Coluna Treinamento Desportivo: como tratar ou prevenir a ansiedade e depressão com artes marciais
Artigo trata sobre trabalho aliado entre a fisioterapia e treinadores no Jiu-Jitsu (Foto: IBJJF)
A ansiedade é definida como o medo exagerado sobre os eventos futuros. Já a depressão é uma intensa tristeza acompanhada do desinteresse em realizar atividades que antes eram prazerosas e, em casos severos, pode diminuir a vontade de viver. A depressão é o transtorno mental que mais acomete no mundo, sendo mais de 300 milhões de pessoas, sendo crianças, adultos e idosos de ambos os sexos (GÁL et al., 2019).
Geralmente, as mulheres tendem a ter níveis mais elevados dessa psicopatologia e espera-se que o número de diagnósticos e a venda de remédios aumentem com o passar dos anos. Tais dados são preocupantes, porque essa psicopatologia causa insônia, diminui o bem-estar e a qualidade de vida (ZILCHA-MANO et al., 2014). O seu tratamento é orientado pelo psiquiatra com auxílio medicamentoso e do psicólogo, porém, profissionais de educação física apresentam grande suporte e relevância por se tratar de profissionais promotores de saúde e bem estar.
Os medicamentos têm o efeito de estimular a produção (concentração) de serotonina no sistema nervoso central (cérebro) (FITZGERALD, BRONSTEIN, 2013). Esse neurotransmissor é responsável em equilibrar o humor, melhorar a qualidade do sono, regular o apetite, entre outras funções. Sabemos que o exercício físico tem o efeito de aumentar a produção de serotonina no cérebro (ZIMMER et al., 2016), (chamamos de efeitos não farmacológicos), ou seja, o exercício físico pode potencializar o efeito do medicamento e até mesmo prevenir a doença.
As lutas, artes marciais e modalidades esportivas de combate são uma das manifestações do exercício físico (WAŞIK; WÓJCIK, 2017). De forma adequada e adaptada, pode ser praticada por crianças, adultos e idosos de ambos os sexos (DUARTE et al., 2021). Os esportes de combate são separados por três categorias 1) Strike: modalidades com golpes traumáticos (socos, chutes, cotoveladas e joelhadas), incluindo o Kickboxing, Boxe, Taekwondo, Muay Thai e Caratê; 2) Grappling: modalidades de submissões (quedas e torções), incluindo o Judô, Sumô, Sambo e o Jiu-Jitsu e 3) Mistas: contém as duas características, incluindo as Artes Marciais Mistas (MMA) (DRURY, LEHMAN, RAYAN 2017).
Estudos realizados ao redor do mundo demonstram efeitos positivos da prática das lutas e das modalidades esportivas de combate (Taekwondo, Jiu-Jitsu e Kickboxing) no estado do humor (DUARTE et al., 2020; YANG, KO, ROH, 2018). Até mesmo uma única sessão dinâmica de treinamento já apresenta efeitos positivos (TOSKOVIC, 2001). Esses benefícios são observados em crianças e adultos, independentemente da idade que inicie a prática. É evidente que a prática regular das lutas também melhora a aptidão física, autoestima, diminui os pensamentos negativos e o medo (KOTARSKAet al., 2019). Outro estudo, mostrou que uma semana de privação da prática do Karatê entre praticantes avançados (faixas marrons e pretas) de ambos os sexos foi o suficiente para gerar graves perturbações do humor (SZABO, PARKIN, 2001).
Por sua vez, as lutas produzem o Fator Neurotrófico Derivado do Cérebro (BDNF) (OZTASYONA, 2017), uma proteína produzida no cérebro que melhora a manutenção da sobrevivência das células nervosas, melhora a qualidade sináptica e aumenta a produção de serotonina (HAN et al., 2020). A baixa produção do BDNF está associada a comportamentos depressivos (HAN et al., 2020). No estudo pré-clínico de Kosari-Nasabet et. Al. (2018) demonstrou que a o traumatismo craniano leve reduz a produção do BDNF no cérebro (hipocampo). Nesse sentido, modalidades onde golpes traumáticos são inerentes (Kickboxing, Taekwondo, Boxe e Muay Thai) é importante tomar cuidado com a concussão cerebral, para não prejudicar a produção do BNDF vinda do treinamento.
Neste momento difícil de pandemia, é importante buscar algum tipo de exercício físico para a manutenção da saúde física e mental. O simples fato de sair da condição sedentária já é uma grande conquista. Portanto, ao praticar modalidades de lutas, sejam elas recreativas ou a nível competitivo, pode trazer efeitos adicionais à saúde. Sendo assim, somente os profissionais de educação física podem prescrever exercícios físicos. No contexto das lutas, os faixas pretas da modalidade e os que têm licença das federações podem, de maneira legal, ensinar a modalidade. Portanto, baseado em evidências, é importante que outros profissionais responsáveis na área da saúde também comecem a indicar a prática de artes marciais e modalidades esportivas de combate como forma alternativa no tratamento e na prevenção da ansiedade e depressão.
REFERÊNCIAS
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DRURY, B, T; LEHMAN, T, P.; RAYAN, G. Hand and wrist injuries in boxing and the martial arts.Hand clinics, v. 33, n. 1, p. 97-106, 2017.
DUARTE, J, D, R, S; RODRIGUES, H, H, N, P; CUNHA, M, G; DE MACEDO, A, F; SALINAS, J, A, R; CLAUDINO, T, X; PASA, C; FETT, W, C . R; FETT, C, A. Dietary intake in kickboxing fighters. Brazilian Journal of Development, v. 7, n. 4, p. 42409-42424, 2021.
DUARTE, J. D. R. S; PASA, C.; FERRAZ, A. F; FETT, C. A.COMPARAÇÃO DAS DIFERENTES PERCEPÇÕES DE ESTADOS DE HUMOR EM PRATICANTES DE LUTAS E NÃO PRATICANTES E SEU NÍVEL DE ATIVIDADE FÍSICA In: Congresso Internacional de Ciências da Saúde, 2, 2020, Ceará. Journal of Human Growth and Development. Ceará, 2020. p. 10.
FITZGERALD, K, T; BRONSTEIN, A, C. Selective serotonin reuptake inhibitor exposure. Topics in companion animal medicine, v. 28, n. 1, p. 13-17, 2013.
GÁL, Z; HUSE, R. J; GONDA, X; KUMAR, S; JUHASZ, G; BAGDY, G; PETSCHNER, P. Szorongás és depresszió – a vér-agy gát integritásának szerepe. Neuropsycho pharmacologia Hungarica, v. 21, n. 1, p. 19–25, 2019.
HAN, Z; WANG, Y; QI, L; WANG, J; WONG, J; CHEN, J; LUO,X; WANG, Q, M. Differential Association of Serum BDNF With Poststroke Depression and Poststroke Anxiety. Archives of physical medicine and rehabilitation, v. 101, n. 8, p. 1355-1366, 2020.
KOSARI-NASAB, M; SHOKOUHI, G; GHORBANIHAGHJO, A; ABBASI, M, M; SALARI, A. Hesperidin attenuates depression-related symptoms in mice with mild traumatic brain injury. Life sciences, v. 213, p. 198-205, 2018.
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TOSKOVIC, N. N. ALTERATIONS IN SELECTED MEASURES OF MOOD WITH A SINGLE BOUT OF DYNAMIC TAEKWONDO EXERCISE IN COLLEGE-AGE STUDENTS. Perceptual and Motor Skills, v. 92, p. 1031–1038, 2001.
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YANG, J. S.; KO, J. M.; ROH, H. T. Effects of regular Taekwondo exercise on mood changes in children from multicultural families in South Korea: a pilot study. Journal of Physical Therapy Science, v. 30, n. 4, p. 496–499, 2018.
ZILCHA-MANO, S; DINGER, U; MCCARTHY, K. S; BARRETT, M. S; Jacques P BARBER, J. P. Changes in well-being and quality of life in a randomized trial comparing dynamic psychotherapy and pharmacotherapy for major depressive disorder. Journal of Affective Disorders, v. 152–154, n. 1, p. 538–542, 2014.
ZIMMER, P; STRITT, C; BLOCH, W; SCHMIDT, F; HUBNER, S, T; BINNESBOBEL, S; SCHENK, A; OBERSTE, M. The effects of different aerobic exercise intensities on serum serotonin concentrations and their association with Strooptask performance: a randomized controlled trial. European journal of applied physiology, v. 116, n. 10, p. 2025-2034, 2016.
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