Treinador de Sakai avalia ‘aprendizados’ após revés para Overeem, mas elogia seu pupilo: ‘Diamante que está sendo lapidado’
* Antes embalado por quatro vitórias consecutivas no UFC, Augusto Sakai conheceu sua primeira derrota na organização no dia 5 de setembro, quando foi derrotado por Alistair Overeem por nocaute técnico no quinto round na luta principal do UFC Fight Night 176. O brasileiro, que é considerado uma das grandes promessas na categoria peso-pesado, vai precisar refazer sua caminhada rumo à tão sonhada disputa de cinturão.
Relativamente novo para a categoria – tem 29 anos -, o curitibano é, atualmente, o décimo colocado no ranking da divisão e certamente tirou importantes lições do revés para o experiente Overeem. Quem garante isso é o seu treinador de Muay Thai, Nanderson Rosenau. Em entrevista à TATAME, o professor, que pratica artes marciais desde 1992 e já treinou ao lado de nomes como Anderson Silva e Katel Kubis, fez elogios ao seu pupilo e destacou que o resultado negativo contra o holandês vai trazer aprendizados para a carreira de Sakai.
“Considero que o Augusto Sakai mostrou que seu Muay Thai foi superior ao do Overeem, porém, avalio que Overeem conseguiu desenvolver uma boa estratégia de grade. Infelizmente, algumas situações culminaram para este desfecho, entre elas destaco a principal, que foi a lesão nas costelas no segundo round, entre outros fatores que agravaram a situação, como o tempo mais prolongado da luta, com previsão de cinco rounds. O aprendizado é sempre a melhor parte da experiência, seja ela exitosa ou não. Considero que muitas vezes aprendemos mais com um erro do que com um acerto inconsciente. O Sakai é um atleta que tem sede de aprender e sempre ouviu com atenção seus corners”, afirmou.
Confira a entrevista completa com o treinador Nanderson Rosenau:
– Como você avaliou o desempenho do Augusto Sakai nesse duelo contra o Overeem?
O Sakai é um atleta disciplinado e persistente, possui foco e sabe o que quer. Ele se dedicou muito nos treinos e estava preparado para esta luta, inclusive deixou isso bem claro nos três primeiros rounds. Considero que, apesar da derrota, o Sakai conseguiu mostrar para o mundo que é um lutador da melhor qualidade, comparo-o a um diamante que está sendo lapidado. O Overeem ganhou a luta por causa da sua respeitosa experiência, soube articular bem a estratégia e conseguiu desviar a atenção do Augusto Sakai para mudar o jogo, pois ele estava em desvantagem na trocação. Na minha opinião, o que definiu a luta foram as fraturas nas costelas, pois elas limitaram a respiração do Sakai e impediram que o resultado fosse outro.
– Na sua opinião, o que o Sakai e a equipe como um todo podem levar de aprendizado?
O Augusto Sakai teve nesta luta a oportunidade de enfrentar um ex-campeão mundial, o qual possui um currículo invejável na área da luta, isso por si só já é uma vitória. Considero que o Augusto Sakai mostrou que seu Muay Thai foi superior ao do Overeem, porém, avalio que Overeem conseguiu desenvolver uma boa estratégia de grade. Infelizmente, algumas situações culminaram para este desfecho, entre elas destaco a principal, que foi a lesão nas costelas no segundo round, entre outros fatores que agravaram a situação, como o tempo mais prolongado da luta, com previsão de cinco rounds.
O aprendizado é sempre a melhor parte da experiência, seja ela exitosa ou não. Considero que muitas vezes aprendemos mais com um erro do que com um acerto inconsciente. O Sakai é um atleta que tem sede de aprender e sempre ouviu com atenção seus córners. Nesta luta houveram algumas distrações quanto a execução do que os córners orientavam, que era para não ficar na grade e apostar na trocação em pé, contudo, considero que foi apenas uma desatenção momentânea que decorreu de diversos fatores, pois somente o próprio lutador tem a dimensão do que é lutar no octógono. Minha sugestão é que o Sakai retome o sangue frio que advém da sua típica calma oriental, articulada à sua atenção, foco e inteligência de sempre.
– A partir de agora, qual é a programação e os planos para o Sakai dentro da divisão dos pesados?
Minha sugestão é que o Sakai incorpore diariamente a execução de treinos específicos de MMA, diversificando um pouco mais as artes marciais, pois intensidade de preparação física ele já possui. O que precisamos agora é diariamente lapidar nosso diamante com mais estratégias de luta. Considero que é preciso pensar e agir racionalmente. O UFC é um evento que oportuniza a demonstração prática das estratégias de uma guerra, vence o mais perspicaz, não é só uma força bruta desferida de forma passional, tem muita racionalidade envolvida. Ainda não conversamos sobre a luta, nestas duas primeiras semanas após a luta o Sakai está em período de recuperação das lesões. Planejamos reunir a equipe para avaliar a luta com o Overeem quando completar uns 30 dias, pois precisamos de tempo para aperfeiçoarmos nosso olhar. O distanciamento emocional e pessoal é necessário para analisarmos com imparcialidade e construirmos um planejamento estratégico que garanta ao Sakai seu cinturão de campeão dos pesos pesados.
– Como é sua rotina como professor no dia a dia e como você avalia seu trabalho?
Faço muitas coisas ao mesmo tempo e acredito que em sua maioria são com muita qualidade. Sou da opinião de que se for para treinar fraco, nem venha, porque para alcançar a excelência é preciso muita disposição e resiliência, não dá para ser amador. Por isso trabalho com planejamento a longo prazo e programas bem elaborados dentro do Muay Thai e suas adaptações para o MMA. Um dos muitos desafios de um treinador é que ele é desafiado e testado por seus alunos o tempo todo. É um longo caminho até o aluno realmente te ouvir, às vezes eles esquecem de fazer isso, mas nós, professores, estamos aqui para sempre ensinar de novo, quantas vezes for preciso.
Minha rotina de trabalho é intensa. Sempre me dizem que consigo trabalhar muito mais que a média das pessoas. Inicio minha jornada diária às 6h e a encerro às 22h. Durante o dia atuo como professor de Educação Física na rede estadual e municipal de ensino e à noite me dedico aos treinos específicos com os lutadores. Aliás, quero destacar que ser professor de escola me oportuniza descobrir jovens talentos. Tenho contato com os garotos no início de sua adolescência e, com isso, consigo iniciá-los bem cedo nos treinos de Muay Thai. Considero que além da descoberta de alguns atletas, é um trabalho social importante, pois o mundo do esporte contribui para a formação de homens responsáveis e de respeito. O próprio Augusto Sakai é um desses garotos que conheci através da escola. Ele começou a treinar Muay Thai comigo em 2005, quando tinha apenas 14 anos, e hoje é uma grande realização para mim ver seu sucesso e garra. O vínculo com esses garotos é tão intenso, desde cedo, que me considero um pouco pai deles, porque ser pai é mais do que uma ligação de sangue, é a convivência e a participação em suas vidas. E para mim é uma grande realização profissional ser um professor e treinador que contribui para seus alunos realizarem os seu sonhos. É como se diz: “um sonho que se sonha só, é só um sonho que se sonha só, mas um sonho que se sonha junto é realidade“. Gosto de comparar a minha profissão de professor e treinador de Muay Thai como se fosse uma “escada”, a escada que torna possível transformar pequenos garotos em grandes homens. Vencedores.
* Por Mateus Machado