Kyra Gracie prevê muitas academias ‘quebrando’ em meio à pandemia e opina sobre Jiu-Jitsu feminino: ‘Muito a melhorar’

Kyra Gracie prevê muitas academias ‘quebrando’ em meio à pandemia e opina sobre Jiu-Jitsu feminino: ‘Muito a melhorar’

* Pentacampeã mundial e considerada um dos maiores nomes da história do Jiu-Jitsu feminino, Kyra Gracie também vem sofrendo o impacto causado pela pandemia global do novo coronavírus (Covid-19). Responsável por liderar a academia Gracie Kore, no Rio de Janeiro, a faixa-preta precisou fechar seu estabelecimento por conta das medidas de restrição adotadas pelas autoridades, que recomendam à população ficar em casa e só sair em casos de extrema necessidade.

Diante do novo cenário, Kyra passou a reforçar o esquema das aulas online através das suas redes sociais e também nas mídias da Gracie Kore. No entanto, em entrevista à TATAME através de uma live no Instagram, a multicampeã analisou todo o contexto provocado pela crise sanitária e destacou que muitas academias serão duramente afetadas pela pandemia, podendo, inclusive, fechar as portas.

“Eu acho que muitas academias de Jiu-Jitsu vão quebrar, principalmente as que trabalham de maneira amadora. Tem muita gente que ainda trabalha com pagamento mensal, que paga em dinheiro, em cheque… Ou que não tem um sistema de cobrança e uma organização desse lado. Acaba que você fica vulnerável quando algo desse tipo acontece. Eu vejo muitas campanhas, o Jiu-Jitsu não é uma academia de malhação que você malha e vai embora. Tem uma proximidade dos professores com os alunos, uma amizade que se cria. Então, você tem um suporte dos alunos para conseguir manter os custos do negócio para não quebrar. Não sabemos quanto tempo isso (pandemia) vai demorar, mas é importante estar preparado”, avaliou.

Com uma história vitoriosa na arte suave, Kyra Gracie se tornou, ao longo dos anos, uma das grandes “vozes” do Jiu-Jitsu feminino, sempre procurando defender o direito delas esporte. Ao ser questionada sobre a evolução da prática da modalidade entre as mulheres, Kyra celebrou o crescimento e algumas melhorias, mas ressaltou que muito ainda precisa ser feito para que o Jiu-Jitsu feminino atinja o nível satisfatório.

“Eu sempre tive como missão trazer mais mulheres para o Jiu-Jitsu, principalmente, porque eu me sentia muito sozinha. Eu era a única mulher ali dentro e não entendia o motivo de outras mulheres não praticarem. Hoje, como professora, eu entendo esse motivo, a mentalidade é muito machista – ainda existe isso. Nos campeonatos, nos colocavam para lutar de faixa-branca e faixa-azul, não desmerecendo os brancas e azuis, mas éramos a elite do Jiu-Jitsu. As mulheres não tinham vez nenhuma, ninguém sabia. Isso é muito ruim, porque a partir do momento que você exclui e não dá a oportunidade para o público conhecer esse trabalho, eles (público) nunca vão gostar ou acompanhar quem são as campeãs. Depois que eu ganhei o meu primeiro Mundial, falei com a federação (IBJJF) e reivindiquei certas coisas, eles colocaram as finais femininas no mesmo dia que as do masculino (faixa-preta)”, relembrou Kyra, completando:

“O Jiu-Jitsu feminino tem crescido, várias mulheres fazem parte desta história. Reunimos e reivindicamos, mas ainda tem muito para melhorar. Não podemos ficar quietas. Quem tem voz, tem que falar. Temos que mostrar o benefício do Jiu-Jitsu feminino. (…) Eu quero essa igualdade, nada além disso. Busco uma visibilidade, porque sei o quanto é difícil ser atleta e ainda ser mulher. Quero que elas olhem para o Jiu-Jitsu e pensem: eu posso viver disso, posso ser atleta. Sim, você pode! Para isso, precisamos lutar muito agora”.

Confira abaixo o vídeo da entrevista completa com Kyra Gracie:

* Por Yago Rédua