estão certos ou errados, eu vejo que pessoas importantes poderiam estar levantando mais a bandeira e não levantam. Isso me entristece. É um movimento de coragem”, analisou a faixa-preta, que é multicampeã no Jiu-Jitsu.

Mazelli contou que já presenciou cenas constrangedoras e que alguns professores aproveitam da “autoridade” para ir além dos ensinamentos das artes marciais: “Eu já presenciei alguns fatos que nos deixa constrangida. O Jiu-Jitsu é um esporte que trabalhamos muito com o corpo. Fazemos muitas posições que ficamos próximo do outro e quando estamos nos tatames, não pensamos em outros aspectos. Eu vejo que muitas pessoas têm maldade. É preciso ter respeito dentro do tatame. Aqui na academia nunca teve esses casos de assédios, mas soube de casos aqui no Espírito Santo. Sei de casos de professores que se envolvem com alunas, eu conheci o meu esposo no tatame, mas uma coisa é você conhecer e, a partir dali, você criar um relacionamento. O problema é quando causa uma situação constrangedora. Tem gente que se aproveita e usa a autoridade, no caso dos professores, para ir além do ensino e do esporte”, concluiu.

Confira algumas opiniões dos seguidores da TATAME:

Uma pena isso. Ver professores assediando alunas é inadmissível. Espero que possamos trazer essa consciência para que os casos diminuam e que ninguém ache essa situação normal! (Kyra Gracie, ex-lutadora e considerada uma das melhores de todos os tempos no Jiu-Jitsu)

Ótimo tema a ser abordado! Acho importante primeiro admitir que o machismo existe nas academias pois muitos falam que isso não existe, mas soltam piadas disfarçadas de machismo puro. Falar sobre o assunto e sempre se questionar se certos pensamentos e atitudes seriam praticados se o aluno/atleta/praticante fosse homem. O esporte, principalmente as lutas, deve ter como base o respeito independente de sexo, crença ou cor. (Alice Reis)

Os homens têm que entender que nós mulheres não somos objetos! Que merecemos respeito dentro e fora dos tatames, que estamos lá para treinar, apenas isso! E isso se chama educação, o assédio é o dia inteiro de nossas vidas, seja passando em frente a uma obra, na escola, no trabalho ou até mesmo em casa. Devemos educar os nossos filhos a respeitar as mulheres. Infelizmente, vivemos em um mundo extremamente machista e que já esta mais do que na hora disso mudar! Nós mulheres não podemos nos calar, temos que expor esse “homens” se é que podemos chamar assim. Vamos expor esses babacas, melhor sai taxada de louca do continuar sendo assediada. (Carina Santi, lutadora de Jiu-Jitsu).

Primeiro passo para combater é enxergar e admitir que o assédio e o machismo existem SIM dentro dos tatames! Chega desse discurso de “no tatame somos todos iguais, isso não existe”. Não, não somos todos iguais, nós somos diferentes e a chave é aprender a RESPEITAR essas diferenças. Acho fundamental a presença de uma professora/instrutora mulher dentro da academia, mulheres precisam assumir esses cargos dentro do Jiu-Jitsu, assim as outras se sentem mais confortáveis e acolhidas. (Maria Carolina).