Coluna da Arte suave: o dilema do professor sobre graduar ou não seu aluno no Jiu-Jitsu; leia e opine
Há pouco tempo, recebi um curto vídeo de um professor que, segundo ele, estava sendo processado por um aluno por não receber a faixa roxa. Fiquei pensando nisso e em um episódio que aconteceu aqui na minha academia.
Chegou o fim de ano. Tempo de entrega de faixas, a expectativa de ser graduado, passar para a próxima faixa, a consagração de receber a faixa preta do seu professor. Assunto delicado. Todo aluno aguarda por esse evento em sua academia. Apesar destes tempos de Covid-19, a dúvida se treina ou não, academias fechadas e muitos sem treinar por meses, esse é um assunto que gera especulações internas, alegrias e discórdias.
É impossível agradar às expectativas gerais. John Kennedy em seu discurso já dizia: “nunca encontrei a receita do sucesso, mas a do fracasso é querer agradar a todos”. Na visão de alunos, você sempre terá as duas vertentes, após cada entrega de faixas. Para alguns, você terá graduado precocemente certos alunos e para outros segurou a faixa demais.
Como professores, temos o dever de ser o mais justo possível, observar os treinos de todos os alunos, seu comportamento no dojô e, principalmente, com os menos graduados. E essa avaliação deve ser feita sem ser afetado pelo lado pessoal. Você pode ter alunos que não comungam com suas opiniões sobre outros assuntos extra tatame, como política,por exemplo. Mas dentro do dojô, o importante é ser um bom aluno.
A graduação é uma questão que tem muitos parâmetros a serem analisados em cada aluno, particularmente. Como professores, temos de ficar atentos para sempre mantermos incentivados os alunos a evoluírem o seu Jiu-Jitsu, corrigir seus pontos fracos e sinalizar o que deve mudar. Muitas vezes, o incentivo é mais importante que a repreensão.
O incentivo já, logicamente, aponta o caminho correto. Conscientizar o aluno/atleta no que deve mudar e procurar sua evolução. Eu acredito que a graduação deve ser sempre um reconhecimento de mérito pessoal do atleta. Ele conquistou a faixa, e sua conquista deve refletir como exemplo e estímulo para todos da equipe.
Como professor, eu já percebi lutadores discordando de não serem graduados ou por discordarem de graduações de outros lutadores. Mas como professor, sei que é um fato normal mais do que esperado. Creio que o melhor caminho é realizar sua avaliação com critérios justos, muita observação e troca de opiniões com outros faixas preta de sua academia, para esclarecer qualquer dúvida sobre algum aluno que esteja sendo avaliado.
O aluno tem que ter confiança em seu professor. Sei que a esperança unida à vontade são combustíveis para sonhar com a graduação. Mas se a graduação não acontecer, não há motivo para desistir. Por outro lado, quantos “sumidos” voltam perto da época da graduação para as suas academias e acham que o professor não percebe. Eu já vivenciei aqui na minha academia um aluno que pagava a mensalidade, mas nunca vinha treinar, sempre com desculpas para faltar aos treinos. No mês seguinte, não recebi mais sua mensalidade, a não ser que viesse realmente treinar, e lhe disse que naquele ano ele não seria graduado. O aluno paga a mensalidade para treinar, e não para se graduar. Eu não cobro pela graduação.
Esse aluno saiu da academia dizendo que estava decepcionado comigo. Ele não entendeu que ele não estava comprando a faixa por prestações. Talvez achasse que pagando a mensalidade, estivesse me dando a “obrigação” de ser graduado. A graduação deve ser vista como uma consequência, e não como o fim. É legítimo desejar a faixa preta, ou a próxima faixa acima, mas creio que as faixas não devem ser vistas como o objetivo principal. Treinar Jiu-Jitsu é um aprendizado constante, um exercício de corpo e mente.
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* Por Luiz Dias