Coluna Treinamento Desportivo: Lesões no MMA – veja estratégias para redução de traumas na preparação

Artigo publicado na TATAME passa um panorama geral sobre as lesões no MMA, com números e informações importantes; confira

Coluna Treinamento Desportivo: Lesões no MMA – veja estratégias para redução de traumas na preparação

Artigo publicado na TATAME fala detalhadamente sobre as lesões no MMA (Foto: Reprodução/UFC)

Por: MsC. Carlos Alves;

  • Desempenho Esportivo UFPR;print artigo 1
  • Especialista em Treinamento de Força UFPR;
  • Especialista em Fisiologista do Exercício UFPR
  • Especialista em Preparação Física nos Esportes UFPR
  • Cientista do Esporte, Preparador Físico e Fisiologista de Atletas (UFC/Bellator) e FIFA/CBF.

Sciences Center of Health and Sport, Laboratory of Sport and Exercise Psychology, Physical Education Department, State University of Santa, Catarina 88080-350, FLN, Brazil

https://www.instagram.com/treinador_carlosalves/

O Mixed Martial Arts (MMA) é um dos esportes de combate mais praticados no mundo, e seu crescimento é exponencial tanto em praticantes quanto em divulgação midiática (TV, internet, rádio e mídias sociais). Devido a miscigenação esportiva, o MMA se desenvolveu com um alto grau de liberdade nos ataques ofensivos e defensivos, resultando na inclusão de técnicas e táticas de vários estilos de esportes de combate, tanto entre homens quanto mulheres.

Através de regras claras e objetivas, sua legitimidade garante a inclusão e a organização por categorias de classe (massa corporal). Os combates visam a finalização, nocaute (tornando um oponente inconsciente), nocaute técnico (tornando um oponente incapaz de continuar lutando), podendo gerar paralisação do médico do ringue ou decisão dos juízes.

Diante do seu crescimento devido à sua complexidade dentro dos esportes de combate, inúmeras pesquisas foram desenvolvidas nos últimos 20 anos. Desta forma, o objetivo deste artigo é trazer, de forma organizada, as principais áreas de estudo dentro do MMA através de uma revisão sistemática exploratória contendo mais de 20 mil atletas de diferentes níveis (Amadores ao UFC). É importante destacar que as revisões sistemáticas estão no mais alto nível de evidências dentro das ciências do esporte.

Portanto, o presente autor irá discutir e trazer ponto a ponto baseados nas temáticas a seguir:

  • Lesões no MMA – Parte 1
  • Perda de Peso (Corte e Reganho de Peso) – Parte 2
  • Análise técnica e tática (tempo-movimento) Parte 3
  • Aptidão Física e Desempenho – Parte 4
  • Respostas Fisiológicas e Característica de Treinamento Parte 5
  • Parâmetros Psicobiológicos – Parte 6
  • Estudos de intervenção – Parte 7

Este artigo de revisão foi construído a partir da opinião de 112 estudos com mais de 20.000 participantes, com idade média de 28 anos para ambos os sexos. Os atletas de MMA eram amadores (17,2%), profissionais (73,8%) e indefinidos (9%).

PARTE I – Lesões no MMA

Lesões

Os combates de Mixed Martial Arts (MMA) se desenvolvem através de técnicas que tem como objetivos encerrar o combate no menor tempo possível, seja por desistência voluntária ou interrupção dos árbitros. Ao longo dos combates, inúmeros golpes são desferidos e, normalmente, alguns deles acabam por provocar contusões, entorses e até fraturas. Como consequências, uma grande quantidade de estudos sobre lesões passou a ser publicadas nos últimos anos.

Para compreender sobre lesões no MMA, primeiro, é preciso entender as diferentes formas metodológicas de relatar as lesões. As mais comuns são:

*Exposição do atleta (AE) [13,29,30]

*Exposição do tempo [29]

*Exposição do tempo de combate [30]

*Participação na luta [30-33]

*Rodadas do competidor [31,33].

A prevalência geral de lesões em lutadores de MMA é relatada em 8,5% das participações em lutas ou 5,6% por rounds disputados, valores inferiores aos relatados em esportes olímpicos de combate durante o treinamento (58%) em comparação com a competição (42%). Ainda no MMA, 4,1 lesões (IC 95% = 3,48 a 4,70) por 100 min de exposição, 64,9 lesões por 1000 minutos de combate, 23,6 a 28,6 lesões por participação em luta, 12,5 lesões por 100 rounds de competidores e 23,6 (IC 95% 20,5 a 27,0) ) a 51 lesões por 100 EA.

Questões relacionadas a quem teria mais chances de lesão (atletas mais pesados ou mais leves), os estudos apontam que as categorias de peso pesado apresentam as maiores chances de lesão (75 lesões por 100 EA), enquanto as categorias de peso leve (39 lesões por 100 EA).

Entre as chances de lesão entre sexos, os dados atuais ainda não são conclusivos. Sabe-se apenas que homens apresentam maiores níveis de incidência média (3,9 lesões) do que as mulheres (2,3 lesões), e 54 lesões por 100 exposições de atletas em homens e 30 lesões por 100 exposição de atletas em mulheres, enquanto outros sugeriram que existem taxas de lesões semelhantes entre homens e mulheres.

Outro aspecto relacionado às lesões são o nível de experiência, no entanto, também é inconclusiva. Os dados mencionam que atletas profissionais obtenham mais lesões do que os amadores, resultando em taxas de lesões três vezes maiores. O principal momento em que ocorrem as lesões no MMA são durante os eventos competitivos.

Sobre os resultados, os achados desta revisão apontam que os atletas perdedores apresentavam 2,5 vezes mais chances de se machucar do que um lutador vencedor (OR = 2,53, IC 95% 1,88 a 3,42, p < 0,01).

Os locais de lesão mais comuns:

artigo foto mma

Sobre as taxas de nocautes durante as lutas, são relatados valores entre 6,4 por 100 atletas-exposições, por nocaute técnico foi de 9,5 por 100 atletas-exposições, e a incidência combinada de traumatismo craniano no final da luta de 15,9 por 100 atletas-exposições, o que representa uma taxa mais alta quando comparado a outros esportes de combate.

Atualmente, já é consenso na literatura cientifica de que impactos na cabeça podem resultar em concussão e sintomas semelhantes. Independente da forma como o atleta termina a luta, seja nocaute/tKO, com maior risco de traumatismo craniano em lutadores mais pesados. As lesões no crânio geram um grande alerta no MMA devido aos efeitos negativos, tais como dores de cabeça, perda de equilíbrio, deficiências visuais, distúrbios emocionais e déficits neurocognitivos. Dados da literatura reportam que entre as lutas ocorridas dentro do UFC, é observado uma taxa de traumatismo craniano de 35 lesões por 100AE.

Entre as lesões que culminam com maior incidência de paralisação médica no MMA (90% dos casos) estão as lesões que ocorrem próximas à cabeça, como laceração facial, e concussões. Não obstante, lesões como abrasão, contusão, fraturas, distensões e entorses também são verificadas no MMA. Por fim, as lesões oftálmicas oriundas por lacerações de estruturas ao redor do olho, comumente estão associadas a vitórias, por normalmente acabarem por gerar interrupção médica.

ESTRATÉGIAS DE MANEJO PARA REDUÇÃO DE TRAUMAS DURANTE PREPARAÇÃO.

Embora seja extremamente cultural forjar um lutador, tornando os treinos o mais próximo do combate, dia após dia, a ciência vem à tona e questionando até que ponto (custo x beneficio) você provocar lesões de repetição durante os treinos pode/ria gerar melhoras adicionais durante o processo de treinamento pré-competição. Em outras modalidades, como o Boxe, é sugerido que luvas maiores sejam utilizadas com o intuito de minimizar os efeitos do contato repetitivo, consequentemente, levando o atleta a lesões transcranianas, ou até mesmo lesões oculares.

Opinião do Especialista: Sugerimos a utilização de luvas de Boxe (16 Oz ou maior) com maior frequência ao longo dos treinos de sparing, para que seja reduzida a intensidade do impacto na cabeça, e consequentemente, minimizando lesões na zona facial ou ocular. Sabemos da importância dos treinos específicos com as luvas (4oz) de MMA. Portanto, quando necessário, em intensidades maiores, sugere-se o uso de luvas de Boxe profissional oscilando entre (8oz a 10oz).

ESTRATÉGIAS DE MANEJO APÓS TRAUMA NA CABEÇA APÓS LUTA

Normalmente, atletas de MMA costumam praticar descansos passivos de apenas dois até sete dias após lesão na cabeça antes do retorno a prática competitiva. De forma oposta, a literatura atual recomenda que os atletas aguardem por tempo necessário e suficiente para que ele se torne assintomático, evitando um retorno precoce e, consequentemente, tornando pior os efeitos colaterais oriundos deste trauma, podendo aumentar a possibilidade de desenvolver doenças neuronais, tais como doença de Alzheimer e encefalopatia traumática crônica. Dados atuais demonstram que o retorno antecipado, quando praticados por atletas mais velhos (>35 anos), apontam perda de performance após retorno antecipado e sem recuperação adequada.

Opinião do Especialista: Sabemos que muitos atletas precisam lutar com uma certa frequência para construção ou manutenção do card e, consequentemente, visando almejar grandes organizações e bolsas ($$$). Entretanto, visando garantir a saúde vital, recomenda-se que os atletas aguardem no mínimo 30 dias após “knockdown” ocorrido durante luta ou treinamento para salvaguardar as estruturas do cérebro, e garantindo assim um maior tempo de carreira.

Nas próximos edições, vamos trazer os outros tópicos, sempre com a opinião do especialista. Caso você queira ler este artigo na integra, basta clicar no link a seguir.

Baixe Grátis: Revisão sistemática exploratória de artes marciais mistas: https://bit.ly/3Q5HGmT

coluna treinamento desportivo

Para participar do projeto, basta entrar em contato através do e-mail abaixo e, seguindo as diretrizes especificadas, enviar o seu artigo. Não perca essa oportunidade!

CONTATO > [email protected]
DIRETRIZES DO PROJETO > clique aqui

artigo foto 1Everton Bittar Oliveira: Especialista em Treinamento Desportivo e Preparador Físico da American Top Team / E-mail: [email protected]/ Instagram: https://www.instagram.com/evertonvvoliveira/

 

 

artigo foto 2Carlos Alves: Mestre em Treinamento Desportivo e Preparador de Atletas / E-mail: [email protected]/ Instagram: https://www.instagram.com/coach_carlosalves/

 

 

artigo foto 3Fábio Vieira: PhD em Ciências do Movimento Humano e Professor da Unilogos /

E-mail: [email protected]/

Instagram: https://www.instagram.com/fabiosfvieira/

 

 

artigo foto 4Pavel Pashkin: Mestre em Treinamento Desportivo e Treinador Profissional de Sambo – Rússia / E-mail: [email protected]/

Instagram: https://www.instagram.com/pashkinpavel

 

 

artigo foto 5Marco Aurélio Cota Júnior: Mestre em Treinamento Desportivo – Rússia e Preparador Físico / E-mail: [email protected] /                                                            Instagram: https://www.instagram.com/prof_marco_aurelio_

 

Para conferir mais notícias sobre MMA, clique aqui