Artigo: o desafio dos atletas de artes marciais em vencer o racismo; opine

Artigo: o desafio dos atletas de artes marciais em vencer o racismo; opine

* Antes de iniciar um tema de extrema importância, quero compartilhar uma experiência recente, da qual vai nos ajudar a entender o motivo o racismo estar latente em nosso dia a dia.

Ao receber o Caio (nome fictício), 8 anos, em um atendimento clínico, percebi que ele estava calado e com um semblante triste, perguntei o que tinha acontecido. Foi quando ele me disse que alguns meninos, ao sair da academia de artes marciais onde ele pratica o Judô, começaram fazer “piadinhas” sobre o seu cabelo, e que seria fácil ganhar dele na próxima luta, afinal, era só puxar com força o cabelo duro.

Naquele momento, eu pedi para o Caio aguardar na recepção, chamei a mãe para uma orientação em minha sala e expliquei o que estava acontecendo com seu filho. Pedi para que ela fosse até o professor de artes marciais e conversasse sobre o ocorrido. De preferência, que marcasse uma reunião com todos os envolvidos para que esse ato cruel não acontecesse novamente.  Então, podemos dizer através do estudo que o racismo ainda está no meio de nós, e para entender um pouco mais sobre, farei uma introdução.

Quando finalmente foi decretada a abolição da escravatura, não se realizaram projetos de assistência ou leis para a facilitação da inclusão dos negros à sociedade, fazendo com que eles continuassem a ser tratados como inferiores e tendo traços de sua cultura e religião marginalizados, criando danos aos afrodescendentes até os dias atuais. Mesmo com o reconhecimento da igualdade formal perante a lei, na prática, os negros não conseguiam facilmente as mesmas posições, principalmente no plano econômico.

Mesmo após a promulgação da Constituição de 1988, que considera o racismo como “crime inafiançável” e imprescritível, foi preciso o governo tomar medidas, a fim de reduzir as desigualdades sociais entre brancos e negros, tendo estabelecido um sistema de cotas para afrodescendentes.

Retomando o tema, muitos lutadores de artes marciais foram unânimes em dizer que o Brasil é um país preconceituoso por já terem sido vítimas de piadinhas referentes à sua cor, como no caso do lutador Jorge Blade, em um evento em comemoração ao Dia Internacional Contra a Discriminação Racial, onde ele afirma que infelizmente o preconceito existe. É disfarçado, mascarado, mas existe no caso do lutador Leandro Buscapé, onde ele complementa dizendo que: “A gente percebe o preconceito no olhar. É um preconceito hipócrita. As pessoas falam que não, mas rola sim. Não vou generalizar, mais ainda existe esse mal”.

Já em outros esportes, como no Futebol, que no início era considerado esporte de branco e rico, introduzido no Brasil pelos ingleses que aqui chegaram, não se admitia mulatos ou negros nos campos, e nas arquibancadas eram raridade. Pode soar estranho, mas até hoje ouvimos xingamentos como “macaco”. 

Por que é importante esse tema ser debatido nas academias de artes marciais? Para que não haja abandono por parte dos afrodescentes, como acontece nas escolas brasileiras, onde quase metade dos homens negros, de 19 e 24 anos, não concluíram o Ensino Médio, diz o IBGE. Entre mulheres negras, o índice chega a ser maior, de 33%. Para especialistas, abandono escolar tem raízes sociais.

Nota: em São Paulo, quase metade dos jovens negros, de 19 a 24 anos, não conseguiram concluir o Ensino Médio. De acordo com dados do IBGE, divulgados nesta semana, com relação a 2018, enquanto o índice de evasão escolar chega a ser de 44,2% entre homens, um recorte de gênero e raça, revela ainda que sobre as mulheres negras, da mesma faixa etária, o abandono escolar é uma realidade para 33% das jovens. 

Para finalizar esse tema importante, quero deixar um ensinamento da tia Edith, do lutador Anderson Silva.

“Ela sempre reforçou que somos todos iguais, independente de ser negro, branco, amarelo, roxo, de ser rico ou pobre. Quando você tem essa consciência, tem capacidade de lidar com certas situações. Por mais que elas acabem te deixando um pouco constrangido, por mais que elas te magoem, você aprende a lidar”.

Dicas de leitura:

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Quem sou eu? Mônica de Paula Silva, também conhecida como Monica Lambiasi, é graduada em Pedagogia desde 2004. Concursada pela Prefeitura de Embu Guaçu – SP, atua há 13 anos como psicopedagoga clínica, área na qual é pós-graduada desde 2006. Em 2008 concluiu pós-graduação em Didática Superior, e em 2009 concluiu pós-graduação em Educação Especial e Educação Inclusiva. Já em 2017 concluiu pós-graduação em neuropsicopedagoga, e atualmente estuda psicanálise e neurociência. Também é escritora.

Contatos: WhatsApp (11) 99763-1603 / Instagram @lambiazi03

* Por Mônica de Paula Silva