Coluna da Arte Suave: a questão do respeito e harmonia entre alunos e professores no Jiu-Jitsu

Coluna da Arte Suave: a questão do respeito e harmonia entre alunos e professores no Jiu-Jitsu

Por Luiz Dias

Nem sempre as relações entre professor e aluno são harmoniosas, como também entre os próprios alunos e amigos durante os treinos e até fora deles. Treinar com amigos sempre é bom, um treino duro, competitivo, mas a amizade e respeito sempre deverá prevalecer. Cada um sabe do momento particular que atravessa, então devemos respeitar nossos amigos de treinos. Uma atitude, uma palavra ou um gesto pode desencadear um processo de desentendimento que nem sempre se consegue reverter a situação e chegar a um bom entendimento.

Creio que tem que existir um respeito mútuo entre professor e aluno, dentro e fora dos tatames, como também entre todos os alunos entre si e a nível do grupo. Tudo existe um limite, uma fronteira que não se pode ultrapassar. O respeito e a compreensão devem ser mútuos. Se essa amizade vem primeiro da vida particular para os tatames, ou saiu dos tatames para a amizade particular, nenhuma dessas vias dá o direito de um ou do outro de passar certos limites e certas brincadeiras. Ter respeito não deve ser medido pela faixa, se o lutador compete ou não, mas por educação.

O respeito aos mais graduados é importante, como também dos mais graduados aos menos graduados. Não podemos esquecer que todo faixa preta teve seu início na faixa branca. O faixa preta foi um faixa branca que não desistiu. O professor não é proprietário dos alunos, nem o aluno pode deixar de entender que ali no dojô ele é mais um aluno que está aprendendo uma técnica ensinada por um professor, mesmo que esse professor seja um amigo de fora dos tatames de longa data.

Já presenciei, em treinos, professores que, no meu ponto de vista, ultrapassaram o limite da relação entre ele e o aluno, como já escutei casos de alunos quererem confrontar seus professores. Esses fatos não são bons, desestruturam o ambiente da academia, e deve-se respeitar a todos, independentemente das faixas e sexo. Muitas vezes, esses limites não ficam bem claros, e surgem aborrecimentos, situações difíceis de serem contornadas.

No meu dojô, já vivenciei certas situações desnecessárias de terem acontecido. O dojô é uma sala de aula, aliás, o termo “dojô” significa local para se seguir o caminho. Esse termo foi inspirado do Budismo e eu repito isso sempre para que meus alunos percebam a importância do local onde pisam e como exige um respeito enquanto estiverem pisando nesse local sagrado.

É preciso estar sempre com o quimono arrumado e limpo, com a postura correta, conduta correta e expressões corretas. Atitudes desrespeitosas e comentários indiscretos não podem acontecer. Os atletas, muitas vezes, se esquecem que podem ter mulheres treinando e não precisam escutar certas coisas, ou melhor, ninguém precisa escutar certas coisas e observações.

Uma vez, chamando atenção de um aluno novo que perdeu a noção do bom senso e fez um comentário infeliz durante a aula, eu lhe perguntei: “Se fosse sua irmã ou filha, tudo certo para você que ela escutasse isso?”. Ele ficou calado. Educação é fundamental, e isso inclui o cuidado com a higiene própria e do seu próprio quimono. Quimono sujo não dá mais “Jiu-Jitsu” ao seu dono. Ser grosseiro também não. Não vejo ser sinônimo de casca-grossa lutador truculento. Treino duro não significa grosseria.

Treine sempre buscando a finalização, buscando a submissão do oponente. Nós, professores, temos que ter atenção e saber conduzir nosso dojô. Temos de ter uma conduta correta, como os alunos também têm de se portarem com uma conduta correta. O dojô exige o mesmo respeito de um ambiente em que normalmente nos preocupamos com a nossa postura, seja a nível profissional ou social.

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