Destaque em premiações no Jiu-Jitsu feminino, Bia Basílio cita ‘trabalho árduo’ e aponta: ‘Sou exceção em certas partes’

Destaque em premiações no Jiu-Jitsu feminino, Bia Basílio cita ‘trabalho árduo’ e aponta: ‘Sou exceção em certas partes’

* Consolidando o seu espaço com muito suor e dedicação, Bia Basílio se tornou uma das principais lutadoras de Jiu-Jitsu da atualidade, com títulos importantes em 2019. Neste ano, a jovem faixa-preta da Almeida JJ venceu o ADCC, Brasileiro, World Pro e duas superlutas no BJJ Stars, entre outras conquistas, que lhe renderam uma quantia considerável só em premiação.

Oriunda de um projeto social, Bia nasceu na Zona Leste de São Paulo e tem sua história entrelaçada com o esporte. Após fazer rifas e contar apoios pontuais para lutar fora do Brasil, a faixa-preta da Almeida JJ foi subindo degraus na arte suave e, atualmente, é uma das principais mulheres na modalidade aos 23 anos.

  • LEIA A REVISTA COMPLETA, AQUI

Em entrevista à TATAME, Bianca revelou que, em certos momentos, se sente uma “exceção” em meio ao universo feminino dentro de um Jiu-Jitsu profissional, mas entende que seus prêmios são frutos do trabalho.

“Eu me considero uma exceção em determinadas partes, porém tenho certeza que com dedicação e disciplina é capaz de se viver apenas do Jiu-Jitsu. Sem isso, é impossível, porque para você alcançar coisas grandes, você precisa ser dedicado. Qualquer mulher pode chegar ao patamar que eu cheguei ou que outras lutadoras chegaram”, disse Bia, que seguiu falando sobre o crescimento do Jiu-Jitsu feminino.

“Eu vejo o crescimento do Jiu-Jitsu feminino muito acentuado. De uns anos para cá, as categorias encheram, a competitividade entre as mulheres aumentou. Acredito que em alguns anos vamos chegar em um nível muito legal e em breve estaremos iguais aos homens na quantidade. Vejo muitas meninas procurando o Jiu-Jitsu e hoje elas têm muitos espelhos. O que o homem é capaz de fazer, uma mulher também é”, destacou.

Patrocínios no Brasil

Encontrar patrocinadores no Brasil não é tarefa das mais fáceis, principalmente em uma modalidade que está longe da grande mídia. Mas segundo Bia Basílio, o atleta precisa ser esforçado, indo em busca de patrocinadores ou apoios sem ter o medo de levar um “não”. Ela ainda explicou a diferença de ambos.

“Patrocínios são difíceis para todos que buscam viver do esporte. O principal ponto é a sua dedicação. Com o seu trabalho duro, as portas vão se abrindo para você. Eu sempre busquei muitos os patrocínios, porque eles não vão cair no colo de ninguém. Eu sempre busquei até mesmo apoiadores que pudessem me ajudar a conquistar tais coisas. Eu sempre fiz currículo, me apresentei para as pessoas como eu sou, falava dos meus objetivos, treinos. Você tem que ter atitude de ir em busca dos seus sonhos”, afirmou, completando.

“O apoio não é sempre que você vai ter, às vezes, pode não ajudar com uma passagem, uma inscrição ou algo do tipo. Mas vai ajudar muito em determinados momentos. E o patrocínio é algo mais certo. Muitas pessoas procuram mais um patrocínio, algo mais concreto. No início de carreira, é bom se apegar aos apoios, porque fazem a diferença e dificilmente alguém vai querer patrocinar um faixa colorida, por exemplo. Quando eu era faixa-azul, não tinha patrocínio nenhum. Na faixa-roxa, eu comecei a ter uns apoios. E no início, acaba que muitas pessoas ajudam por dó ou algo do gênero, do que simplesmente pelo seu talento. Já ouvi muitas pessoas falarem para eu trabalhar em banco, que eu tinha que arrumar um emprego, mas sempre respondi que esse era o meu emprego. Eu sempre acreditei no meu trabalho”.

 

Ver essa foto no Instagram

 

Believe, I’m not just a dreamer, I’m a director ! ⚔️. . Acredite, Eu não sou apenas uma sonhadora. Eu sou uma realizadora! ?

Uma publicação compartilhada por BIANCA BASILIO (@biabasiliojj) em

Rentabilidade no Jiu-Jitsu

É possível viver apenas de patrocínios e competições no Jiu-Jitsu? Para Bia, isso já é uma realidade na arte suave, mas é preciso entender quais são os planos de vida de cada atleta. A faixa-preta afirmou que, dentro dos objetivos dela, precisa sim aplicar seminários e ministrar aulas na matriz da Almeida JJ, em São Paulo.

“A minha resposta é sim e não, depende do que eu quero para a minha vida. Se eu desejo ter o necessário, eu consigo pagar as contas, parcelar algumas coisas. Para alcançar objetivos maiores, preciso aplicar muitos seminários e aulas também. Hoje os patrocinadores e premiações ajudam muito. Na verdade, os patrocínios são a parte principal. As premiações, às vezes, não são valores grandes”, frisou a casca-grossa, apontando outras formas de ser bem-sucedido no Jiu-Jitsu, como árbitros, professores, empresários, etc.

“Existem várias maneiras de viver do Jiu-Jitsu, então, eu sempre acreditei que eu viveria do esporte. Isso é um desejo meu desde pequena. Eu sou um exemplo como atleta, mas tem faixa-preta que virou árbitro, líder de federação ou que possui a própria academia e, com muito trabalho, consegue ganhar dinheiro com isso”.

Mudanças para evolução

Analisando o cenário atual do Jiu-Jitsu, Bia acredita que ele ainda pode melhorar. A lutadora fez um paralelo com o Judô e afirmou que a arte suave é “diferente” e vem encontrando um profissionalismo no seu jeito.

“Comparando com o Judô, o Jiu-Jitsu é um esporte profissional, mas é diferente do Judô, que faz parte das Olimpíadas, onde os atletas conseguem patrocínios de bancos, por exemplo. Não podemos achar que o Judô é profissional de um jeito e o Jiu-Jitsu tem que seguir o mesmo modelo. O Jiu-Jitsu tem espaço para todos. Em um campeonato, você encontra um atleta que se dedica apenas para aquilo e um atleta que é um pai de família, tem um outro emprego e treina Jiu-Jitsu porque gosta. A arte suave é algo muito família. Você luta pela sua equipe e não só por você”, disse Bia, que não enxerga o “fechamento” entre companheiros de equipe – algo muito comum na arte suave – como um ponto negativo para o Jiu-Jitsu profissional.

“Sobre o fechamento de lutas, por exemplo, eu vejo as pessoas falando que as pessoas pagam para assistir e, às vezes, a luta não acontece. Olha, respeito a opinião de todos, mas acho que tem que fechar, sim. Se você treina com uma pessoa todos os dias, não tem porque os dois quererem provar nada para os outros”.

A respeito de evolução e melhora do cenário para homens e mulheres, em busca de igualdade, Bia acredita que isso passa, entre outros fatores, por uma mudança nas regras: “Acho que muitos campeonatos poderiam valer dinheiro e muito mais dinheiro do que eles (IBJJF) se propõem a dar em premiação. Para homens e mulheres teria que ser igual. Assim como os homens se dedicam, as mulheres também se dedicam muito. ‘Ah, mas são menos lutadoras’. Mas as que estão aí, se dedicam muito. A IBJJF dá um passo de cada vez. Teve melhorias, mas ainda tem muita coisa para evoluir. Regras, tempo de lutas e pontuação são tópicos que estão melhorando. Seria legal se tivesse premiação para outras faixas, mas o foco tem que ser na faixa-preta. Faixa colorida pode parar de treinar a qualquer momento. Eles (IBJJF) precisam dar uma atenção maior ao faixa-preta, porque vão estimular os menos graduados à chegarem no topo”.

* Por Yago Rédua