Artigo: a suplementação de Beta Alanina melhora o desempenho nos esportes de combate? Leia

Novo artigo fala sobre a Beta Alanina, que pode auxiliar no aumento de força e potência, entre outros fatores; veja os detalhes

Artigo: a suplementação de Beta Alanina melhora o desempenho nos esportes de combate? Leia

Novo artigo fala sobre a Beta Alanina, que pode auxiliar no aumento de força e potência (Foto: Reprodução)

A Beta Alanina é um aminoácido não essencial produzido no fígado, além de ser consumido em alimentos como carnes e aves (TREXLER et al., 2015). Ela pode ser ingerida também via suplementação (pó branco ou cápsula). A Beta Alanina está presente na fórmula de alguns suplementos pré-treino (BELLINGER; MINAHAN, 2016). A suplementação de Beta Alanina aumenta em até 80% a concentração de carnonisa no músculo (DERAVE et al., 2010).

A carnosina tem o efeito de aumentar a liberação de cálcio no renticulo sarcoplasmático (algo importante para a contração muscular) e tamponar (neutralizar) os ions H+ (DE SALLES PAINELLI et al., 2015). O aumento de ions H+ está associado a utilização do sistema energético glicolítico (em que há a produção de lactato) e a diminuição do PH sanguíneo (CASLIN et al., 2021). Os ions H+ podem competir com os íons cálcio pelo sítio de ligação à miosina, interferindo nos processos de contração muscular (FABIATO; FABIATO, 1978), assim, gerando fadiga periférica.

A suplementação de Beta Alanina em uma faixa de dosagem de 4 g/dia a 6 g/dia por pelo menos quatro semanas pode aumentar a concentração de carnosina no músculo (FERNÁNDEZ-LÁZARO et al., 2023). Ao aumentar a carnosina (tampão intramuscular), ela poderá retardar a fadiga muscular em exercícios de alta intensidade (ARTIOLI et al., 2010). Os esportes de combate, por natureza, são exercícios intermitentes de alta intensidade (VASCONCELOS et al., 2020).

Com a interrupção do seu uso, a carnosina pode se manter alta no músculo por até 3 semanas (FRANCHINI, 2014). Do ponto de vista fisiológico, os sistemas energéticos anaeróbios alático e lático são responsáveis pelas ações determinantes (ataques) nos esportes de combate (FRANCHINI, 2023), sendo a suplementação de beta alanina importante para aumentar o desempenho nesses esportes (LOPES-SILVA; FRANCHINI, 2021).

Estudos com testes específicos e genéricos em diversos países mostram efeitos positivos da suplementação de Beta Alanina em atletas de esportes de combate. Judocas altamente treinados suplementados com 6,4 g dia −1 de Beta Alanina por 4 semanas tiveram uma quantidade maior de quedas no Special Judo Fitness Test (um teste específico do Judô) em comparação ao placebo (dextrose, mesma dosagem) (DE ANDRADE KRATZ et al., 2017).

Outro estudo com boxeadores experientes suplementados 8; 1,5 g divido em 4 doses por dia, durante 4 semanas, foi analisado o desempenho dos socos (3 rodadas de 3 minutos com 1 minutos de descanso) no saco de pancada antes e após a suplementação. Como resultado, foi observado aumento na força e na quantidade de socos após a suplementação (DONOVAN et al., 2012).

Um estudo com praticantes de Jiu-Jitsu (n = 21) e Judô (n = 19) suplementados com beta alanina (6,4 g dia −1 por 28 dias) com a adição de bicarbonato de sódio (500 mg kg dia −1 por 7 dias) e os mesmos suplementos com a adição de placebo (dextrose ou carbonato de cálcio) (TOBIAS et al., 2013). Foram analisados quanto ao teste de Wingate para a parte superior do corpo (teste com ciclo ergômetro para medir a capacidade anaeróbia).

Foram pedaladas com duração de 30 segundos na máxima intensidade com 3 minutos de descanso entre cada série. O teste foi realizado antes e após a suplementação. Um conjunto de 24 sensores mediu a velocidade da roda, com a potência sendo calculada automaticamente a cada segundo por um software de computador. Como resultado, a Beta Alanina aumentou em 7% o desempenho e o bicarbonato de sódio 8%, a co-ingestão dos dois suplementos se deu a um efeito aditivo (melhora de 14%) (TOBIAS et al., 2013).

Kern e Robinson (2011) analisaram o efeito de 4 g dia−1 por 8 semanas de Beta Alanina em lutadores de luta olímpica no tempo de sprint em 274,32 metros. Foram observados diminuição no tempo de sprint nos suplementados com Beta Alanina em comparação ao placebo. Um outro aspecto importante de elencar é o aumento da produção de lactato dos lutadores suplementados (DE ANDRADE KRATZ et al., 2017; DONOVAN et al., 2012; TOBIAS et al., 2013).

Isso muito provavelmente se deve pelo fato da carnosina neutralizar o agente causador de fadiga do sistema anaeróbio lático (ions H+), fazendo com que se consiga suportar atividades em altas intensidades. Nesse sentido, aparenta não ser um suplemento interessante para exercício que não há acúmulo de metabolitos (como os exercícios aeróbios).

A Beta Alanina pode auxiliar no aumento de força e potência (MATÉ-MUÑOZ et al., 2018) e melhorar o desempenho em exercícios intermitentes de alta intensidade (TOBIAS et al., 2013). Isso é interessante para os lutadores porque é necessário o treinamento complementar de força para melhorar a potência e força dos golpes e prevenir lesões (DA SILVA SANTOS; FRANCHINI, 2021; MAGNANI BRANCO; FRANCHINI, 2021).

E para o condicionamento físico, o exercício intermitente de alta intensidade (HIIT) é o método mais recomendado para lutadores (RUDDOCK et al., 2021; FRANCHINI, 2021; FRANCHINI, 2020). No meio esportivo profissional, a Beta Alanina é utilizada por 60% dos atletas australianos (KELLY et al., 2013).

Um efeito indesejável da Beta Alanina é a parestesia, que é uma sensação de formigamento na pele (BELLINGER; MINAHAN, 2016). É um efeito não prejudicial, sendo que quanto maior a sua dose, maior é a sensação de parestesia (MAESTRE-HERNÁNDEZ et al., 2023). Segundo Décombaz et al (2012) doses superiores a 800 mg podem ocasionar parestesia. Geralmente acontece após 30 minutos do seu consumo, estando relacionado ao nível elevado de Beta Alanina na corrente sanguínea (HARRIS et al., 2006).

Apesar de algumas pessoas acharem que esse formigamento está relacionado a melhoria de desempenho, nenhuma evidência científica aponta isso (BELLINGER; MINAHAN, 2016). Uma estratégia para prevenir a parestesia é a divisão em até 4 doses diárias de sua dose recomendada (DONOVAN et al., 2012). E esses sintomas não são observados quando a Beta Alanina é fornecida em comprimidos de liberação lenta/controlada (DÉCOMBAZ et al., 2012).

Futuros estudos com gravações analisando a associação da Beta Alanina com aspectos técnicos e táticos são necessários com o Kickboxing, Kung Fu, Muay Thai, Taekwondo, entre outras modalidades. Esse tipo de estudo poderá auxiliar nutricionistas esportivos, atletas, técnicos e preparadores físicos a alcançarem melhores performances dos atletas. Para mais informações sobre a Beta Alanina, recomendamos a consulta no nutricionista.

artigo 1Jonatas Deivyson Reis da Silva Duarte

Profissional de Educação Física – Bacharelado

Mestre em Ciências da Saúde pela Faculdade de Medicina

Ambas pela Universidade Federal de Mato Grosso

Especialista em Docência no Ensino Superior pelo Centro Universitário Leonardo da Vinci.

Possui experiência em pesquisas com psicologia do esporte, pedagogia do esporte e nutrição com o kickboxing, além de experiência como atleta amador de kickboxing.

Researchgate: ttps://www.researchgate.net/profile/Jonatas-Duarte-2

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/1715413441907784

E-mail: [email protected]

artigo 2Marcos Natanael Silva de Andrade

Profissional de Educação Física – Licenciatura plena pela Universidade Federal de Mato Grosso.

Especialista em fisiologia do exercício pela Universidade Gama Filho

Vice-presidente da federação mato-grossense de boxe

Currículo Lattes: http://lattes.cnpq.br/5414900118485451

E-mail: [email protected]

 

Referências

ARTIOLI, Guilherme Giannini et al. Role of beta-alanine supplementation on muscle carnosine and exercise performance. Med Sci Sports Exerc, v. 42, n. 6, p. 1162-73, 2010.

BELLINGER, Phillip M.; MINAHAN, Clare L. Performance effects of acute β-alanine induced paresthesia in competitive cyclists. European journal of sport science, v. 16, n. 1, p. 88-95, 2016.

CASLIN, Heather L. et al. Lactate is a metabolic mediator that shapes immune cell fate and function. Frontiers in Physiology, v. 12, p. 1-14, 2021.

DA SILVA SANTOS, Jonatas Ferreira; FRANCHINI, Emerson. Developing muscle power for combat sports athletes. Revista de Artes Marciales Asiáticas, v. 16, n. 1s. p.133-173, 2021.

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DE SALLES PAINELLI, Vitor et al. Metabolismo de carnosina, suplementação de β-alanina e desempenho físico: uma atualização-PARTE I. RBNE-Revista Brasileira de Nutrição Esportiva, v. 9, n. 52, p. 361-378, 2015.

DÉCOMBAZ, Jacques et al. Effect of slow-release β-alanine tablets on absorption kinetics and paresthesia. Amino acids, v. 43, p. 67-76, 2012.

DERAVE, Wim et al. Muscle carnosine metabolism and β-alanine supplementation in relation to exercise and training. Sports medicine, v. 40, n. 3, p. 247-263, 2010.

DONOVAN, Tim et al. β-alanine improves punch force and frequency in amateur boxers during a simulated contest. International journal of sport nutrition and exercise metabolism, v. 22, n. 5, p. 331-337, 2012.

FABIATO, Alexandre; FABIATO, Francois. Effects of pH on the myofilaments and the sarcoplasmic reticulum of skinned cells from cardiace and skeletal muscles. The Journal of physiology, v. 276, n. 1, p. 233-255, 1978.

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FRANCHINI, Emerson. Energy system contributions during Olympic combat sports: a narrative review. Metabolites, v. 13, n. 2, p. 1-12, 2023.

FRANCHINI, Emerson. Fisiologia do exercício intermitente de alta intensidade. 1. Ed. São Paulo. Phorte Editora, 2014.

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MAGNANI BRANCO, Braulio Henrique; FRANCHINI, Emerson. Developing maximal strength for combat sports athletes. Revista de Artes Marciales Asiáticas, v. 16, n. 1s, p. 86-132, 2021.

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TREXLER, Eric T. et al. International society of sports nutrition position stand: Beta-Alanine. Journal of the International Society of Sports Nutrition, v. 12, p. 1-14, 2015.

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