Artigo: nas artes marciais, como aumentar a longevidade competitiva dos atletas? Leia e opine

Novo artigo publicado na TATAME fala sobre a questão da longevidade entre os atletas de artes marciais; confira na íntegra

Artigo: nas artes marciais, como aumentar a longevidade competitiva dos atletas? Leia e opine

Exemplo nas artes marciais, Glover Teixeira se tornou campeão do UFC depois dos 40 anos (Foto: Divulgação/UFC)

No passado, as artes marciais eram predominantemente vistas como técnicas militares ou de autodefesa (TULENDIYEVA et al., 2021). No entanto, ao longo do tempo, elas evoluíram para serem praticadas em confrontos entre dois oponentes, seguindo certas regras de contato específicas de cada modalidade, e agora são reconhecidas como esportes de combate (HAMMAMI et al., 2018).

Estes esportes são praticados em todo o mundo, tanto em níveis competitivos quanto recreativos, e envolvem um contato físico intenso entre os participantes (O’FARRELL et al., 2022). Eles se dividem em estilos de golpear/chutar (como Taekwondo, Boxe, Kickboxing, Karatê, Kung-Fu), estilos de agarrar/lançar (como Luta Olímpica, Judô, Jiu-Jitsu, Aikido) e estilos híbridos, por exemplo, MMA (HAMMAMI et al., 2018). Estas disciplinas são valorizadas não apenas por sua competência esportiva, mas também pelos benefícios físicos e mentais que proporcionam aos praticantes (LAKES; HOYT, 2004).

Os esportes de combate continuam sendo objeto de intensos debates sobre sua relação com a saúde e segurança, bem como seu potencial intrínseco de violência devido às forças físicas envolvidas. Com o aumento do número de participantes em várias faixas etárias desde a década de 1980, prevê-se um aumento nas lesões agudas e por uso excessivo relacionadas às artes marciais durante treinamento e competições.

Este é um dos motivos que levam muitos atletas a encerrarem suas carreiras esportivas. As carreiras dos atletas de esportes de combate são limitadas, com uma média de 10,67 anos para a Luta Livre, 13,35 anos para o Boxe e 9,25 anos para o Judô (MARQUET et al., 2013). Muitas aposentadorias nestes esportes são atribuídas à incidência de lesões (DAVIS-HAYES et al., 2018; LOCKWOOD et al., 2018).

Além das lesões, outros fatores que influenciam na longevidade das carreiras dos atletas de artes marciais incluem o desgaste físico (NOH et al., 2015), mental (ANDREATO et al., 2022), a falta de apoio financeiro (BEHR; KUHN, 2019), a falta de oportunidades, os interesses mutáveis, as pressões externas e os problemas pessoais (LYSTAD, 2015).

Estes são apenas alguns dos fatores que podem influenciar na decisão de um atleta de abandonar sua carreira esportiva, e a combinação desses fatores pode variar consideravelmente de um atleta para outro. Portanto, o objetivo desta coluna é promover uma discussão informada sobre como melhorar a sustentabilidade e a segurança dos praticantes de esportes de combate, abordando tópicos importantes para aumentar a longevidade competitiva.

Condicionamento físico

O nível de aptidão física está diretamente atrelado a menor incidência de lesão (PIERCY et al., 2018). Uma boa performance técnico e tática ao longo da luta também tem relação com o condicionamento físico (RYDZIK; AMBROŻY, 2021). A aptidão aeróbia está relacionada a movimentos em baixas intensidades (movimentações durante a luta) e a recuperação no intervalo entre os rounds (LA BOUNTY et al., 2011).

O sistema ATP-CP está atrelado a ataques explosivos e rápidas combinações (LA BOUNTY et al., 2011). O sistema glicolítico é predominante em ações de tentativa de controle e mudança de posição (no Jiu-Jitsu) e combinações de golpes explosivos com maior duração (LA BOUNTY et al., 2011).

O método de treinamento mais recomendado para lutadores pela literatura cientifica é o treinamento intervalado de alta intensidade (HIIT) (RUDDOCK et al., 2021; FRANCHINI, 2021; FRANCHINI, 2020). Pois melhora o condicionamento aeróbio e anaeróbio de forma comitantemente e como os esportes de combate são intervalados de alta intensidade por natureza esse método de treinamento se aproxima da especificidade da luta (VASCONCELOS et al., 2020).

O HIIT é caracterizado por movimentos em alta intensidade, intercalados por períodos de descanso em baixa intensidade (GIBALA et al., 2012). Ele pode ser praticado com movimento genéricos (air bike, air ski, corda naval, corrida, bicicleta ergométrica, entre outros) e movimentos específicos (uchi-komi, chute semicircular, entre outros).

A recomendação é utilizar de movimentos genéricos no inicio da preparação física e ir implementando gestos específicos conforme se aproxima da competição (OUERGUI et al., 2023). Ter uma técnica adequada também é necessária para a carreira do atleta, assim, prevenindo lesões e diminuindo o gasto energético com maior eficiência possível.

Treinamento de Força em Lutadores

O treinamento de força desempenha um papel fundamental na melhoria da explosão e força dos golpes dos atletas de artes marciais (DA SILVA SANTOS; FRANCHINI, 2021; MAGNANI BRANCO; FRANCHINI, 2021), sendo um componente indispensável na preparação física desses lutadores.

Além disso, é crucial para a redução do risco de lesões esportivas (LAUERSEN; ANDERSEN; ANDERSEN, 2018), uma vez que o fortalecimento muscular está intrinsecamente ligado à estabilização articular (KNOOP et al., 2013), especialmente no manguito rotador e joelho.

É essencial considerar o tipo de treinamento de força para evitar um aumento excessivo de peso nos lutadores, tornando o treinamento de força pura mais recomendado (MAGNANI BRANCO; FRANCHINI, 2021). No contexto do treinamento de força, exercícios genéricos como supino, agachamento e puxada alta são importantes.

Por outro lado, no treinamento de potência, é necessário incluir exercícios que mimetizem os movimentos específicos da modalidade (DA SILVA SANTOS; FRANCHINI, 2021), como arremessos de medicine ball, socos com resistência de elástico ou polia, entre outros.

Monitoramento do Treinamento

A preparação de um lutador de artes marciais é um processo complexo influenciado por diversos fatores. O controle meticuloso dos componentes da carga de treinamento, como volume, intensidade, frequência, densidade e duração, não apenas é fundamental, mas também pode prevenir contratempos e fornecer insights valiosos sobre as demandas específicas enfrentadas pelos atletas ao longo do plano de treinamento (SZMUCHROWSKI E FERREIRA 2008).

Nesse sentido, a implementação de sistemas de monitoramento é crucial, permitindo não apenas uma intervenção adequada, mas também a prevenção de possíveis falhas no processo esportivo. Além disso, essa abordagem pode contribuir significativamente para a longevidade dos atletas em modalidades já estabelecidas (LAKES & HOYT, 2004).

Portanto, sugere-se a expansão desse sistema para as modalidades de combate, visando obter informações cruciais sobre as adaptações que os lutadores podem enfrentar ao longo de suas carreiras. Essa medida não apenas proporcionaria uma compreensão mais profunda dos desafios específicos enfrentados por esses atletas, mas também permitiria otimizar seus treinamentos e maximizar seu desempenho competitivo.

Esquema de um sistema de circuito aberto em modalidades desportivas mais exploradas

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Sono e descanso dos atletas

O sono é um processo psicofisiológico essencial para a manutenção ideal do desempenho, da saúde e do bem-estar de um atleta de artes marciais (DRILLER et al., 2023). O sono rejuvenesce os nossos sistemas imunológico, nervoso, ósseo e muscular (RICHARDS, 2017). Noites adequadas de sono são importante para retardar o processo de envelhecimento (FETT, 2000).

Já no contexto esportivo, o descanso adequado é importante para diminuir a chance de overtraining (FAIGENBAUM, 2009) e para que ocorra a supercompesação (melhora do desempenho) (BARBANTI, 1997). Sendo assim, para que o atleta de artes marciais tenha longevidade competitiva é importante um sono e descanso adequado.

Outros aspectos importantes

Ser assessorado por uma equipe multidisciplinar qualificada e especializada (médico esportivo, técnico, preparado físico, nutricionista esportivo e psicólogo esportivo) se torna um ponto importante na carreira de um atleta profissional. Um outro aspecto que pode aumentar a longevidade competitiva de um atleta e não é controlada pelo atleta é a questão do bom pagamento das empresas ou órgãos estatais relacionados ao esporte.

Conclusão

Os esportes de combate demandam um conjunto único de habilidades e estratégias para aumentar a longevidade competitiva. As técnicas adequadas de treinamento e condicionamento, a prevenção e o manejo de lesões, assim como o planejamento estratégico e a adaptação aos estilos dos oponentes, são elementos cruciais para auxiliar os atletas de artes marciais a permanecerem no topo de suas carreiras esportivas.

Ao implementar essas estratégias, os atletas não só podem prolongar suas carreiras, mas também melhorar seu desempenho geral e alcançar seus objetivos no esporte. É fundamental que atletas, treinadores e organizações esportivas priorizem essas estratégias para garantir o sucesso e a longevidade dos atletas de esportes de combate.

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Jonatas Deivyson Reis da Silva Duarte

Profissional de Educação Física – Bacharelado

Mestre em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina

Ambas pela Universidade Federal de Mato Grosso

Especialista em Docência no Ensino Superior pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Possui experiência em pesquisas com psicologia do esporte, pedagogia do esporte e nutrição com o kickboxing, além de experiência como atleta amador da modalidade.

Researchgate: ttps://www.researchgate.net/profile/Jonatas-Duarte-2

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1715413441907784

E-mail: [email protected]

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Johan Robalino Salinas

Graduação em Cultura Física – Universidad Técnica de Ambato, Equador

Mestre em Educação Física – Universidade Federal de Mato Grosso, Brasil

Doutorando em Ciências do Desporto – Universidade do Porto, Portugal

Faixa preta 2 dan de karatê

Possui experiência em pesquisas de monitoramento de carga, potencialização pós-ativação e nutrição esportiva com os esportes de combate

Researchgate: https://www.researchgate.net/profile/Johan-Robalino

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/6810993939913378

E-mail: [email protected]

Referências bibliográficas

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DA SILVA SANTOS, Jonatas Ferreira; FRANCHINI, Emerson. Developing muscle power for combat sports athletes. Revista de Artes Marciales Asiáticas, v. 16, n. 1s. p.133-173, 2021.

DAVIS-HAYES, Cecilia et al. Medical retirement from sport after concussions: a practical guide for a difficult discussion. Neurology: Clinical Practice, v. 8, n. 1, p. 40-47, 2018.

DRILLER, Matthew W. et al. Pyjamas, polysomnography and professional athletes: The role of sleep tracking Technology in Sport. Sports, v. 11, n. 1, p. 1-17, 2023.

FAIGENBAUM, Avery D. Overtraining in young athletes: how much is too much?. ACSM’s Health & Fitness Journal, v. 13, n. 4, p. 8-13, 2009.

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GIBALA, Martin J. et al. Physiological adaptations to low‐volume, high‐intensity interval training in health and disease. The Journal of physiology, v. 590, n. 5, p. 1077-1084, 2012.

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MARQUET, Laurie-anne et al. No effect of weight cycling on the post-career BMI of weight class elite athletes. BMC Public Health, v. 13, p. 1-8, 2013.

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OUERGUI, Ibrahim et al. Repeated High-Intensity Technique Training and Repeated Sprint Training Elicit Similar Adjustment in Physiological Responses But Divergent Perceptual Responses and Combat-Related Performances in Adolescent Taekwondo Matches. International Journal of Sports Physiology and Performance, v. 18, n. 8, p. 825-832, 2023.

PIERCY, Katrina L. et al. The physical activity guidelines for Americans. Jama, v. 320, n. 19, p. 2020-2028, 2018.

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ZAZRYN, Tsharni R.; MCCRORY, Paul R.; CAMERON, Peter A. Neurologic injuries in boxing and other combat sports. Neurologic clinics, v. 26, n. 1, p. 257-270, 2008.

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print artigo 3 Carlos Alves: PhD em Ciências do Movimento Humano e Treinamento Desportivo, Pesquisador, Fisiologista e Preparador Físico de Atletas UFC; Bellator; IBJJF / Brown Belt BJJ; Black Belt Muay Thai. e-mail[email protected] / Instagram: https://www.instagram.com/carlosalvesTreinador

 

 

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Everton Bittar Oliveira: Bacharel em Ed. Física. Esp. em Treinamento Desportivo e Preparador Físico da American Top Team; Black Belt BJJ / E-mail: [email protected] / Instagram: https://www.instagram.com/evertonvvoliveira/

 

 

print artigo 5 João Paulo de Souza: Bacharel de Ed. Física. Esp. em Mixed Martial Arts, Ex-Atleta de MMA; Treinador de lutadores do UFC; Bellator; Black Belt BJJ; Muay Thai./ email: [email protected] / https://www.instagram.com/jptuba

 

 

print artigo 6 Fábio Vieira: PhD em Ciências do Movimento Humano e Professor Associado da Logos University International – UNILOGOS / E-mail: [email protected] / Instagram: https://www.instagram.com/fabiovieiraphd

 

 

 

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Sergio Oliveira: MsC em Educação Física, Professor de Wrestling; Autor dos best sellers “O Ensino das manifestações das lutas”; e “Luta Olimpica”.

E-mail: [email protected] / Instagram: https://www.instagram.com/sergiobolacha

 

 

print artigo 8 Marco Aurelio: MsC. em Treinamento Desportivo Russia e Preparador Fisico de lutadores/ e-mail: [email protected] / Instagram: https://www.instagram.com/Prof_marco_aurelio_

 

 

 

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