Werdum fala sobre suspensão da USADA e contrato com UFC: ‘Quero rescindir para seguir meu caminho’
Por Diogo Santarém
Ex-campeão peso-pesado, Fabrício Werdum não poderá pisar no octógono do UFC pelos próximos dois anos. Entretanto, existe a forte possibilidade de Werdum nunca mais lutar pelo Ultimate, e quem garante isso é o próprio lutador, em entrevista exclusiva à TATAME.
Em setembro de 2018, Werdum recebeu uma notificação da USADA pelo uso do esteroide trembolona, e acabou sendo suspenso por dois anos pela organização, podendo voltar aos 43 anos, no fim de 2020. O “Vai Cavalo” contou como foram os primeiros dias após a suspensão e como anda sua rotina, agora que não pode fazer aquilo que mais ama: lutar.
“Eu continuo treinando, mantendo o treinamento para não parar, porque a gente para de treinar e dá uma desmotivada grande. No começo da suspensão foi bem difícil, mas já normalizou. Eu continuo com meus negócios, com as coisas que eu tenho fora da luta, investimentos, propriedades para alugar e essas coisas que a gente faz fora da luta. Estou bastante com a família também. Praticamente continua tudo igual, só não posso lutar”.
O caso do doping está sacramentado e não cabe recurso ao gaúcho. Entretanto, Werdum questionou a legitimidade do exame, já que argumenta que houve uma contaminação em seu sangue, e que em um exame realizado duas semanas após ter sido pego, seu corpo já não acusou mais a presença da substância ilegal. Porém, segundo o ex-campeão, tudo isso foi ignorado pela USADA, que o suspendeu da mesma forma com a punição máxima.
“Eles me deram dois anos e acabou. Não tem mais volta disso. Eu nem tentei apelar ou fazer algo contra, porque quando tu vai contra o sistema, vai só piorando a situação. E eu uso a palavra sistema para não falar outra coisa. É o sistema do mundo. Não só da luta, mas acho que em tudo. Acho que tudo tem um sistema que tem que seguir. O sistema quis que eu fosse suspenso e acabou. Eu estou com a consciência limpa de não ter tomado nada, nunca tive uma notificação em 21 anos de carreira por doping. O que eu não entendo é receber uma pena máxima por uma coisa tão mínima, porque eles sabiam que era uma contaminação, só que eles não quiseram nem saber. Eu fazia uma brincadeira com eles quando a USADA ia me testar, eu postava no meu Instagram que a USADA estava na minha casa para me testar e todo mundo vaiava, enquanto a gente ria da situação. Era engraçado. Minha mulher me falou um dia que isso iria influenciar caso acontecesse algum problema, e agora eu acredito que isso influenciou muito, sim. Eles sabiam que era uma contaminação, eles estavam cientes disso. Eles me testaram duas semanas depois do teste positivo, que tinha dado uma quantidade bem mínima de trembolona, e duas semanas depois do teste positivo, o novo havia dado negativo. Se eu estou tomando alguma coisa ou fazendo algum ciclo, tinha que ficar no meu sistema. Mas eles não quiseram nem saber. Eles queriam me suspender e acabou. Por isso que eu digo: é o sistema”, afirmou ele.
Werdum contou que, apesar do ocorrido, sua relação com o UFC continua boa, da mesma forma como sempre foi. Entretanto, o atleta de 41 anos declarou que decidiu pedir sua rescisão contratual da empresa para seguir outro caminho, onde possa estar em ação.
“A relação com o UFC está boa, sim. Eu tenho uma história muito legal no UFC, de muitos anos, e eu continuo trabalhando como comentarista para América Latina. Eu faço isso já há quatro anos, e o UFC me manteve ali porque, na verdade eu faço bem, a galera gosta quando eu estou comentando as lutas e o UFC sabe disso. Então a relação está normal, não tem nada de diferente. Eu sempre tive uma relação boa, sempre fiz muita coisa pelo UFC, sempre promovi muito o UFC e eles sempre tiveram alguns cuidados comigo. A galera confunde que a USADA e o UFC é a mesma coisa, mas não é. A USADA é contratada pelo UFC, é uma organização particular. Se o UFC disser que não, é só acabar o contrato e eles estão fora. A relação está boa, mas quero rescindir o contrato para seguir meu caminho”.
Devido à suspensão, que o gaúcho classifica como “injusta”, Fabrício chegou a conclusão de que o “sistema” tentou lhe obrigar a encerrar sua longa carreira, algo que o lutador não quer, prezando pela opção de pendurar as luvas quando achar que for necessário. Com duas lutas em seu contrato, seu empresário Ali Abdel-Aziz já afirmou que o brasileiro não voltará a competir no Ultimate, onde está desde 2012, em sua segunda passagem.
“Sobre isso que o Ali falou, é bem difícil. Eu tenho essas duas lutas no contrato ainda, e ele fala isso porque acha que dois anos é muito tempo até eu voltar. Eu tenho medo do UFC rescindir meu contrato apenas quando estiver perto do fim da suspensão, mas não é o que eu quero. Eu quero rescindir o meu contrato agora para poder ter tempo de lutar ainda, porque é o que eu mais gosto de fazer. Eu quero parar de lutar quando eu quiser parar de lutar, e não quando alguém quiser que eu pare, como o sistema fez. Eu quero parar na hora que eu achar que eu tenho”, disse o peso-pesado, com mais de 30 lutas na carreira.
E sim, o atleta está decidido em sair para seguir os rumos de sua carreira em outro lugar. Inclusive, o “Vai Cavalo” afirmou que já recebeu propostas oficiais para dar continuidade nas lutas na Rússia e no Japão, mas que buscando evitar uma briga judicial, quer se resolver com o UFC primeiro, antes de tomar qualquer decisão em relação a outro evento.
Muitos integrantes do plantel do UFC reclamam que a organização acaba não valorizando, financeiramente falando, todos os atletas de uma maneira correta. Entretanto, Werdum não pensa da mesma maneira. Segundo o lutador, tudo se resume ao “business”, e o lutador que gera maior lucro à organização, consequentemente, gera maior renda.
“Eu acho que o UFC respeita alguns lutadores. Claro que sim, respeitam bastante. Depende de cada um, pois cada caso é um caso. Na parte financeira, eu acho que é business. Tudo é business. Se o cara está dando um bom retorno para a empresa, que é o UFC, com certeza ele vai ter uma maior moral. A gente consegue ver essa diferença de um atleta para o outro porque realmente o que rende será mais valorizado. É o business, não tem como negar isso. Eu sempre fui bem tratado pelo UFC, sempre me botaram lá em cima quando eu era o campeão e oferecia algo para a empresa, mas a fila anda. Quando você está ali em cima é uma coisa, e quando você está mais para baixo, a coisa muda. Eu acredito que não seja nada pessoal, apenas business. Se está rendendo, vamos valorizar pra continuar”.
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Questionado sobre como projeta seu futuro, Werdum foi enfático ao afirmar que projeta seus próximos anos longe do UFC. Sem nenhuma lesão grave ao longo de sua carreira, o brasileiro voltou a ressaltar que pretende, sim, continuar em atividades no MMA.
“Projeto o meu futuro longe do UFC. Não é o que eu queria, mas a situação é que está dizendo isso, para eu poder fazer o meu. Eu já lutei nos melhores eventos do mundo e quero continuar lutando durante três anos ou, de repente, até quatro. Eu não sei, porque o meu corpo está bom ainda. Eu não tenho uma lesão grave e não tomei tanta pancada na cabeça. Eu estou bem fisicamente e mentalmente, então dá pra voltar a lutar no Japão e ir para outros lugares, como na Rússia, que é um mercado muito bom. Então é isso que eu quero, continuar lutando até eu achar que eu tenho que parar. Eu tomar essa decisão”.
Por fim, Werdum comentou sobre o novo campeão da divisão dos pesos pesados, Daniel Cormier. Segundo o atleta, que já treinou com o wrestler americano, ele ficou bastante surpreso com o nocaute de “DC” contra seu algoz, Stipe Miocic, mas ressaltou o perigo de uma nova chegada na divisão: Jon Jones, rival de Cormier e campeão dos meio-pesados.
“Eu achei legal o Cormier ter conquistado o cinturão. Eu conheço o Cormier há muitos anos, desde quando ele nem pensava em treinar MMA, só fazia o Wrestling. Eu treinei muitas vezes com ele e me ajudou bastante, e ele surpreendeu muita gente. É um cara duríssimo. Ele nocauteou o Stipe Miocic muito bem e eu não esperava aquilo, na verdade, acho que ninguém esperava. Realmente ele tem uma pancada de peso-pesado. Mas tem que ver como ele vai manter o cinturão ou se ele vai se aposentar antes. O Jon Jones está aí de novo querendo o cinturão do Daniel Cormier. Na minha opinião, o Jon Jones é um peso-pesado, mas que baixa de categoria. Ele tem minha altura (1,93m) e pesa entre 105kg e 110kg quando está fora de competição. Então quando ele subir, vai realmente incomodar o Cormier, com certeza. Ou se o Cormier não se aposentar antes, né. Ele já fez o que tinha que fazer, e como ele está ganhando muito bem comentando, acho que seria a melhor opção se ele realmente estiver a fim de parar de lutar”, encerrou o brasileiro.