Vozes no Tatame: conheça a campanha que vem revelando casos de assédio contra mulheres nas artes marciais

Vozes no Tatame: conheça a campanha que vem revelando casos de assédio contra mulheres nas artes marciais

Por Samanta Fonseca

Como alguns sabem, eu sou colunista do BJJ Girls Mag, um portal de Jiu-Jitsu para mulheres, e vira e mexe recebo relatos de meninas e mulheres que sofreram abusos físicos e psicológicos, sejam de professor, alunos e outros.

Há um tempo fui procurada por um jornalista do UOL para ajudar em uma reportagem sobre violência contra mulheres no esporte, e no meu caso, seria para falar dos que ocorrem no meio do Jiu-Jitsu.

Ele procurava mulheres que já tinham passado por isso para dar seu depoimento, e foi quando eu passei o contato de algumas. Boa parte delas, porém, não teve coragem de contar suas histórias, salvo uma: Megan Kirkby. Mas vou falar dela mais adiante. No dia 13/8 foi lançada a série “Vozes no Tatame”, onde os relatos dessas mulheres seriam publicados. Vale lembrar que esse é um assunto muito delicado, onde o jornalista deve ter todo o cuidado para tocar no assunto sem invadir o emocional da entrevistada. Já publicamos algumas matérias semelhantes, em que os nomes das moças foram trocados para preservar as identidades.

Normalmente quando eu recebo relatos de abuso no BJJ Girls Mag, são meninas que eu não conheço pessoalmente, mas o que não torna o relato menos importante. Mas e quando a pessoa abusada é alguém do seu convívio? A Megan treina Jiu-Jitsu na USP, onde meu namorado Igor Schneider (Tigrão) dá aulas. E já rolei com ela muitas vezes. É uma menina que tem muito talento, leva jeito para o Jiu-Jitsu, é forte, explosiva e muito técnica. Inclusive, já ouvi algumas vezes do professor dela: “Essa menina leva jeito”.

Eu fico indignada ao pensar em como ela podia estar longe, nas Olimpíadas, no Mundial de Jiu-Jitsu da IBJJF, não fosse o acontecido, o quão grande essa menina poderia ter sido, seja no Judô, no Jiu-Jitsu ou em qualquer outro esporte. Megan foi abusada sexualmente com 13 anos de idade. Foi seduzida, induzida e estuprada por seu técnico, cujo nome não é possível publicar, por questões judiciais. Sua mãe descobriu, e como toda mãe, fez um escândalo, e por vergonha, Megan desmentiu sua mãe, e por isso, seu agressor foi absolvido. Na época, ela ainda fez uma acusação formal e o processo foi acontecendo lentamente, mas ela não tinha provas suficientes e nem testemunhas para atestar a culpa do seu ex-professor.

De acordo com a matéria, o colegiado de juízes considerou que seu relato era impreciso e que ela não era vulnerável, condição para o crime de estupro de vulnerável. O professor foi absolvido em abril de 2018. Em maio, o processo transitou em julgado, afastando qualquer possibilidade de um novo recurso.

Ou seja, Megan passou por tudo isso, seu processo não deu em nada, seu professor não teve nenhuma punição e ela não pode sequer recorrer. E aí eu deixo a pergunta: o que é a justiça para a mulher no Brasil? A lei não dá conta, não dá recursos, não dá apoio. É triste demais. Ainda assim, acredito que valha a pena denunciar casos desse tipo. Não se calem, a justiça foi feita para nos proteger e quanto menos falamos, mais homens como esses crescem fazendo atrocidades como essa. DENUNCIE 180.

O UOL está levantando a tag: #QueroLutarEmPaz, para que mais denúncias sejam feitas. Ajude a divulgar!